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    China

    Brasil e China devem buscar integração produtiva total contra tarifaço, avalia Jabbour

    Para professor da Uerj, diálogo recente entre Lula e Xi abre caminho para cooperação industrial e reação conjunta às tarifas de Trump

    POR: Elias Jabbour

    4 min de leitura

    O presidente Lula cumprimenta o líder chinês Xi Jinping. Foto: Ricardo Stuckert / PR
    O presidente Lula cumprimenta o líder chinês Xi Jinping. Foto: Ricardo Stuckert / PR

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou na terça-feira (12) para o presidente da China, Xi Jinping. Na conversa que durou por volta de uma hora, Xi Jinping disse a Lula que “a China está pronta para trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global” e afirmou que apoia o povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e na salvaguarda de seus direitos e interesses legítimos, “exortando todos os países a se unirem na luta decidida contra o unilateralismo e o protecionismo”.

    Brics, oportunidades de negócios, o projeto Iniciativa Cinturão e Rota e o Novo PAC estiveram na pauta desse telefonema, um grande acontecimento político, que não é usual na relação cotidiana da diplomacia entre países. O tema central dessa conversa foi o multilateralismo, o ponto inicial do grande arranjo político que é o Brics e como esse arranjo pode ser  funcional para enfrentar o tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil,  que entrou em vigor no dia 06 de agosto.

    Esse tarifaço, é importante dizer, não é um fim em si mesmo: é uma tentativa de reordenamento, de resetar o comércio mundial à luz dos interesses dos Estados Unidos, que coincidem com uma governança baseada no caos. Considero a ligação de Lula e Xi Jinping como um momento da grande política, onde dois grandes estadistas entram em campo para tentar desatar os nós do estrangulamento que impedem o desenvolvimento global.

    Essa chuva de incerteza que o mundo vive sob as tarifas de Trump é um grande problema, porque a incerteza impede investimento, impede comércio.

    Leia também: China lidera Iniciativa de Desenvolvimento Global em resposta a crises e desigualdades

    Esse é o momento da grande política em que Lula e Xi Jinping entram em cena para buscar uma solução coordenada entre os esses dois países e dos Brics de uma forma geral, diante dessa nova ordem global. É o momento em que esse grupo pode se afirmar enquanto bloco e não somente enquanto arranjo político, como tem sido até aqui.

    Confira o comentário na TV Grabois:

    Relações Brasil-China

    Além do fortalecimento do Brics para fazer frente ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o diálogo entre Lula e Xi Jinping envolve a necessidade das relações Brasil-China chegarem a um patamar diferente. Não basta apenas o Brasil construir portos, aeroportos, estradas, com a finalidade de ser um corredor de exportação de commodities para a China. É preciso começarmos a nos aproximar de uma integração produtiva total entre os dois países. Um processo em que o Brasil aproveita as oportunidades que a China cria a, partir do seu processo de desenvolvimento, para a nossa reindustrialização.

    Leia mais:Lições da China sobre redução da pobreza na Revista Princípios

    Reindustrialização essa que pode ser baseada não somente na expansão das nossas infraestruturas e nas indústrias correlatas que foram destruídas pela Operação Lava Jato, mas uma reindustrialização baseada em energia renovável, baseada em valor agregado no Brasil com o apoio chinês, na formação de joint ventures industriais, de centros econômicos industriais entre os países, ou seja, uma série de iniciativas que podem colocar a nossa relação com a China num patamar muito mais elevado do que nós encontramos hoje.

    Existe sim um alcance estratégico profundo dessa ligação de Lula para Xi Jinping e essa declaração sobre uma lição de autossuficiência para o mundo, é algo a ser pensado com mais profundidade.

    Elias Jabbour é professor associado da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, foi consultor-sênior do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos BRICS) e é presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. É autor, pela Boitempo, com Alberto Gabriele de “China: o socialismo do século XXI”. Vencedor do Special Book Award of China 2022.