O ex-presidente Jair Bolsonaro começa, nesta terça-feira (25), a cumprir a pena de 27 anos e três meses de prisão, por liderar uma tentativa de golpe de Estado, após o trânsito em julgado (fim da possibilidade de recursos) da Ação Penal (AP) 2668. Walter Braga Netto, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Alexandre Ramagem, do chamado núcleo 1 da trama golpista, também tiveram a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A pena de Bolsonaro será cumprida na Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal, onde o ex-presidente está preso preventivamente desde sábado (22), após determinação do ministro Alexandre de Moraes, por risco de fuga e tentativa de violação da tornozeleira eletrônica.
Para a vice-presidenta do PCdoB, Nádia Campeão, a prisão de Bolsonaro é muito importante, assim como a dos demais integrantes do núcleo golpista. Nádia, porém, alerta que essa corrente que se estabeleceu no país “tem base social, força material, financeira e parlamentar, com representação política no Congresso e fora dele”. Portanto, “a luta continua e persiste ainda forte para 2026”, destacou a dirigente em entrevista exclusiva ao Portal Grabois, na quarta-feira (19) — quando a prisão de Bolsonaro já era iminente, dada a aproximação do fim da apreciação dos recursos da defesa, mas antes dos últimos acontecimentos. A entrevista completa pode ser lida na sequência deste texto.
O enfrentamento à extrema-direita e a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 são apontados pela Resolução Política do 16º Congresso do PCdoB como prioridades estratégicas, com a defesa de uma frente eleitoral ampla liderada pelas forças progressistas. Nádia Campeão afirma que a proteção da democracia depende dessa ampla convergência e da capacidade de dialogar a sociedade e com forças políticas intermediárias, alertando para o risco real do avanço da extrema-direita no Brasil e no mundo .
Além de impedir o retorno dessa corrente ao poder, ela avalia que o país precisa avançar num projeto nacional de desenvolvimento, baseado na reindustrialização e no fortalecimento da economia, para enfrentar problemas estruturais como a segurança pública — tema que ganhou centralidade após a megaoperação do governo do Rio de Janeiro que resultou em 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha. Segundo Nádia, o debate sobre segurança já estava colocado desde o início do governo Lula e exige respostas nacionais, pois ultrapassa políticas estaduais.
Vice-prefeita de São Paulo na gestão de Fernando Haddad (2013-2016), Nádia Campeão foi eleita vice-presidenta do PCdoB ao final do 16º Congresso, marcado pela paridade de gênero na composição do Comitê Central, instância máxima do partido. Ela considera a medida um reflexo da luta histórica dos comunistas em relação aos direitos das mulheres. Nádia afirma que o novo Comitê Central chega com grande energia, entusiasmo e disposição para contribuir politicamente nas instâncias nacional e estaduais.
Na entrevista ao Portal Grabois, a dirigente faz um balanço do 16º Congresso, avalia a atuação do PCdoB no governo Lula — especialmente no MCTI comandado por Luciana Santos — e aponta as estratégias e desafios do partido para as eleições majoritárias e parlamentares de 2026.
Leia a entrevista completa:

A vice-presidenta do PCdoB recebeu a equipe do Portal Grabois em seu gabinete, na sede do Partido, em São Paulo (SP), em 19/11/2025. Crédito: Reprodução/FMG
Portal Grabois: Em outubro o PCdoB realizou seu 16º Congresso. Qual é a importância desse processo de discussão? O que o partido está colocando em termos de atuação política a partir da resolução política aprovada nesse congresso?
Nádia Campeão: Nossos congressos, que ocorrem a cada quatro anos, sempre refletem aquele momento que o mundo e o país estão passando. É um contínuo de elaboração do nosso partido, sempre avaliamos o que aconteceu nos últimos 4 anos.
Tivemos muitas mudanças. No 15º Congresso, estávamos ainda com a pandemia de Covid, num momento muito difícil no último ano do governo Bolsonaro, uma realidade política muito diferente. O 16º Congresso já acontece em outro cenário, no contexto dessa vitória importante com a nova eleição do Lula, todo um período de reconstrução no país, de modo que agora a gente está às vésperas de uma nova disputa eleitoral. Ele pega essa mudança: uma vitória nossa contra o neofascismo, contra o Bolsonaro, o enfrentamento do golpe, uma luta democrática muito forte e a reconstrução de políticas importantes no país e já com os novos desafios colocados. No curto período entre o 15º e o 16º Congresso, tivemos muitos acontecimentos no país.
