Cumprindo a tarefa dada pela executiva nacional do Partido Comunista do Brasil, integro uma comitiva composta por cinco partidos progressistas do Brasil (PCdoB, PT, PSB, PSOL, PDT) em viagem à China. Viemos conhecer de perto alguns elementos importantes do atual patamar de desenvolvimento do socialismo com características chinesas. Pelo PCdoB, além de mim, estão a camarada Janaina Deitos, presidente do comitê municipal de Florianópolis (SC), e o camarada Rafael Leal, presidente nacional da UJS, ambos também membros do nosso Comitê Central.
Visitas realizadas e diálogos intensos com lideranças do Partido Comunista da China (PCCh), administradores(as) dos poderes locais, universidades, lideranças empresariais e agências de desenvolvimento, além de percepções trocadas com companheiros(as) do próprio PCdoB e demais partidos, têm me possibilitado reunir um conjunto valioso de impressões. A partir dessa experiência, publicarei uma série de artigos abordando, de forma mais específica, cada um dos temas centrais apresentados nestes dias.
Esta introdução foi escrita ainda aqui, durante a pausa para o nosso último ponto a ser visitado: a cidade de Pequim.
Leia mais:
PCCh defende multilateralismo e solidariedade Sul–Sul em Congresso do PCdoB
Nosso roteiro foi composto para conhecermos os seguintes aspectos do atual patamar de desenvolvimento do socialismo na China:
- avanços das forças produtivas com ênfase no desenvolvimento tecnológico;
- organização do Partido Comunista da China junto ao povo;
- o papel das universidades para o fortalecimento econômico e social;
- ampliação da qualidade na integração entre desenvolvimento econômico e meio ambiente;
- recuperação de áreas rurais e sua integração à economia de modo amplo.
Como uma espécie de brinde nessa composição entre presente e futuro, poucos dias antes da nossa chegada, o Comitê Central do PCCh havia aprovado a proposta para o 15° Plano Quinquenal, ao qual tivemos acesso na versão em português. Com 61 diretrizes que servirão para nortear o planejamento da ação concreta em cada setor da sociedade chinesa, entre a administração pública e a atividade econômica, inclusive das empresas privadas, foi possível ter um vislumbre do que será o debate e a implementação do Plano. Em uma leitura aligeirada, pude perceber como o documento terá impacto intenso para o futuro próximo da grande nação chinesa.
-
Em vídeo, Rafael Leal, presidente da UJS, relata a visita ao PCCh e descreve como é o processo de filiação ao Partido Comunista Chinês, a partir de suas vivências na viagem à China:
Ver esta publicação no Instagram
Seguem, então, algumas impressões bem iniciais de cunho estritamente pessoais sobre o que vi e vivenciei nestes dias. Confesso que o fato de estudar a construção do socialismo na China há muitos anos, seja pela ótica da história como ciência, seja pelos diálogos e leituras mais abrangentes dos livros de valiosos quadros do PCdoB que pesquisam a China com profundidade, bem como pela produção de aulas e programas da Escola Nacional João Amazonas, cheguei aqui já, digamos, bem condicionado a ter uma visão positiva sobre tudo.
Afinal, a China desenvolve provavelmente a maior transformação da história humana rumo à eliminação da pobreza e ao desenvolvimento sustentável, o que, por si só, já mereceria de qualquer pessoa com bom senso respeito e apoio. Mas, como me ensinou o camarada Victor, um dos nossos guias do departamento de relações internacionais do PCCh, com um provérbio local, vale muito mais ver com os próprios olhos do que ler e ouvir pelas bocas alheias!
Aqui vi um povo alegre, orgulhoso das suas conquistas, dedicado ao trabalho, mas também ao lazer e às alegrias básicas da vida. Os chineses vivem sem as tensões e medos que assolam, por exemplo, qualquer um de nós que habitamos as grandes e médias cidades brasileiras, onde a exclusão econômica e social se combina de forma perversa com a violência urbana, individual e coletiva.
Leia também:
Por que visão dos brasileiros sobre a China melhorou? Jabbour analisa Quaest
China propõe nova visão para a humanidade em meio à turbulência global
A China é um país seguro, muito seguro, no qual a liberdade é exercida na sua plenitude, como a de caminhar pelas ruas sem nenhum temor, seja qual for a hora do dia. Foi muito contrastante estarmos aqui quando o Rio de Janeiro vivenciou a bárbara ação policial recente que matou 120 pessoas. Explicar aos chineses o que estava acontecendo foi bem difícil, pois algo do tipo aqui é simplesmente impossível sequer de imaginar.

Comitiva composta por cinco partidos progressistas do Brasil (PCdoB, PT, PSB, PSOL, PDT) em viagem à China, em #/11/2025. Crédito: Arquivo Pessoal de Altair Freitas
As cidades pelas quais passamos são extremamente bem planejadas, limpas, de dar inveja. Combinam uma expansão intensa de condomínios residenciais e de escritórios com amplas áreas verdes, ambientalmente equilibradas e com farta oferta de espaços de lazer para o povo. O pequeno e médio comércio são vibrantes, diversificados, as grandes empresas são imponentes, com sedes arquitetonicamente arrojadas e intensa tecnologia aplicada a todos os setores.
Yu Kongjian: Aarquiteto das Cidades-Esponja deixa legado de urbanismo ecológico
Vi escolas do ensino básico (nove anos, como no Brasil), imensas, com grande estrutura para a aprendizagem e espaços esportivos e de lazer. As universidades são verdadeiros centros de ensino, pesquisa e inovação. Os serviços públicos funcionam com eficiência e rigor, atendendo às demandas do povo, desde as necessidades mais simples até as mais complexas. Presenciei e senti, com muita alegria, que o Partido Comunista é profundamente respeitado, não pela imposição unilateral, mas pela sua intensa integração com a população desde os bairros.
A China é perfeita e tudo está resolvido? Claro que não, e os chineses são os primeiros a nos afirmar isso. Não é à toa que planejam cada passo em direção ao avanço, buscando corrigir equívocos, superar deficiências e gargalos naturais em qualquer sociedade, na busca pelo bem-estar comum. A China não é perfeita, pois não existe perfeição na construção humana. Mas, de tudo o que vi aqui, posso afirmar que o povo chinês está vários passos adiante das nações do mundo ocidental.
Um povo de bravos: A Coreia que desafia o bloqueio e reafirma sua dignidade
Nos próximos artigos, buscarei, conforme o estabelecido acima, deter-me mais profundamente em cada um dos temas apontados.
Altair Freitas é historiador, diretor da Escola Nacional João Amazonas e membro do Comitê Central do PCdoB.
*Este é um artigo de opinião. As ideias expressas pelo autor não necessariamente refletem a linha editorial da Fundação Maurício Grabois.