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    Planejamento Chinês: Da CCPPC ao Novo Plano Quinquenal

    O compromisso chinês com o desenvolvimento sustentável e tecnológico fortalece sua posição global e amplia oportunidades para o Brasil. Confira análise do presidente do Cebrac.

    POR: Euzébio Jorge Silveira de Sousa

    Na terça-feira (11), o presidente chinês, Xi Jinping, e outros líderes, participaram da reunião de encerramento da terceira sessão do 14º Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), realizada no Grande Palácio do Povo, em Beijing.
    Na terça-feira (11), o presidente chinês, Xi Jinping, e outros líderes, participaram da reunião de encerramento da terceira sessão do 14º Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), realizada no Grande Palácio do Povo, em Beijing. Foto: Xinhua/Yan Ya

    Em um mundo em franca transformação, a afirmação da unidade nacional, a defesa da paz e a reafirmação do projeto de desenvolvimento sustentável com características próprias da maior potência industrial do mundo têm grande relevância. A Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) desempenha um papel essencial nesse processo ao reunir lideranças políticas, empresariais e acadêmicas para discutir os rumos do país. As reuniões da CCPPC ocorrem em Pequim e contam com a participação de milhares de delegados da Assembleia Popular Nacional (APN), membros do Partido Comunista da China (PCC), empresários, acadêmicos e representantes de diversos setores da sociedade.

    Neste contexto, a reunião deste ano assumiu uma importância estratégica ao enfatizar que 2025 será o último ano do 14º Plano Quinquenal e servirá de preparação para o 15º Plano Quinquenal. O Centro de Estudos Avançados Brasil China (Cebrac) tem acompanhado de perto o planejamento chinês, analisando suas implicações para a economia global.

    Além disso, as escolhas e projetos da China têm grande importância para o Brasil. Primeiro, por ser nosso maior parceiro comercial, com um volume expressivo de exportações e importações que impactam diretamente a economia brasileira. Segundo, porque a trajetória de desenvolvimento chinês, que transformou o país de uma economia com PIB inferior ao do Brasil há algumas décadas para uma das maiores potências globais, serve de inspiração para o Sul Global na formulação de políticas industriais, tecnológicas e sociais capazes de impulsionar o crescimento sustentável e a redução das desigualdades. O Brasil, inclusive, já utilizou esse método de planejamento econômico estatal em sua própria trajetória de desenvolvimento, contribuindo estruturalmente para o crescimento da economia nacional.

    O Relatório de Trabalho do Governo é um dos documentos mais importantes apresentados anualmente na Assembleia Popular Nacional da China (APN). Ele estabelece um balanço do desempenho do governo no ano anterior e define as diretrizes políticas, econômicas e sociais para o ano seguinte. Em 2025, o relatório do primeiro-ministro da China, Li Qiang, enfatiza a solidez da economia chinesa, apesar dos desafios internos e externos, e estabelece metas ambiciosas para o desenvolvimento econômico e social. O documento também destaca o aprofundamento das reformas e a necessidade do fortalecimento da inovação tecnológica, além do compromisso contínuo com a modernização e o socialismo com características chinesas.

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    Entre os principais avanços de 2024, destacam-se o crescimento do PIB em 5%, totalizando 134,9 trilhões de yuans, e a criação de 12,56 milhões de empregos urbanos. A China produziu mais de 13 milhões de veículos elétricos, consolidando sua liderança na transição energética. No campo da inovação, houve avanços em inteligência artificial, computação quântica e exploração espacial, com destaque para a missão Chang’e-6. A sustentabilidade foi reforçada com a redução de 3% no consumo energético do PIB e a adição de 37 GW de energia renovável.

    Para 2025, as metas econômicas e sociais estabelecidas incluem um crescimento do PIB de aproximadamente 5%, a criação de 12 milhões de empregos urbanos, uma taxa de desemprego controlada em 5,5% e uma inflação em torno de 2%. Espera-se que o crescimento da renda da população acompanhe o desempenho econômico, garantindo um superávit no balanço de pagamentos. A produção agrícola deve ser sustentada, enquanto a intensidade energética do PIB deverá ser reduzida em 3%, promovendo melhorias contínuas na qualidade ambiental.

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    O governo delineou uma série de políticas para sustentar o crescimento e garantir a estabilidade econômica. Entre as medidas de estímulo, destaca-se uma política fiscal ativa, com um déficit orçamentário de 4% do PIB e a emissão de títulos especiais de longo prazo totalizando 1,3 trilhão de yuans para projetos estratégicos. O setor imobiliário receberá apoio por meio de financiamento e incentivos à moradia popular, enquanto pequenas e médias empresas terão redução de impostos e tarifas. Para estimular o consumo, um plano especial será implementado para aumentar a demanda interna, incluindo incentivos à renovação de bens de consumo e ao setor de serviços.

    Construção de complexo residencial sob um projeto de renovação urbana em Shanghai, no leste da China. Foto: Xinhua/Fang Zhe

    No campo da inovação e indústria, o governo reforçará o desenvolvimento da manufatura avançada, da inteligência artificial e da indústria de semicondutores, além de expandir setores estratégicos como aeroespacial, energia renovável e robótica. A economia digital será mais integrada à economia tradicional, ampliando a competitividade global da China. Em termos de segurança energética e sustentabilidade, estão previstas a expansão da capacidade de energia renovável, a reforma do mercado de carbono e a construção de novas infraestruturas para eficiência energética. A China reconheceu a transição para um novo paradigma tecnológico e tem investido fortemente em tecnologias disruptivas, como inteligência artificial, e em avanços incrementais, como baterias e veículos elétricos, consolidando-se como líder na transição ecológica e no desenvolvimento sustentável.

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    O setor financeiro passará por reformas para garantir maior estabilidade, fortalecendo a regulamentação do mercado de capitais e o controle da dívida pública. A China continuará expandindo sua abertura econômica, promovendo novos acordos comerciais, fortalecendo a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e buscando entrada no Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP). Para reforçar a segurança nacional, o orçamento de defesa aumentará 7,2%, com investimentos em defesa cibernética e inteligência artificial militar. No âmbito social, o governo planeja ampliar a cobertura da seguridade social e aposentadorias, expandir o sistema de saúde pública e promover reformas no sistema educacional, com ênfase no ensino técnico e superior. A economia da longevidade será fortalecida para oferecer maior suporte à população idosa.

    A transição entre o 14º e o 15º Plano Quinquenal reafirma o compromisso da China com o desenvolvimento sustentável e a modernização, consolidando sua posição como uma potência global. Em um cenário internacional de crescente instabilidade, impulsionado por medidas erráticas e beligerantes do novo presidente dos EUA, a China se destaca como um ator central na diplomacia mundial, promovendo estabilidade e cooperação. As reuniões da CCPPC, da Assembleia Popular Nacional (APN) e do Partido Comunista da China (PCC) refletem essa estratégia, orientando políticas que fortalecem a economia, a inovação e a infraestrutura global. O fortalecimento de parcerias internacionais é essencial para garantir um crescimento sustentável e uma ordem global baseada na cooperação estratégica.

    Euzébio Jorge Silveira de Sousa é presidente do Centro de Estudos Avançados Brasil China (Cebrac), assessor especial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), autor do livro Juventude, Trabalho e o Subdesenvolvimento e doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Unicamp. Atualmente, atua como professor de Economia na FESPSP e na Strong Business School, é membro da Cátedra Celso Furtado e possui pós-doutor em Economia Criativa e da Cultura pela UFRGS.

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.

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