O cantor, compositor, poeta e escritor Jorge Mautner foi homenageado nesta terça-feira (21) na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no centro do Rio de Janeiro (RJ). Mautner recebeu a Medalha Cultural Darcy Ribeiro, concedida pela Prefeitura de Maricá pelo reconhecimento à sua trajetória musical e poética. O evento marcou o lançamento da 30ª Edição do Rio de Versos, Festival Internacional de Poesia.
Os membros da ABL, Antônio Torres e Antônio Carlos Secchin, juntamente com o secretário de Cultura e das Utopias de Maricá — uma das apoiadoras do festival —, Sady Bianchin, compuseram a mesa em homenagem a Mautner, que agradeceu:
“É uma emoção ser homenageado neste lançamento. Até difícil encontrar palavras para agradecer por essa noite linda. Estou muito feliz e grato pelo reconhecimento.”
Após receber a homenagem, o artista apresentou algumas de suas composições, acompanhado pela violonista e cantora Cecília Beraba. As músicas foram cantadas em coro pela plateia, que compartilhou de sua emoção. Um dos momentos que embargaram sua voz foi durante a execução de “A bandeira do meu partido”, hino do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Jorge Mautner apresenta suas composições acompanhado da violonista e cantora Cecília Beraba na sede da ABL. Foto: Thamyris Mello / Prefeitura de Maricá
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O repertório da noite contou ainda com as canções “Bomba de Estrelas”, “Todo Errado”, “Vampiro”, “Perspectiva”, “Lágrimas Negras” e “Maracatu Atômico”, composição regravada pelo artista pernambucano Chico Science (1966-1997) que marcou o movimento manguebeat.
Confira um trecho da apresentação:
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Retorno das apresentações
Essa é a terceira apresentação pública de Jorge Mautner ao lado da instrumentista Cecília Beraba este ano. Aos 84 anos, o artista retomou uma agenda de apresentações que acompanham o lançamento de seu livro Jorge Mautner – Poemas selecionados (2025), editado de forma independente e impresso com apoio do Itaú Cultural.
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O objetivo desta edição é ressaltar a qualidade do trabalho poético de Mautner, sem o recurso da música e da performance, explica ao Portal Grabois João Paulo Reys, organizador do livro ao lado de Maria Borba.
“O meu desejo era fazer pro Jorge um livro de poesia sóbrio, tratando a poesia como uma empreitada séria, porque o trabalho artístico do Jorge, com muita frequência, é colocado num lugar de humor, uma coisa pré-tropicalista, sempre com muitos elementos. Como se a literatura do Jorge dependesse da música dele, da imagem dele, dos amigos dele”, diz Reys.
A edição do livro traz uma capa preta com um desenho do autor e os textos dos poemas. Não há fotos, prefácio ou posfácio assinado por críticos ou figuras célebres. A intenção, aponta Reys, é mostrar Mautner como um poeta da linhagem de Robert Lowell (1917-1977), com quem ele trabalhou, Ezra Pound (1885-1972) e T. S. Eliot (1888-1965).
“A ideia foi fazer realmente um livro que servisse como um pedestal pra poesia, de muito boa qualidade e que merece isso. Eu acho que é um formato que beneficia a poesia, para ser lida com a atenção e o sentimento que ela merece”, destaca o organizador da obra.
O livro traz poemas escritos por Mautner entre 2019 e 2021. Publicados inicialmente no formato de vídeos declamados pelo autor, os textos foram transcritos, revisados e reunidos no livro, “suporte adequado para levar ao futuro a inteligência e a sensibilidade do poeta-filósofo que é o meu amigo”, escreve Reys na quarta-capa.
- Achado! Em 2017, no 14º Congresso do PCdoB, Mautner falou da canção composta em 1958, cujos direitos de execução foram cedidos ao Partido, canta, fala de composições e declama poema de Bertolt Brecht. Veja na TV Grabois: