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    Economia

    Crise do capitalismo e da globalização neoliberal: o Brasil diante de um mundo em transição

    São Paulo sedia etapa de Ciclo de Debates, nesta segunda (28), às 19h, para analisar financeirização, concentração de poder econômico, impactos das transformações tecnológicas e o papel das Big Techs.

    POR: Altair Freitas e Rosanita Campos

    6 min de leitura

    “Capitalism isn’t working – Another world is possible” (O capitalismo não está funcionando – Outro mundo é possível), diz faixa no acampamento do Occupy London em Finsbury Square. Foto: Alan Denney/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).
    “Capitalism isn’t working – Another world is possible” (O capitalismo não está funcionando – Outro mundo é possível), diz faixa no acampamento do Occupy London em Finsbury Square. Foto: Alan Denney/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0).

    Crise do capitalismo e da globalização neoliberal: um debate necessário ao Brasil, especialmente para os trabalhadores e os setores produtivos da nossa economia, será promovido pela Fundação Maurício Grabois no próximo dia 28 de julho, em São Paulo. A mesa faz parte do Ciclo de Debates: Os desafios brasileiros num mundo em transição (veja a programação completa), que percorre cinco capitais até 28 de agosto. Tendo como ponto de partida o Projeto de Resolução Política do 16º Congresso do PCdoB – atualmente em debate por toda a militância comunista no país –, o objetivo é aprofundar a visão do partido sobre os diversos aspectos apresentados no documento.

    É necessário analisar o cenário mundial, especialmente no que diz respeito às características centrais do capitalismo do nosso tempo, suas contradições e crise prolongada, bem como as tentativas da burguesia de manter-se à frente do comando da economia e da política. Identificar corretamente o papel do Brasil nesse contexto é essencial para o desenvolvimento da luta política em nosso país. Essa tarefa torna-se ainda mais urgente em um período em que a extrema-direita promove uma guerra cultural a serviço das forças ligadas ao capital financeiro. A ementa desse primeiro debate aponta:

    “Financeirização, concentração de poder econômico, impactos das transformações tecnológicas e as Big Techs. O contexto atual é marcado pelo desenvolvimento da crise sistêmica do capitalismo – especialmente com a perda de dinamismo das economias dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão –, cujos principais indicadores são baixo crescimento econômico, ampliação da desigualdade de renda e riqueza, precarização do trabalho, concentração e centralização do capital, domínio da financeirização e da ampliação do rentismo e seu parasitismo, em contraste com o dinamismo da Ásia, notadamente de China, Vietnã e Índia.”

    De modo mais geral, vivenciamos uma fase aguda de profundas modificações no cenário geopolítico, com o declínio do poderio dos EUA e a formatação de uma realidade multipolar, especialmente com a ascensão da China como a maior economia produtiva, comercial e de desenvolvimento de tecnologia de ponta, o papel dos BRICS, um forte crescimento da Ásia e o enfrentamento da Rússia com a OTAN. Compreender esse desenvolvimento e as reações dos EUA visando retomar sua hegemonia, não apenas pela guerra tarifaria de Donald Trump, mas pela abrangência das suas ações, é chave para que o Brasil consiga se posicionar adequadamente nesse cenário tortuoso. Trata-se também de uma oportunidade, repleta de potencialidades para o desenvolvimento de projetos nacionais soberanos.

    Leia também: Nacionalismo impulsionado por Trump deve ser chave para novo Estado brasileiro, por Elias Jabbour

    É inescapável a qualquer país que se queira desenvolvido econômica e socialmente intensificar o fortalecimento das suas forças produtivas. Isso passa, sobretudo, por uma industrialização sólida, capaz de estruturar cadeias produtivas amplas e eficientes, que devem servir de base para a expansão qualificada do emprego, da renda, do desenvolvimento tecnológico e da integração soberana no cenário internacional.

    Sem soberania nacional ancorada em uma base produtiva robusta, é muito difícil romper de modo eficaz e duradouro com as inúmeras amarras impostas às nações que ainda se alinham com o capitalismo de modo subalterno. Nesse contexto, a soberania passa também pelo processo de criação de grandes empresas de tecnologia próprias, com financiamento eficaz para a dinamização da ciência e pesquisa aplicada aos principais aspectos econômicos, mas também no âmbito das relações interpessoais, na construção de redes sociais próprias, mecanismos de busca, etc, livrando seus povos do domínio brutal exercido hoje pelo oligopólio estadunidense nesse campo.

    Conheça: Programa China-América Latina projeta autonomia digital e independência das Big Techs

    São desafios intensos ao Brasil, que é sempre o nosso foco central de análise, na relação com a realidade mundial. Nosso país precisa superar diversos gargalos históricos que impedem o pleno desenvolvimento, que nos mantém atrelados a duas lógicas conjugadas. Uma é a vinculação à lógica do imperialismo estadunidense, mesmo considerando a mudança em curso no direcionamento do nosso comércio com a China, atualmente a maior parceira nesse campo. A outra decorre de um quadro interno marcado por enormes desigualdades sociais, salários baixos, precarização acentuada da força de trabalho e altos índices de violência social – apenas para citar algumas de nossas mazelas.

    Somos a décima economia do mundo, mas ela é está assentada em bases frágeis, notadamente no âmbito do comércio e serviços – que respondem hoje por algo como 70% do PIB –, logo, com enormes vulnerabilidades diante de ataques que podem ser desfechados contra nossa soberania, como se avizinha com o tarifaço anunciado por Trump, em conluio com a extrema-direita traidora da pátria, a partir de agosto.

    Regredimos nos últimos anos, por força da desindustrialização, ao patamar de economia principalmente exportadora essencialmente de commodities e importadora de produtos de alta tecnologia incorporada. Continuamos como uma das nações mais desiguais do mundo no quesito distribuição de renda, com múltiplos efeitos deletérios para o país como um todo.

    Em resumo: o capitalismo brasileiro é ótimo para não mais do que 10% da nossa população e profundamente nefasto para a grande maioria do povo.

    São debates assim, em curso no 16º Congresso do nosso Partido, aprofundados por diversas reflexões como o Ciclo de Debates promovido pela Fundação Grabois, que permitem aos comunistas e demais forças políticas efetivamente preocupadas com a nossa realidade e comprometidas com um amplo movimento transformador no Brasil, se posicionarem de modo estratégico para a luta pelo nosso desenvolvimento, em defesa da nossa soberania e, claro, pela superação do capitalismo e construção do socialismo.

    Serviço

    Ciclo de Debates: os desafios brasileiros num mundo em transição

    Mesa: Capitalismo e crise da globalização neoliberal
    28 de julho (segunda-feira) 19h
    Local: Sindicato dos Engenheiros – São Paulo (SP)
    Coordenação: Altair Freitas e Rosanita Campos
    Participantes: Luiz Gonzaga Belluzzo, Ergon Cugler, Davidson Magalhães e Sergio Cruz
    Mediação: Rosanita Campos (SP)

    Altair Freitas é historiador, diretor da Escola Nacional João Amazonas e membro do Comitê Central do PCdoB.

    Rosanita Campos é jornalista, historiadora, coordenadora da Cátedra Cláudio Campos da Fundação Maurício Grabois, membro do Comitê Central do PCdoB.

    Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.