O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) homenageou nesta sexta-feira (17), durante seu 16º Congresso em Brasília (DF), 101 militantes mortos e desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985), período em que o partido passou para a clandestinidade e entrou na luta armada contra o regime autoritário.
A presidenta do PCdoB, Luciana Santos, destacou:
“Reverenciar esses lutadores é reafirmar o sentido da política como compromisso com o povo. Porque o que eles sonharam continua atual. Ainda vivemos tempos em que a democracia é posta à prova, em que o autoritarismo tenta ressurgir sob novas formas. E, não por acaso, os comunistas seguem entre os primeiros alvos.”
O levantamento inédito dos nomes das vítimas do regime autoritário foi realizado pela Comissão Nacional de Memória e Justiça do PCdoB em parceria com o Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois.
“Durante a ditadura, o partido enfrentou a perseguição mais implacável — sobretudo após a Guerrilha do Araguaia. Mesmo assim, resistiu. Porque os comunistas nunca aceitaram o silêncio imposto pelo medo. A Fundação Maurício Grabois tem sido guardiã dessa memória, registrando e contando essas histórias em livros, filmes e documentários”, ressaltou Luciana Santos.
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Além dos mortos e desaparecidos do PCdoB, o levantamento também considerou as vítimas ligadas ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que originou o PPL, partido que se incorporou ao PCdoB em 2019.
Também foram incorporadas as mortes ocasionadas pelo latifúndio, mesmo após o fim do regime de exceção, como no caso do advogado comunista Paulo Fonteles. Assessor jurídico da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Fonteles atuou na região do Araguaia (PA) junto aos familiares dos guerrilheiros mortos e desaparecidos em 1980 e foi executado a mando do latifúndio no ano de 1987.

A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo durante homenagem aos mortos e desaparecidos no 16º Congresso do PCdoB. Foto: Joanne Mota
A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, parabenizou o PCdoB pela iniciativa e pediu aos presentes que levantassem os cartazes em homenagem aos mortos e desaparecidos.

Publicação e exposição no 16º Congresso do PCdoB lembram 101 comunistas mortos e desaparecidos na ditadura. Foto: Sarah Cavalcante
O material da pesquisa foi reunido em uma publicação distribuída aos congressistas. No texto de apresentação, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Walter Sorrentino, afirma que a expectativa é que a publicação forneça “ferramentas intelectuais e documentais para fortalecer, na atualidade, a mesma luta desses homens e mulheres e influenciar o debate de ideias na sociedade sobre perspectivas emancipatórias de nosso povo, em direção ao socialismo”.
“Quando pensamos no futuro, não esquecemos o passado das trajetórias e legados de seus militantes que deram a vida em luta pela democracia, soberania nacional, direitos sociais e o socialismo”, destaca o presidente da Grabois.
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Comissão Nacional de Memória e Justiça
A Comissão Nacional de Memória e Justiça do PCdoB foi criada pela direção nacional do partido em 2025, para atuar junto à Comissão Nacional de Direitos Humanos do partido em busca de justiça e punição aos responsáveis pelos crimes da ditadura militar e pela localização dos restos mortais dos desaparecidos políticos.
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Ao Portal Grabois, Raul Carrion, coordenador da comissão, afirmou:
“De todas as organizações revolucionárias que confrontaram a ditadura, nós tivemos o maior número de mortos e desaparecidos e evidentemente o nosso partido não pode deixar isto passar em branco.”