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Se você olhar o mundo, as coisas também se aceleraram nesse período, com a eleição do [Donald] Trump nos Estados Unidos e as primeiras medidas desse governo. Então neste 16º Congresso tivemos um cenário muito instigante, muito novo e apontou o que serão as nossas diretrizes de ação para esse próximo período. Evidente que no centro está a luta pela democracia contra o neofascismo, pela soberania nacional e a importância de uma nova vitória das forças populares e democráticas em 2026. Esse é o contexto do nosso Congresso.
O processo de discussão nacional para esse Congresso teve início em julho e envolveu 43 mil militantes em todo o país, nas etapas distritais, municipais e estaduais. Foram cinco meses até chegar à Plenária final em outubro, o que esse acúmulo de debate proporcionou para o PCdoB?
O partido saiu muito fortalecido desse Congresso, são momentos em que a gente faz debate aprofundado, exerce a democracia interna, que tem sempre muito impacto na vida do partido, dos militantes como um todo. Foram 43 mil militantes, que de fato que se reuniram em todos os lugares onde o partido está presente e levaram, portanto, uma energia muito forte para o Congresso, que foi marcado por um debate político intenso e muita unidade em torno do documento aprovado.
É um documento bastante aprofundado sobre a crise do neoliberalismo, as mudanças na geopolítica, o papel da China, o declínio relativo dos Estados Unidos e a situação brasileira. Nós nos unificamos muito em torno do documento e teve um debate importantíssimo sobre o papel destacado do partido político para enfrentar situações como essa que nós estamos vivendo.
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Por mais que a gente se apoie nas organizações sociais, no movimento social, tudo isso que permeia a multiplicidade da sociedade brasileira, é para os partidos políticos que converge o papel mais forte, mais exigente. São eles que precisam apresentar um rumo, um programa, uma política.
Nós julgamos que temos um projeto nacional consistente. Os comunistas sempre lutaram por isso: um projeto marcantemente democrático, popular, onde a questão da soberania sempre esteve presente na nossa formação, com a valorização do trabalho e o envolvimento dos trabalhadores nesse projeto.
Nós temos um programa muito bem elaborado. O PCdoB é uma força que age com uma política unificada e que tem flexibilidade tática, amplitude para buscar outros setores que se somem a esse projeto de mudança. O papel do partido apareceu com muita força nesse congresso. Então, ao lado de todas as lutas que a gente precisa fazer, é preciso fortalecer, construir e estruturar o partido. A vida partidária precisa ser permanentemente fortalecida e revigorada. Essa mensagem sai com muita força.
A ideia central é que nós todos vamos nos unificar em torno de batalhas maiores, de projetos maiores, que o partido tem capacidade de fazer. A gente vive a ascensão da China, um projeto de país dirigido pelo Partido Comunista. Todas as forças estão olhando para isso, mas tem um impacto em particular para nós comunistas, que vemos uma materialização de tudo aquilo que nós pregamos: uma nação se desenvolvendo, se emancipando, direcionada pelo partido com muito planejamento, com uma direção coesa, que são os elementos constitutivos do nosso pensamento, da nossa concepção. Isso deixou o partido muito fortalecido e muito entusiasmado.
As sanções dos Estados Unidos contra vários países do mundo, inclusive o Brasil, se deu durante o processo de discussão nacional do 16º Congresso do PCdoB e nesse contexto, a partir da resposta do governo brasileiro, o tema a soberania nacional ganhou força no debate público. Como isso se reflete nos encaminhamentos tomados pelo partido?
Nós temos que considerar que, às vezes, uma questão em que os comunistas têm uma interpretação e uma posição muito firme ao longo de muito tempo, como é o caso do enfrentamento do imperialismo norte-americano, nem sempre fica claro para uma camada mais larga da população e tem acontecimentos que trazem à tona esses elementos de uma forma muito mais concreta, o que aconteceu este ano a partir da eleição do Trump.
Essa posição imperialista nunca deixou de acontecer do século passado para cá, mas com a eleição do Trump adquiriu uma nova nitidez, ficou muito mais claro pelo significado das ações que ele desencadeou e que refletem essas forças de extrema direita, neofascistas no mundo inteiro. A atitude agressiva e protecionista da economia norte-americana, mas em conflito com aliados já tradicionais, trouxe à tona a questão da soberania dos países frente a esse tipo de intervenção e de postura agressiva e imperialista.
Embora nem tenha completado um ano ainda da gestão Trump, essa tentativa de interferir na democracia do país, essa postura de defender as plataformas, os grandes conglomerados norte-americanos que querem dominar essa área toda da interface digital, ficou muito claro no Brasil que isso não serve aos interesses nacionais, essa não é uma política de boa vizinhança.
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Esse confronto, em que a reação do governo Lula foi muito importante, muito altiva, conduziu a um debate no país de grande importância sobre a defesa da nossa soberania e sobre o que é realmente soberania, como é que ela se manifesta. A soberania não é só a atitude do presidente, do governo, perante esses ataques. Essa resistência e postura altiva é fundamental, mas não é só isso. A soberania verdadeiramente somos nós que construímos: um projeto nacional, uma nação desenvolvida que tenha caminho tecnológico em setores estratégicos, que tenha uma indústria pujante, forte, que nos dê condições de enfrentar os principais problemas que o povo vai enfrentar, gerar empregos de qualidade, abrir perspectivas. São muitos aspectos que compõem a soberania de um país.
Esse debate valorizou muito a política do PCdoB, que sempre levantou a questão da soberania nacional com uma grande importância ao lado da luta pela democracia e pelos direitos sociais, isso sempre compôs a nossa linha política maior. E agora a questão da soberania nacional ficou mais clara para todo mundo.
Na nossa política interna, tivemos um fato político muito importante que é a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. A resolução política do PCdoB coloca a formação de uma frente ampla como estratégia para derrotar a extrema-direita em 2026. O que isso coloca para o PCdoB em termos de atuação partidária com foco nas eleições?
Nós debatemos bastante isso no Congresso e a resolução trata desse momento que o Brasil vive, que a gente pode destacar a luta vitoriosa na defesa da democracia, o aprofundamento e consolidação da democracia no país a partir da derrota do Bolsonaro na eleição e da derrota da tentativa de golpe e depois fazer as investigações, o julgamento, todo esse processo de prisões logo após a tentativa de golpe, mas principalmente de buscar onde estava a cabeça do processo golpista.
A prisão de pessoas que se envolveram no golpismo, que depredaram, que articularam essas manifestações ocorridas em Brasília foi muito importante, mas o mais importante é chegar no centro elaborador, condutor, patrocinador e promotor da tentativa de golpe.
Isso se conseguiu mesmo diante de muita pressão feita pelo campo bolsonarista, e mais recentemente com apoio do governo dos Estados Unidos. Então é uma grande vitória o julgamento, a condenação e, ao que tudo indica, a própria aplicação da pena, com a prisão do Bolsonaro e dos demais que encabeçaram o golpe.
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É uma vitória muito importante na luta contra essas forças de extrema direita, estejam elas absolutamente vinculadas ao Bolsonaro na disputa do ano que vem ou um pouco distanciadas. Nós vamos ver a dinâmica da direita e da extrema direita daqui para 2026, mas seja o que for, essa luta continua.
A prisão do Bolsonaro é muito importante, a condenação e prisão dos demais integrantes do núcleo golpista também, mas acontece que essa corrente que se estabeleceu no país, que tem base social, força material, financeira e parlamentar, com representação política no Congresso e fora dele, esta luta continua, persiste ainda forte para 2026.
Isso exige a formação de uma frente muito ampla no país. A continuidade da defesa da democracia passa ainda por 2026 e nós precisamos saber transmitir isso para a sociedade e para forças políticas intermediárias, que às vezes ficam pendendo para cá ou para lá. Nós temos que mostrar que isso é um perigo real no Brasil e no mundo.
Ao mesmo tempo, nós temos outro desafio de mostrar para o povo brasileiro que é possível continuar desenvolvendo um projeto nacional, porque também muitos problemas surgem aí, com muitas demandas e expectativas que ainda não foram atendidas no âmbito da luta social, da reindustrialização, do fortalecimento da economia nacional.
Tudo isso demanda um programa de avanços no país. A questão da segurança pública, que emergiu agora depois desse caso do Rio de Janeiro, já estava colocada desde o início do governo Lula, quando se discutiu se haveria o Ministério da Justiça e Segurança Pública ou dois ministérios.
A discussão apareceu por aí, mas o fato é que a questão da segurança pública já vem se tornando um problema realmente maior no país, que transcende as políticas só estaduais. Então nós temos que dar respostas aos problemas de fundo que permanecem no país.
Quando a gente entra em 2026, nós temos que entrar com esses dois objetivos: derrotar a extrema direita, impedir que eles retrocedam tudo o que foi feito, que volte ao estágio do que foi o governo Bolsonaro mas, ao mesmo tempo, abrir novos caminhos, novas perspectivas para um governo democrático e popular no país.
Com relação à própria conformação do PCdoB, a nova direção que assume a partir do 16º Congresso aponta também outros caminhos, como a paridade de gênero, a garantia de 50% de mulheres no Comitê Central do partido. O que isso coloca na discussão com a sociedade?
Isso foi um desdobramento muito natural da política que o partido já tem há muito tempo de valorizar a luta das mulheres. Desde sempre se envolveu na elaboração sobre como se daria a emancipação das mulheres nessa luta presente e na luta futura com vistas a uma sociedade mais avançada, pensada com vistas ao socialismo. Nós sempre debatemos muito isso e não só debatemos, como o partido sempre teve políticas de promoção da atividade das mulheres, do papel das mulheres no partido. Mas é claro que tem um impulso vindo da luta das mulheres na sociedade como um todo.
