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    Ciência e Tecnologia

    IA chega à infância: 65% das crianças e adolescentes já usam inteligência artificial

    Público entre 9 e 17 anos utiliza o recurso para estudar, criar conteúdo e até conversar sobre emoções. Dados são da pesquisa TIC Kids Online 2025

    POR: Leandro Melito

    8 min de leitura

    Criança utilizando celular. Foto: Sanket Mishra / Unsplash
    Criança utilizando celular. Foto: Sanket Mishra / Unsplash

    O uso de inteligência artificial já está presente nos hábitos online de 65% das crianças e adolescentes brasileiras entre 9 e 17 anos. O recurso é usado para estudar, buscar informações, criar conteúdo e até conversar questões pessoais.

    Os números são da Pesquisa TIC Kids Online Brasil 2025, divulgada nesta quarta-feira (22), pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br). Os pesquisadores ouviram 2.370 crianças e adolescentes de todo o país, assim como seus pais ou responsáveis, entre março e setembro de 2025. 

    Realizada anualmente desde 2012, esta foi a primeira vez que a pesquisa coletou dados sobre o uso de inteligência artificial generativa

    O uso de IA generativa foi mais comum entre os usuários de 15 a 17 anos em comparação aos de 9 a 10 anos. Para pesquisas escolares ou estudos, as proporções foram de 68% e 37%, respectivamente; para busca de informações, 60% e 17%; para criação de conteúdo, 32% e 9%; e para conversas sobre problemas pessoais ou emoções, 12% e 4%.

    “A gente já tinha na série histórica da pesquisa esses dois tipos de atividade, tanto pesquisa escolar como busca de informação por interesse próprio estavam entre as atividades mais realizadas por crianças e adolescentes na internet, com proporções de 80% e 70%. Este ano, incorporamos essas práticas a partir do uso de IA generativa”, explica Luisa Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online.

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    Dos 65% dos usuários de internet de 9 a 17 anos que utilizaram esse recurso para realizar pelo menos uma das atividades investigadas no indicador: 59% para realizar pesquisas escolares ou estudar, 42% para procurar informações, 21% para criar conteúdo e 10% para conversar sobre problemas pessoais ou suas emoções.

    “É o primeiro ano da coleta e a gente vê proporções já bastante altas, competindo com as práticas mais realizadas que a gente já investiga historicamente”, destaca a coordenadora da pesquisa.

    Uso de IA generativa por crianças e adolescentes entre 09 e 17 anos. Fonte: Pesquisa TIC Kids Online 2025

    Redes Sociais

    O período de coleta de dados para a TIC Kids Online deste ano coincidiu com o debate sobre a presença de crianças e adolescentes no ambiente digital, que culminou na aprovação do ECA Digital pelo Congresso Nacional. Os parlamentares se movimentaram para votar o projeto do senador Alessandro Vieira (MDB) após o vídeo produzido pelo influenciador Felipe Bressanim, o Felca, denunciar a “adultização” de crianças nas redes sociais.

    Luisa Adib ressalta que a edição 2025 da pesquisa está muito vinculada a este momento de debate público sobre a participação de crianças e adolescentes em ambientes digitais, refletido nos dados que demonstram uma estabilidade em relação à proporção de crianças e adolescentes que são usuárias de internet — 92% dessa população —, mas apontam algumas tendências de mudança no uso.

    Uma tendência de queda destacada pela coordenadora da pesquisa é em relação ao uso de redes sociais pela faixa etária entre 9 e 10 anos, que chegou a 50% em 2023 e este ano está em 33%, mesmo patamar de 2017.

    Gráfico sobre uso de redes sociais por crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos. Fonte: Pesquisa TIC Kids Online

    Adib enfatiza:

    “Depois da pandemia teve um aumento da participação de crianças nesses espaços. Agora, o que se observa é o retorno a um patamar parecido ao que se tinha antes da pandemia.”

    A queda na posse de celular, principalmente pelos mais novos, é outra tendência deve ser observada.

    “Isso pode ser uma resposta aos debates públicos da proibição do celular nas escolas e da proteção de crianças de uma forma geral, porque a posse de celular fica estável para os adolescentes, mas ela tem uma tendência de queda para as crianças.”

    Queda na posse de celular por crianças e adolescentes. Fonte: TIC Kids Online

    A plataforma digital acessada com maior frequência por usuários de internet de 9 a 17 anos — 53% “várias vezes ao dia” e 15% “todos os dias ou quase todos os dias” — é o WhatsApp. YouTube (48% “várias vezes ao dia”), Instagram (48% “várias vezes ao dia” e 11% “todos os dias ou quase todos os dias”) e TikTok (46% “várias vezes ao dia” e 11% “todos os dias ou quase todos os dias”) aparecem na sequência.

    Publicidade

    A publicidade aparece na pesquisa como o indicador de riscos online com maior incidência sobre adolescentes brasileiros. Mais da metade dos usuários de internet de 11 a 17 anos reportou ter tido contato com publicidade ou propaganda em diferentes meios digitais: 55% em redes sociais, 52% em sites de vídeos e 52% na televisão. A presença de anúncios em sites de jogos alcançou 26% desse público. 

    Segundo declaração dos pais ou responsáveis, 45% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos tiveram contato com propaganda não apropriada para a idade e 51% pediram algum produto após contato com propaganda ou publicidade na internet.

    Contato de crianças e adolescentes com publicidade e propaganda na internet. Fonte: Pesquisa TIC KIds Online

    Luisa Adib destaca a relação desse item com outro dado coletado pela primeira vez em 2025: os tipos de vídeos assistidos online por esse público. Os vídeos de influenciadores digitais aparecem como os mais assistidos (46%) entre os usuários de 9 a 17 anos, ficando à frente de séries, filmes ou programas na internet (35%), vídeos ou tutoriais que ensinam a fazer coisas que gosta (29%), e vídeos de pessoas jogando videogame (23%).

    “A gente pode linkar o consumo de vídeo com influenciadores digitais também a prática de divulgação de produto ou marca. São pessoas divulgando produtos, abrindo produtos, indo a lojas”, aponta.

    De acordo com a pesquisa, os formatos mais comuns de vídeos vistos pelos usuários de 11 a 17 anos foram:

    • 66% viram pessoas abrindo a embalagem de um produto;
    • 65% pessoas ensinando como usar algum produto;
    • 61% pessoas mostrando produtos que alguma marca deu para elas;
    • 54% pessoas indo a lojas ou eventos para mostrar algum produto ou marca;
    • 53% pessoas divulgando jogos de apostas;
    • 52% pessoas fazendo desafios ou brincadeiras com algum produto ou marca; e
    • 39% sorteios ou concursos de produtos ou marcas.

    “A gente tem uma proporção bastante alta de crianças e adolescentes em contato com conteúdo mercadológico. Quando a gente estimula na pergunta o questionamento se a criança viu publicidade ou propaganda, as proporções ficam em torno de 50%, mas elas são mais altas para esse tipo de conteúdo em que a gente não fala explicitamente se ela está tendo contato com publicidade ou propaganda”, destaca Luisa Adib.

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    Apesar de 70% das crianças e adolescentes concordarem com a afirmação de que as empresas pagam pessoas para usarem seus produtos em publicidade, Luisa Adib destaca, a partir dos dados da pesquisa, que nem sempre elas conseguem identificar se um tipo de conteúdo que ela está vendo é patrocinado ou não. Ela reforça:

    “Tem aí um debate sobre o risco envolvendo as crianças na publicidade ou propaganda, tanto pela perspectiva do tipo da natureza do conteúdo, quanto pela perspectiva do fato delas nem sempre identificarem que estão sob algum mecanismo ou alguma influência, e isso é um fenômeno do ambiente digital.”

    Pela primeira vez, a TIC Kids Online investigou a percepção de crianças e adolescentes sobre a personalização de conteúdos publicitários online. Entre os usuários de 11 a 17 anos, 65% concordaram que falar ou pesquisar sobre um produto ou serviço na Internet aumenta a quantidade de propagandas que recebe sobre eles. Para os usuários de 9 a 10 anos a proporção foi de 52% e para usuários de 15 a 17 anos foi de 77%. 

    Para acessar a pesquisa completa clique aqui

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