No dia 3 de setembro de 2025, a República Popular da China celebra a efeméride dos 80 anos da rendição das forças invasoras japonesas. Recorde-se que a Segunda Grande Guerra não começou com a invasão da Polônia pelas forças armadas da Alemanha Nazista, no dia 1 de setembro de 1939. Na realidade, o conflito teve início aproximadamente dois anos antes. No dia 7 de julho de 1937, o chamado incidente da Ponte Marco Polo desencadeou uma guerra aberta entre a China e o Império do Japão. É certo que, desde o início do século XX, como resultado das chamadas Guerras do Ópio, as forças armadas japonesas já ocupavam ilegalmente partes do território chinês.
Durante o conflito, com o avanço das forças imperialistas japonesas, o governo chinês foi forçado a um exílio interno, juntamente com milhões de refugiados civis. As grandes cidades chinesas, inclusive a então capital, Nanjing, foram tomadas pelas cruéis forças de ocupação nipônicas e sua infraestrutura civil foi destruída. Atrocidades e crimes de guerra contra a população chinesa foram cometidos. Em Nanjing, há hoje um museu com as memórias do período. Eu o visitei muitos anos atrás, por ocasião de uma de minhas dezenas de conferências no país.

Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos invasores japoneses, em Nanjing, província de Jiangsu, leste da China, em 02/07/2025. Foto: Liu Zhenrui/Xinhua
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Nos primeiros 4 dos 8 anos da campanha militar, até o ataque japonês a Pearl Harbor, no final de 1941, a China defrontou-se isoladamente contra uma das maiores potências mundiais. O atormentado povo chinês resistiu heroicamente à invasão, sob a liderança do Partido Comunista Chinês, e de seu guia, Mao Zedong.
A luta foi retratada de forma brilhante na obra Sorgo Vermelho, do escritor chinês, Mo Yan, recipiente do Prêmio Nobel de Literatura de 2012, também um mestre do realismo mágico. O livro, de natureza épica, relata a história de gerações de uma família durante a resistência aos invasores, e a sua árdua luta pela sobrevivência, no quadro dos horrores da ocupação japonesa, com os decorrentes dramas humanos e sociais.
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Foram 10 longos anos de lutas contra o fascismo no Oriente. O sacrifício nacional da China representou 40% da totalidade das vítimas mortais e feridos durante o conflito mundial. Na ocasião, a China teve baixas de 35 milhões de civis e militares, além de perdas econômicas do equivalente a 500 bilhões de dólares. À guisa de comparação, a União Soviética perdeu 20 milhões de pessoas, os Estados Unidos e o Reino Unido 400 mil cada um. O território chinês resultou totalmente devastado e a sua recuperação tomou cerca de meio século.
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Cerca de 70% das baixas japonesas no conflito ocorreram nas batalhas contra as forças chinesas. Os japoneses responsáveis pelos crimes de guerra e contra a humanidade naquela campanha foram levados aos tribunais ad-hoc de Tóquio e de Nanjing, então criados. Dentre tais crimes, contam-se os ataques às populações civis, inclusive com armas químicas e biológicas; a indução à fome; o deslocamento forçado; a tortura; o trabalho coato; escravidão sexual; experimentação em seres humanos; a segregação e homicídios qualificados.
O povo chinês não se esquece do passado e hoje desponta como um dos principais defensores dos direitos humanos.
Durval de Noronha Goyos Junior é advogado, jurista e professor de pós-graduação. Árbitro do GATT, da OMC, do CIETAC e do SHIAC. Foi negociador brasileiro dos tratados da OMC. Advogou no sistema multilateral por diversos países do BRICS. Autor de 10 livros e centenas de artigos e textos de conferências sobre a OMC e o Direito internacional. É conselheiro da Fundação Maurício Grabois.
Jurista e escritor polígrafo. É autor de 11 livros sobre a China. Conselheiro do Centro de Estudos Avançados Brasil China (CEBRAC).
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.