Na quinta-feira 8 de setembro, o Escritório de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos (OFAC, por suas siglas em inglês), incluiu quatro venezuelanos em uma de suas tradicionais listas "negras", que foram vinculados, sem prova alguma, com supostas atividades terroristas e de narcotráfico.

Na denominada lista de "Cidadãos com Denominações Especiais" da OFAC, aparecem dois militares, o general Clíver Alcalá, comandante da Quarta Divisão Blindada da Força Armada Nacional Bolivariana, e Ramón Madriz, oficial de inteligência desse corpo militar.

Junto com ambos foram incluídos Freddy Bernal, ex-prefeito de Caracas e atual deputado na Assembléia Nacional, e Amílcar Figueroa, ex-presidente do Parlamento Latinoamericano (Parlatino), capítulo Venezuela.

Diante de tais acusações, ao que parece sustentadas em informações supostamente obtidas do computador do assassinado dirigente guerrilheiro colombiano Raúl Reyes, foi imediata a reação de organizações políticas locais e do governo liderado pelo presidente Hugo Chávez.

Em uma primeira declaração, em 8 de setembro, o chanceler, Nicolás Maduro, recusou e qualificou de abusiva a acusação contra os quatro venezuelanos, e recordou que os Estados Unidos carecem de moral, já que são os principais consumidores de estupefacentes em nível mundial.

No dia seguinte, o presidente Chávez aludiu ao tema, que já ocupava espaços principais na imprensa da capital, e a oposição começava a tratar de utilizá-lo como arma contra o governo bolivariano.

Na opinião do presidente, a acusação contra os quatro venezuelanos "faz parte das agressões contra a Venezuela, para algum dia colocá-la como um Estado frustrado", e considerou essa ação como parte dos esforços de Washington para desqualificar Caracas e preparar o terreno para outras ações.

Desafio ao presidente estadunidense, Barack Obama, que qpresente provas que sustentem a acusação, disse Chávez durante uma conversa com jornalistas no Palácio de Miraflores.

Se de listas trata-se, eu também tenho a minha, afirmou e mencionou, entre outros personagens que a integrariam, a congressista Ileana Ros-Lehtinen, a quem qualificou de terrorista por ter feito um chamado à sua derrocada, e ao ex-subsecretário de Estado Otto Reich, a quem responsabilizou por assassinatos e outras atividades subversivas em diversos países latinoamericanos.

Enquanto isso, o governo, por intermédio do ministério de Relações Exteriores, convocou a encarregada de negócios dos Estados Unidos em Caracas, Kelly Keiderling, a quem entregou uma nota formal de protesto, e seguidamente a Chancelaria emitiu um comunicado oficial no qual qualificou a ação de OFAC de unilateral e violatória do direito internacional.

Amplo respaldo ao governo

A posição assumida pelo governo contou desde o primeiro momento com o claro respaldo de organizações e de amplos setores populares, onde foi unânime o repudio às ações estadunidenses, dirigidas realmente contra o processo político liderado por Chávez como parte de uma estratégia global concebida e executada de Washington com o apoio de figuras e partidos venezuelanos, de acordo com numerosos pronunciamentos emitidos aqui.

Um dos implicados, o deputado Freddy Bernal, por exemplo, opinou que a ação não é dirigida contra ele nem contra os outros três venezuelanos, senão que se trata de um ataque contra a Revolução Bolivariana, porque eles "são funcionários públicos que estão comprometidos com a revolução e a liderança do presidente Chávez".

Bernal afirmou que o governo dos Estados Unidos é o principal patrocinador do narcotráfico e do terrorismo e recordou que nessa nação reside tranquilamente e sob proteção oficial o terrorista Luis Posada Carriles, cuja extradição Caracas solicitou em várias ocasiões, sem sucesso até o momento.

O Partido Comunista da Venezuela e o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) também emitiram declarações de respaldo, enquanto a Assembléia Nacional realizou uma sessão extraordinária para abordar o tema, da qual emergiu uma declaração parlamentar aprovada pela maioria dos deputados.

Depois de ressaltar a firme rejeição a esta "nova ação de difamação ao povo e as instituições nacionais", a declaração aprovada pelo Parlamento alude aos Estados Unidos e destaca que os venezuelanos "não permitirão que com seu formato de guerra preventiva (…) venham a jogar por terra o processo de unidade e desenvolvimento político, social, econômico e cultural que construímos com esforço os latinoamericanos".

O respaldo internacional a Venezuela proviu dos países da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), reunidos em 9 de setembro em Caracas a nível de chanceleres para examinar a situação na Líbia como consequência da agressão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nessa nação norte-africana.

Os representantes dos países membros da ALBA expressam seu apoio ao Governo Bolivariano da Venezuela diante desta inaceitável atuação unilateral que pretende desconhecer o direito internacional, ao advogar a um só país a atribuição de julgar e condenar aos cidadãos de outros países prescindindo igualmente da via judicial e das instituições internacionais, diz o comunicado aprovado pelos chanceleres.

A ALBA ratifica seu compromisso com o multilateralismo como o espaço natural para o combate aos grandes problemas internacionais contemporâneos, e sua rejeição a toda prática que pretenda fazer uso da difamação a respeito destes assuntos tão sensíveis com fins políticos, assinala o documento.

Não é a primeira vez

De todos estes pronunciamentos se infere a certeza de que esta ação estadunidense é um novo episódio do volumoso expediente acumulado por Washington nas numerosas tentativas de pôr fim à Revolução bolivariana liderada pelo presidente Hugo Chávez há 12 anos.

Sem falar do golpe de estado do ano 2002, a lista é longa e entre as mais recentes podem ser citadas as sanções aplicadas em maio deste ano pelo Departamento de Estado contra a empresa Petróleos de Venezuela (Pdvsa), para as quais Washington usou como pretexto as relações comerciais desta nação sul-americana com o Irã.

Na opinião do deputado socialista Pedro Carreño, o propósito de todas estas ações – entre as que não descarta uma eventual opção militar – é se apoderar dos recursos naturais venezuelanos, tal e como os Estados Unidos tem feito no Iraque e pretende fazer agora na Líbia.

Em declarações formuladas à Prensa Latina, o legislador recordou a responsabilidade que alguns setores da oposição interna compartilham com os Estados Unidos, pois – na sua opinião- atuam de acordo com uma agenda elaborada em Washington.

Pese a tudo, só conseguirão fortalecer a unidade e o compromisso da maioria dos venezuelanos com a Revolução Bolivariana e seu máximo líder, o presidente Hugo Chávez, assegurou Carrión.

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Correspondente da Prensa Latina na Venezuela

Fonte: Prensa Latina