Raul Carrion, coordenador da Comissão Nacional de Memória e Justiça do PCdoB. Foto: Foto: J.Lee Aguiar
Ele destaca a atualidade dessa discussão, e atribui as recentes tentativas de golpe de Estado por parte do bolsonarismo à impunidade em relação aos crimes cometidos pelo regime de exceção. “Os crimes de sequestro, tortura, assassinato e ocultação de cadáver não foram enfrentados de forma concreta e essa impunidade incentiva as reiteradas tentativas de não respeitar as liberdades democráticas no nosso país”, afirma Carrion.
Uma exposição com as fotos dos mortos e desaparecidos ocupa o hall de entrada do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Durante a homenagem, uma edição do documentário Doutor Araguaia, que resgata história de João Carlos Haas foi exibida.
Composição da Comissão Nacional de Memória e Justiça do PCdoB: Adalberto Monteiro, Ana Maria Guedes, Antônia Vitória, Dilceia Quintela, Diva Santana, Egmar de Oliveira, Elô Gonçalves, Eneida C. G. dos Santos, Felipe Spadari, Fernando Garcia, Getúlio Vargas Junior, Gildásio Cosenza, Jorge Venâncio, Liege Rocha, Marco Pires, Nádia Campeão, Pedro de Oliveira, Priscila Lobregatte, Raul Carrion, Romualdo Pessoa e Sonia Haas.
Heróis, heroínas e mártires do PCdoB
Adriano Fonseca Fernandes Filho (Chico ou Queixada)
André Grabois (Zé Carlos)
Ângelo Arroyo (Joaquim)
Antônio Alfredo de Lima Campos (Alfredo)
Antônio Carlos Monteiro Teixeira (Antônio da Dina)
Antônio de Pádua Costa (Piauí)
Antônio Guilherme Ribeiro Ribas (Ferreira)
Antônio Teodoro de Castro (Raul)
Arildo Airton Valadão (Ari)
Armando Teixeira Frutuoso
Antônio Ferreira Pinto (Antônio Alfaiate)
Áurea Eliza Pereira Valadão (Eliza)
Batista (Izaldo)
Bergson Gurjão Farias (Jorge)
Braz Antônio de Oliveira
Carlos Nicolau Danielli
Cilon da Cunha Brum (Simão ou Comprido)
Ciro Flávio Salazar Oliveira (Flávio)
Custódio Saraiva Neto (Lauro)
Daniel Ribeiro Callado (Doca)
Dermeval da Silva Pereira (João Araguaia)
Dinaelza Soares Santana Coqueiro (Mariadina)
Dinalva Conceição Oliveira Teixeira (Dina)
Divino Ferreira de Sousa (Nunes ou Goiano)
Elmo Correa
Félix Escobar Sobrinho
Francisco Manoel Chaves (Zé Francisco)
Gilberto Olímpio Maria (Pedro)
Guilherme Gomes Lund (Luis)
Helenira Rezende de Souza Nazareth (Fátima)
Hélio Luiz Navarro de Magalhães (Edinho)
Idalísio Soares Aranha Filho (Aparício)
Jaime Petit da Silva
Jana Moroni Barroso (Cristina)
Joaquim de Souza Moura (Joaquinzão)
João Carlos Haas Sobrinho (Doutor Juca)
João Gualberto Calatroni (Zebão)
Joel Vasconcelos Santos
Heróis, heroínas e mártires do PCdoB
José Gomes Teixeira
José Huberto Bronca (Zeca Fogoió)
José Lima Piauhy Dourado (Ivo)
José Maurílio Patricio (Manuel)
José Toledo de Oliveira (Vitor)
Kleber Lemos da Silva (Carlito)
Libero Giancarlo Castiglia (Joca)
Lincoln Bicalho Roque
Lincoln Cordeiro Oest
Lourival de Moura Paulino
Lúcia Maria de Souza (Sônia)
Lúcio Petit da Silva (Beto)
Luíza Augusta Garlippe (Tuca)
Luís Guilhardini
Luiz Renê Silveira e Silva (Duda)
Luiz Vieira de Almeida (Luizinho)
Manuel José Nurchis (Gil)
Marcos José de Lima (Zezinho Armeiro, ou Ari)
Maria Célia Corrêa (Rosa)
Maria Lúcia Petit da Silva (Maria)
Maurício Grabois
Miguel Pereira dos Santos (Cazuza)
Nelson de Lima Piauhy Dourado (Nelito)
Orlando Momente (Landim)
Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão)
Paulo Mendes Rodrigues (Paulo)
Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri)
Pedro Alexandrino de Oliveira (Peri)
Pedro Ventura Felippe de Araújo Pomar
Pedro Pereira de Souza (Pedro Carretel)
Rodolfo de Carvalho Troiano (Mané)
Ronan Rafael Ventura
Rosalindo Souza (Mundico)
Rui Frazão Soares
Suely Yumiko Kamayana (Chica)
Telma Regina Cordeiro Corrêa (Lia)
Tobias Pereira Júnior (Josias)
Uirassú de Assis Batista (Valdir)
Vandick Reidner Pereira Coqueiro (João Goiano)
Walkíria Afonso Costa (Walk)
Heróis camponeses do PCdoB
Adelino Ramos (Dinho)
Afonso João Silva
Expedito Ribeiro de Souza
João Canuto de Oliveira
José Canuto
Paulo Canuto
Paulo César Fonteles de Lima
Raimundo Alves da Silva (Nonatinho)
Raimundo Ferreira Lima (Gringo)
Heróis, heroínas e mártires do MR8
Carlos Lamarca
Felix Escobar
Gabriel Pimenta
Iara Iavelberg
José Campos Barreto
José Gomes Teixeira
José Roberto Spiegner
Luiz Antônio Santa Bárbara
Marilena Villas Boas Pinto
Mario de Souza Prata
Nilda Carvalho Cunha
Otoniel Campos Barreto
Paulo Costa Ribeiro Bastos
Sergio Landulfo Furtado
Stuart Edgar Angel Jones