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    América Latina

    Grito de Claudia Sheinbaum ecoa resistência do Sul Global contra o império

    Primeira mulher no comando do México projeta futuro de transformação e multipolaridade para a América Latina

    POR: Theófilo Rodrigues

    4 min de leitura

    Do balcão central do Palácio Nacional, a presidenta Claudia Sheinbaum Pardo, primeira mulher a chefiar o Poder Executivo na história do México, conduziu a celebração dos 215 anos do Grito de Independência, com reconhecimento especial às heroínas da pátria, mulheres indígenas e migrantes, em 16/09/2025. Foto: Saúl López/Presidencia do México
    Do balcão central do Palácio Nacional, a presidenta Claudia Sheinbaum Pardo, primeira mulher a chefiar o Poder Executivo na história do México, conduziu a celebração dos 215 anos do Grito de Independência, com reconhecimento especial às heroínas da pátria, mulheres indígenas e migrantes, em 16/09/2025. Foto: Saúl López/Presidencia do México

    Na noite da última segunda-feira (15), o Zócalo, principal praça da Cidade do México, recebeu cerca de 280 mil pessoas para assistir ao Grito da Independência feito pela presidenta Claudia Sheinbaum:

    “Viva as mulheres indígenas, viva as heroínas da pátria, viva a liberdade, viva a igualdade, viva a independência, viva a democracia, viva a justiça, viva a dignidade do povo do México, viva o México!”

    Num misto de alegria, convicção, emoção e entusiasmo, o povo mexicano respondia em uníssono com um “Viva!” a cada frase de Sheinbaum.

    O Grito de Dolores, como é conhecido, é uma antiga tradição mexicana. Ele é o mito de criação da independência do país. Mas, agora, foi a primeira vez que uma mulher o pronunciou.

    Sheinbaum é uma mulher de esquerda. Entre 2018 e 2023, foi governadora da Cidade do México e, desde 2024, é a presidenta do país. Sucessora de Andrés Manuel López Obrador, consolidou o Morena como principal partido da esquerda mexicana, com forte aceitação popular de aproximadamente 85% da população.

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    Desde que o Morena chegou ao poder, em 2018, 13,5 milhões de mexicanos saíram da pobreza. O salário-mínimo cresceu como nunca na história, mostrando que sua força está na agenda da redistribuição. Mas a prioridade também é a luta por reconhecimento: graças à iniciativa do Morena, hoje o México possui paridade de gênero nas cadeiras do parlamento. Isso significa dizer que metade do Congresso é formado por mulheres, algo raro de se encontrar em qualquer outro lugar do mundo – outro país com proporção semelhante é Cuba, com 53% de mulheres na Assembleia Nacional.

    O que tanto impacta e emociona todo o povo latino-americano no grito de liberdade e soberania de Sheinbaum é que ele ocorre no mesmo momento em que, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump pronuncia palavras autoritárias pelo retorno de uma ultrapassada Doutrina Monroe. Trump quer a América Latina como serva submissa de seu país, mas Sheinbaum responde: “Hoje, não!”

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    O grito de Sheinbaum é o grito de um Sul Global que não aceita mais o seu lugar periférico no sistema-mundo e que pretende construir uma alternativa geopolítica num contexto de declínio relativo da hegemonia do Império. Trata-se de um gesto sintomático de um mundo em transição, em que a arquitetura financeira global que surgiu com os acordos de Bretton Woods – Banco Mundial e FMI – já não pode se sobrepor à soberania nacional.

    Assim, o Grito de Dolores de Claudia Sheinbaum não se limita a reafirmar a independência mexicana: ele ecoa como símbolo de resistência, esperança e transformação para todo o continente. Ao conjugar justiça social, igualdade de gênero e soberania nacional, a presidenta mexicana projeta um horizonte em que os povos da América Latina reivindicam seu protagonismo histórico, rompendo com séculos de dominação externa e abrindo caminho para um futuro mais justo e multipolar.

    Theófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UCAM e coordenador do Grupo de Pesquisa da FMG sobre a Sociedade Brasileira.

    Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.

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