O simpósio “Desafios brasileiros em direção ao novo ciclo de desenvolvimento soberano”, organizado pela Fundação Maurício Grabois, debateu, na última sexta-feira (21), a Geopolítica e o papel da China, do BRICS e do Sul Global. O tema foi abordado na oitava mesa do evento, que contou com a participação dos professores Elias Jabbour, Javier Vadell e Ana Prestes.
Essa mesa teve por objetivo discutir os desafios e oportunidades geopolíticas no atual cenário de transição para uma ordem multipolar, com foco no papel estratégico da China, do BRICS e das possibilidades de cooperação entre os países do Sul Global, especialmente para o Brasil e a América Latina.
Veja a íntegra do debate:
Presidente do Instituto Pereira Passos (IPP) e professor da UERJ, Elias Jabbour apontou que o Brasil vive uma grave desorientação estratégica e carece de um projeto nacional de desenvolvimento. Jabbour defendeu uma integração produtiva plena com a China, e não apenas comercial. Criticou também a lentidão do Brasil em aderir à Iniciativa Cinturão e Rota e destacou a necessidade de reconstrução das cadeias produtivas e industriais, desmanteladas por políticas como a Lava Jato. Jabbour também denunciou a visão ultrapassada de “equidistância” na diplomacia brasileira e o desinteresse da esquerda nacional por debates estratégicos sobre o papel da China e do BRICS.
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Javier Vadell afirmou que a multipolaridade já é uma realidade, mas ainda cercada por disputas de significado e estratégias distintas. Criticou a nostalgia supremacista que guia parte da política externa dos EUA e apontou a tentativa norte-americana de manter a periferização da América Latina. Em contraste, analisou a atuação chinesa como menos confrontativa e mais estratégica, buscando consolidar sua influência antes de confrontos diretos, mantendo por exemplo Taiwan “no freezer”. Para Vadell, há um embate entre dois projetos: uma multipolaridade colonial versus uma multipolaridade cosmopolita.
Secretária Nacional de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Prestes defendeu que o desenvolvimento chinês representa a retomada de uma trajetória histórica interrompida pelo colonialismo, conforme análise de Giovanni Arrighi. Para ela, a China emerge como o principal ator do Sul Global, com liderança baseada no multilateralismo, investimentos em infraestrutura e mediação de conflitos. Sua influência se expande por meio da Belt and Road Initiative, cooperação Sul-Sul e protagonismo em organismos internacionais, como OMC e OMS. Prestes caracterizou o BRICS como um bloco contra-hegemônico e destacou a importância do Novo Banco de Desenvolvimento na busca por autonomia frente ao dólar.
O debate teve coordenação de Nilton Vasconcelos e moderação de Diego Pautasso.
Nesta terça-feira (21), o Simpósio teve continuidade com a mesa “América Latina – os impasses do ciclo progressista e da integração regional” com a participação de Pedro Barros, Ricardo Abreu e Monica Hirst.
Em breve a íntegra de todos os debates estará disponível na TV Grabois.