Reformas Estruturais para um Projeto Nacional: o Desafio Estratégico – O PCdoB acaba de lançar os documentos preparatórios para seu 16º Congresso, que ocorrerá em outubro. As teses apresentadas vão além da conjuntura imediata e representam uma contribuição relevante ao debate estratégico das forças progressistas e de esquerda no Brasil. Também o PT, o PSB, o PSOL e outras organizações se debruçam sobre o desafio de formulações à altura dos desafios presentes.
Leia íntegra do Projeto de Resolução do 16º Congresso do PCdoB:Vitória do Brasil em 2026 – Mudanças para o desenvolvimento soberano
A Fundação Maurício Grabois se soma a esse esforço, impulsionando a reflexão sobre os rumos do país, seus vetores estruturantes e os bloqueios históricos a superar.
Um ponto central das teses é a compreensão de que os desafios brasileiros exigem abrir novo ciclo de desenvolvimento no país e não se resolvem apenas com vitórias eleitorais, mas com reformas estruturantes no ordenamento do Estado Nacional. Desde 2002, vencemos cinco das seis eleições presidenciais, mas não fomos capazes de remover os entraves estruturais, como mostra, aliás, o cerco institucional e político ao atual governo Lula.
Não é a primeira vez que o PCdoB traz essa preocupação. Já no 13º Congresso, em 2013, o partido apontava as reformas estruturais como eixo estratégico para inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento. Reconhecia-se, então, que o país havia atingido um novo patamar, com desafios inéditos que exigiam romper com as raízes da desigualdade e transformar a correlação de forças na sociedade.
Retrocesso político e a crise do ciclo progressista

Manifestantes com cartazes pedindo o impeachment de Dilma Rousseff e atacando partidos de esquerda, durante ato na Avenida Paulista em 16 de agosto de 2015. No plano principal, um cartaz com “Fora Comunisitas”. Foto: Thiago Mahrenholz / Flickr
A reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, foi rapidamente seguida por um cenário adverso: os impactos da crise internacional de 2008 chegaram com força ao Brasil, encerrou-se a janela do boom das commodities, e a extrema-direita começou a ganhar base social. A recessão de 2015, o impeachment da presidenta Dilma e o ciclo posterior de retrocessos aprofundaram a condição periférica e dependente do país, com fortes ataques à democracia e aos direitos sociais.
Nenhum dos governos progressistas desde 2002 contou com maioria parlamentar. Hoje, além disso, as forças progressistas tampouco detêm maioria social consolidada. Por isso, ao retomar o debate sobre reformas estruturais, é essencial refletir: o que mudou e por que agora seria diferente?
Uma lição central é que a ausência das reformas — e mesmo da disposição de travar essa disputa na sociedade — bloqueou o avanço do projeto progressista. A estratégia híbrida, especialmente no campo macroeconômico, impôs um teto às transformações, com limites que ainda hoje condicionam o governo Lula.
Paralelamente, a ordem neoliberal se cristalizou como política de Estado. Reformas regressivas, especialmente no plano econômico e institucional, foram inscritas na Constituição. Este é um dado estrutural da correlação de forças atual que não pode ser ignorado.
Nesse percurso, a esquerda perdeu, em parte, a conexão com o novo arco de aspirações da sociedade e não acompanhou as transformações sociológicas que marcaram os estratos mais amplos da classe trabalhadora.
Contudo, o mundo mudou. Apesar do avanço da extrema-direita, em especial no Ocidente em crise, e da agressividade reacionária das forças imperialistas, o cenário geopolítico abre novas possibilidades para países que buscam superar sua condição dependente. Nesse contexto, o Brasil precisa fazer escolhas estratégicas.
Por que retomar o debate sobre reformas estruturais
Recolocar a soberania nacional no centro da agenda é condição para um desenvolvimento autônomo. Isso exige uma estratégia clara, lideranças políticas coesas e força mobilizadora — sem as quais as mudanças estruturais seguirão bloqueadas.
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É com essa reflexão estratégica que está em débito a esquerda brasileira. Daí a necessidade de lutar por reformas estruturais — políticas, institucionais, financeiras, tributárias, democráticas, sociais e civis — articuladas à construção de um polo unitário das forças progressistas, de caráter patriótico e popular. Esse polo deve ser núcleo de amplas concertações sociais, que só se concretizam com forte mobilização popular, imprescindíveis ao desenvolvimento.
Eleições de 2026: vitória como ponto de partida, não de chegada
Vencer as eleições presidenciais de 2026 é condição essencial. Mas não basta vencer: é preciso que essa vitória represente mais do que a preservação da democracia — ela deve apontar para uma disputa real em torno de reformas estruturais.
O Brasil precisa de uma nova “corrente elétrica” capaz de galvanizar esperanças, renovar a narrativa progressista e articular forças sociais para superar o sistema de dependência. Isso requer um pólo unitário com um programa comum para disputar a sociedade, não apenas para pressionar o governo.
A história mostra que as grandes transformações nacionais resultaram de mobilizações vigorosas e plurais. Reconstruí-las, no espírito do nosso tempo, é o desafio estratégico colocado para a esquerda progressista. Independentemente do tempo necessário, essa jornada precisa começar agora — enfrentando as lutas do presente e a eleição de 2026 com um novo horizonte e renovada disposição de luta.
Walter Sorrentino é presidente da Fundação Maurício Grabois e vice-presidente nacional do PCdoB.