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    Europa

    Heidi Reichinnek: Quem é a jovem líder que desafia a extrema-direita na Alemanha?

    Representante do Die Linke mobilizou milhões contra a aliança CDU e AfD e se tornou símbolo da resistência antifascista. Entenda o impacto do seu discurso nas eleições alemãs.

    POR: Ana Prestes

    Discurso de Heidi Reichinnek contra a aliança CDU-AfD viralizou, alcançando 6,5 milhões de pessoas e impulsionando o crescimento do Die Linke, que ganhou 23 mil novos filiados. Seu impacto entre os jovens e nas redes sociais consolidou sua liderança progressista.
    Discurso de Heidi Reichinnek contra a aliança CDU-AfD viralizou, alcançando 6,5 milhões de pessoas e impulsionando o crescimento do Die Linke, que ganhou 23 mil novos filiados. Seu impacto entre os jovens e nas redes sociais consolidou sua liderança progressista. Foto: Martin Heinlein / DIE LINKE / Flickr

    Para quem acompanha minimamente o cenário político alemão, uma das questões mais intrigantes apresentadas nas recentes eleições parlamentares foi o surpreendente resultado obtido pelo partido Die Linke (A Esquerda). Em especial, porque o partido havia passado por um importante rompimento interno em 2023, impulsionado por divergências políticas e estratégicas acalentadas há anos. Por isso, surpreendeu uma votação que chegou a 8,8% dos votos, a conquista de 64 entre as 630 cadeiras do Bundestag (Parlamento) e a emergência de uma jovem líder: Heidi Reichinnek.

    Candidata e co-líder do partido, formada em Ciência Política e estudos sobre o Oriente Médio, Heidi se tornou a mais expressiva voz do partido em janeiro deste ano, justamente quando explodiu na Alemanha o rechaço a uma aliança feita pelo CDU (União Democrata Cristã) com o AfD (Alternativa para a Alemanha) na votação de uma lei sobre imigração. Friedrich Merz, então líder do CDU, partido da ex-chanceler Angela Merkel, e que obteve a maior votação nas eleições do último domingo 23 de fevereiro, realizou uma aliança com o partido neofascista e de extrema direita AfD para aprovação de um Plano Migratório de 5 pontos. Seu gesto, na prática, foi um rompimento de um cordão sanitário político estabelecido na Alemanha, desde o fim do nazismo, de isolamento da ultradireita.

    Nesta sexta-feira (28), às 14h, Ana Prestes analisa como a ascensão de Heidi nos ensina sobre a luta antifascista em todo o mundo. Assista na TV Grabois!

    A reação popular a esta aliança foi estrondosa e Heidi Reichinnek soube captar este sentimento e ser a porta-voz da indignação de milhões de alemães. Seu discurso de denúncia de Merz, por ter se unido à AfD para votar o plano migratório, alcançou mais de 6,5 milhões de pessoas. Sua principal conta nas redes, no tik tok, superou os 500 mil seguidores. Mais de 23 mil pessoas se filiaram ao partido desde janeiro, algo impensável nos últimos tempos e a votação da sigla passou em 3 pontos a cláusula de barreiras, que na Alemanha é de 5%, algo igualmente impensado. Os vídeos de Heidi superaram em visualizações os de Alicia Weidel, líder do AfD e que conduziu o partido neofascista aos 20% de votos para o parlamento.

    Heidi, com seus 36 anos, uma enorme Rosa Luxemburgo tatuada no braço, e um contundente discurso antifascista, se posicionou bem contra a desfaçatez de Merz de pactuar com a AfD. Mesmo que tenha sido em uma única votação, como podem argumentar alguns, não foi qualquer votação, pois a questão migratória é hoje uma das mais sensíveis na Europa e não foi diferente na eleição alemã. Heidi, como porta-voz de uma juventude indignada, conseguiu fazer com que a maioria dos jovens entre 18 e 24 anos votassem no Die Linke. No seu mais impactante e viralizado discurso no Bundestag, em uma alusão à canção espanhola antifascista dos anos 1930, A Las Barricadas, disse: A resistência deste país ainda somos nós. E todos nós iremos às ruas, todos iremos às urnas. Para as barricadas!

    Leia também: Fascismo contemporâneo cultua ignorância para se perpetuar

    No dia da apuração dos votos, uma das figuras que se via mais animada era Jan van Aken, presidente do Die Linke e um dos responsáveis, junto com Inês Schwerdtner, pela reestruturação do partido após a saída de Sahra Wagenknecht e nove parlamentares em 2023, para fundar o BSW (Bundnis Sahra Wagenknecht – Razão e Justiça). Jan é defensor de uma linguagem mais concisa e direta ao público. Em um discurso, durante o último Congresso do Die Linke, ele se apresentou aos delegados da seguinte forma: Me chamo Jan van Aken e creio que não deveria haver multimilionários.

    No programa do Die Linke aprovado neste Congresso, um dos pontos centrais é o tratamento dado à desigualdade econômica do país e a proposta de reduzir pela metade a riqueza dos multimilionários em dez anos, através de um imposto progressivo para as pessoas mais ricas. Com os recursos deste imposto, poderia haver investimentos na educação e transporte público, por exemplo, segundo a proposta. Este será um dos projetos encampados por Heidi Reichinnek, como líder da bancada do Die Linke no Bundestag no próximo período.

    Vamos acompanhar.

    Ana Prestes é pesquisadora do Observatório Internacional, Grupo de Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, e Secretária de Relações Internacionais do PCdoB. Todas as sextas-feiras, comanda o programa Conexão Sul Global, exibido pela TV Grabois.

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.

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