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    América Latina

    Jabbour: Nacionalismo impulsionado por Trump deve ser chave para novo Estado brasileiro

    Para pensar o Estado brasileiro e seu papel no mundo, principal desafio colocado para a esquerda é o de contruir uma maioria política

    POR: Leandro Melito

    6 min de leitura

    Elias Jabbour, Luis Nassif e Renato Janine Ribeiro em mesa da SBPC. Foto: Divulgação / SBPC
    Elias Jabbour, Luis Nassif e Renato Janine Ribeiro em mesa da SBPC. Foto: Divulgação / SBPC

    O nacionalismo revivido após os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e mobilizado nos discursos mais recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve ser utilizado para pensar o Estado brasileiro no século XXI, defendeu Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), na 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

    “O nacionalismo que o nosso presidente expressa hoje é maravilhoso, o Trump quebrou um grande galho para nós, mas isso tem que reverberar em uma grande arma política a nosso favor mas também em uma outra visão de Estado nacional”, destacou.

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    Jabbour defendeu que a  grande consequência desse novo nacionalismo deve ser observada não a partir da aparência do fenômeno, mobilizada por meio de slogans como “o Brasil é dos brasileiros”, mas de sua essência: a discussão no campo sobre qual Estado queremos para o século XXI.

    Para pensar esse Estado nacional e seu papel no mundo, o principal desafio colocado para a esquerda brasileira é o de construir uma maioria política, aponta Jabbour: “Nós não temos uma outra maioria política no Brasil capaz de impor para a sociedade ou impor para o inimigo uma visão de Estado completamente diferente da que existe hoje, inclusive no nosso campo”.

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    Diante de um mundo caracterizado por grandes blocos de capitais representados por Estados como Estados Unidos, China, Rússia, Japão, Coréia do Sul e o bloco de países europeus, o Brasil se encontra hoje com pouca margem de ação devido às armadilhas contra o desenvolvimento nacional implementadas a partir do golpe de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff.

    “O Brasil é um país em que, o que havia de capital nacional foi em grande parte destruído pela operação Lava Jato. O BNDES foi proibido de operar externamente, e um país que não tem grandes empresas nacionais públicas ou privadas, um sistema financeiro profundo e capilarizado, e uma política fiscal sendo utilizada como arma política, tem muito pouca capacidade de manobra no mundo que nós vivemos hoje”, alerta Jabbour.

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    Esse cenário coloca para cientistas das áreas humanas e sociais do país o desafio de pensar em qual o Estado nacional o Brasil estará assentado diante de dois modelos de globalização em disputa no mundo atual: a globalização neoliberal liderada pelos Estados Unidos, que enfrenta um momento de decadência, e a ascensão de uma globalização liderada pela China, baseada no modelo de socialismo desenvolvido no país.

    “Por isso eu falo, menos emoção, menos subjetivismo e um pouco mais de pé no chão e sentido prático porque o desafio nacional brasileiro demanda para nós algo que nos falta há muito tempo no Brasil, um tiro estratégico que escapa hoje da nossa capacidade de pensar, da nossa capacidade de agir.”

    Modelo chinês de globalização

    A globalização liderada pela China é caracterizada por uma integração produtiva mundial que contempla os países do Sul Global.  “É baseada em imensos investimentos produtivos, na exportação de valores de uso e da cada vez maior integração produtiva, comercial e financeira do Sul Global, tendo a China e seus 144 bancos públicos como epicentro”, aponta Jabbour.

    Essa mudança no cenário mundial teve como ponto de partida a crise financeira mundial entre os anos de 2007 e 2009, foi intensificada no primeiro mandato de Donald Trump em 2017, marcado pela imposição de tarifas à China e pela pandemia de Covid-19.

    “A partir de 2007 o neoliberalismo deixa claro que é incapaz de entregar futuro para o mundo, a crise de 2007 a 2009 produziu um desencanto generalizado em relação ao capitalismo neoliberal. A reação da China significa uma ação coordenada no seu próprio território a partir de 1.330 projetos elaborados e executados simultaneamente. O que significa que a China em 15 dias colocou para execução cerca de 10 planos de aceleração do crescimento como temos hoje no Brasil. Isso demonstra uma capacidade de coordenação do processo de desenvolvimento que desafia a inteligência humana.”

    A partir desse evento, Jabbour considera que começou a se desenhar uma nova disputa mundial entre o capitalismo e socialismo, que se intensifica no contexto atual. “O socialismo, com características chinesas, está conseguindo entregar soluções para grandes questões que afetam a humanidade. Então 2007-2009 se coloca em pauta a retomada dessa estratégia socializante enquanto solução para grandes questões”, aponta.

    Integração Rússia e China

    Ele chama atenção para uma nova configuração da multipolaridade mundial que deve ser observada para pensar a atual correlação de forças no mundo: a integração produtiva total entre China e Rússia, que “pode moldar o mundo nas próximas décadas”.

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    “É muito complicado falarmos em futuro do mundo sem observar o que acontece hoje entre China e Rússia. Existem mais de 3 mil projetos de integração física entre China e Rússia, o que significa o surgimento de formas superiores de divisão social do trabalho, o que vai levar a uma unificação econômica do território sino-russo. Esse é o fenômeno do meu ponto de vista mais impressionante do século XXI e que poucos têm levado em consideração essa variável quando se calcula o futuro do mundo.”

    As falas de Jabbour aconteceram na mesa-redonda “Nova Ordem Global” realizada  na terça-feira (15) com a coordenação de Renato Janine Ribeiro (SBPC/USP) e participação de Luis Nassif (ADVivo), Sergio Machado Rezende (UFPE) e Luís Manuel Rebelo Fernandes (MCTI).

    Assista ao debate completo:

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