Realizou-se o 16º Congresso do PCdoB.
Em artigos anteriores, mencionei que PT e PSOL também realizariam seus processos internos. Eles precedem a grande batalha de 2026. Chamei a atenção sobre a necessidade de superar esta fase de rebaixamento das perspectivas estratégicas da esquerda brasileira.
A Resolução Política aprovada no encontro indica a síntese de pôr no topo da agenda a defesa da soberania, da democracia, do desenvolvimento com valorização do trabalho e progresso social.
A Grabois participou ativamente das elaborações presentes no documento e apresentou seus trabalhos durante a realização do conclave, inclusive às 26 delegações estrangeiras presentes.
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É notável a capacidade de formulação teórica marxista dos comunistas brasileiros e o esforço por dar rumos à luta política, social e de ideias. Em especial, quanto ao pensamento de vocação estratégica e sagacidade tática. A Frente Ampla e as contribuições programáticas à campanha Lula de 2022, as federações partidárias e, mais recentemente, a explicitação política da maior tese do PCdoB — a centralidade da questão nacional, ou seja, a luta por um projeto de nação soberana, intimamente associada à questão democrática — são expressão disso.
O que se viu foi a vitalidade militante em todo o país, numa discussão política aprofundada e unitária durante quatro meses. Processo ancorado também no Simpósio Desafios Brasileiros no Atual Contexto Internacional e no Ciclo de Debates promovidos pela Grabois, que partilhou o debate com amplas fileiras progressistas do país.
Intervim no Congresso ressaltando a necessidade de atualizar o Programa Socialista do PCdoB. Vive-se no mundo intensas e rápidas mudanças, no âmbito do modo de produção, da consciência social e da geopolítica. É um interregno conturbado já em curso que mudará ainda mais as feições globais na próxima década. Envolve riscos, mas também avanço das lutas contra-hegemônicas. E conta com o impulso do amadurecimento da teoria do socialismo já em evidência como paradigma superior de desenvolvimento, tecnologia, progresso, direito e ecocivilização.
Evidentemente, a reação a essas mudanças motivou o ascenso de forças neofascistas, ainda em curso e perigosas. Mas há uma certa descompressão em relação à contradição principal do presente: a luta entre o imperialismo em declínio relativo e projetos nacionais que almejam desenvolvimento e soberania.
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Em tempos assim, é preciso revisar e avançar a definição de estratégias para aproveitar as chances que se abrem para o Brasil superar a condição de nação subdesenvolvida, dependente e semi-periférica, dando impulso de outra qualidade ao que o governo do presidente Lula vem implementando.
Mas isso envolve processos políticos e ideológicos superiores para construir uma consciência avançada entre amplas forças, para empreender mudanças estruturais no ordenamento do Estado nacional. Ou seja, formar uma nova maioria social e política. A resolução política aprovada explicita isso e dá pontos de partida decisivos para a atualização programática, em especial formulando tópicos das reformas estruturais.
Quem se propõe, como o PCdoB, a atualizar o Programa Socialista para o Brasil em vigor é chamado a dar mais nitidez e atualidade à estratégia para sua consecução. E ela será base para designar o lugar dos comunistas na nova época que se abre — um impulso a uma fase renovada de acumulação de forças.
Creio firmemente que isso é uma contribuição expressiva à esquerda nacional, para unir o povo na grande gesta da Revolução Brasileira.
É marcante a importância de haver no Brasil um partido que cultiva e desenvolve a arma afiada do marxismo para a análise dos fenômenos contemporâneos. Esse esforço teórico permite formular um novo projeto nacional de desenvolvimento e investigar, com profundidade, as exitosas experiências socialistas do presente — em especial a da China —, com a qual a Grabois mantém elevados vínculos acadêmicos e científicos por meio do Centro de Estudos Avançados Brasil-China (CEBRACh).
Gosto de pensar que o PCdoB pode e necessita ser um partido realmente do tamanho de suas ideias avançadas e generosas, a serviço do Brasil e do povo brasileiro. O que vem pela frente dependerá de maior unidade das forças progressistas em torno de uma causa: o Brasil soberano e democrático.
Walter Sorrentino é presidente da Fundação Maurício Grabois e membro do Comitê Central do PCdoB.