Os comunistas sempre tiveram essa ideia de lutar contra toda forma de opressão e sempre se identificaram em discutir a situação especial das mulheres nesse processo de opressão e dominação. Mas isso não quer dizer que a sociedade como um todo compreendesse isso.
Esse impulso que a luta das mulheres ganhou na sociedade como um todo, ajuda também internamente, impulsionou mais rapidamente essas decisões do próprio partido, de chegar ao Congresso com essa determinação de que a nossa instância máxima seja paritária.
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É um reconhecimento das duas coisas, da trajetória que o partido tem nessa questão, mas também, do grande impulso, da grande força da luta das mulheres na sociedade. Foi exatamente como apareceu no Congresso, nós vimos que a renovação do Comitê Central se deu objetivamente pelo ingresso das mulheres, porque entraram muitas mulheres trabalhadoras, sindicalistas, jovens. Tanto a renovação etária como também dos setores mais populares, das trabalhadoras, das novas camaradas que entraram no Comitê.
Nós achamos que isso vai dar os seus frutos a partir de agora. Isso foi um ponto de chegada, mas agora é um ponto de partida. Todas essas companheiras que vêm com muita vontade, com muita energia, muitas delas surpresas com a indicação, mas ao lado da surpresa tem muito entusiasmo, vontade de fazer uma trajetória importante, de contribuir com o partido. É uma energia realmente grande que a gente vai ter no próximo Comitê Central e nos comitês estaduais porque a gente fez 50% na direção nacional, mas pelo menos 45% nas estaduais, e alguns estados já fizeram paridade também.
Essa presença da mulher, no caso do PCdoB, não é uma presença formal, para cumprir uma regra, realmente nós temos muitos quadros, muitas mulheres em condições de assumir essa função, só que elas estão com uma primeira oportunidade e a gente sabe que isso vai dar muito resultado, vai se desenvolver muito forte nos próximos anos também.

Nádia Campeão faz intervenção no 16º Congresso do PCdoB, em Brasília, em 18/10/2025. À época, exercia a função de secretária de Organização do Partido. Na plenária final do Congresso, foi eleita vice-presidenta do PCdoB. Foto: Murilo Nascimento
O PCdoB integra o atual governo com a presidenta do partido, Luciana Santos, no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O que você destaca dessa atuação do partido no Executivo?
O grande destaque para a participação do PCdoB no governo do presidente Lula, é realmente a intervenção no Ministério de Ciência e Tecnologia, que a Luciana Santos se mostrou uma liderança à altura, não só de compor um ministério do presidente Lula, mas de liderar uma pasta estratégica. Poderia ter havido alguma dúvida, de alguns setores sobre os comunistas à frente do MCTI, uma pasta que tem uma complexidade grande, com grande presença de setores da ciência, da tecnologia e da inovação. Mas a gente mostrou, mais uma vez, que os comunistas têm bagagem, têm condições de dirigir desde pastas importantes na área social, como nós já dirigimos o Esporte durante muito tempo, e temos também acúmulo em áreas importantes, na Educação, na Saúde, na Cultura, no Trabalho. Em qualquer uma dessas áreas, nós certamente teríamos quadros à altura, mas no caso da Ciência e Tecnologia, o que ficou demonstrado é que o pensamento político e o projeto nacional que o PCdoB defende, passa pelo desenvolvimento econômico e pelo desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação. É assim que nós compreendemos o projeto nacional do Brasil.
Portanto, a gente conseguiu intervir e agir em uma dessas áreas chave, trabalho que tem sido feito com muita competência. Em todas as áreas importantes dessa frente o ministério está presente, tem opinião. Formulou alternativas, fortaleceu os investimentos em pesquisa em ciência e tecnologia, defendeu os fundos, defendeu as bolsas. Em todo projeto importante do país, o ministério está presente, nesse enfrentamento do tarifaço, no enfrentamento das plataformas, agora na COP30. A Luciana, portanto, tem integrado as delegações internacionais que o presidente Lula tem feito, porque é uma frente de negociação internacional muito importante.
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A gente só não deslancha mais, só não desenvolve mais rapidamente todos os projetos que o ministério tem, em função dos contingenciamentos pelo qual o governo passa, só não tem um protagonismo maior ainda, porque nós estamos vivendo um período de contenção, essa pressão para que o governo faça sucessivos ajustes, contingenciamentos no orçamento, essa imposição feita com o arcabouço fiscal que já se prolonga pelo governo todo e cada vez se exige mais, cada vez um superávit maior. O certo é que isso dificulta todas as pastas, todas as frentes de elas se desenvolverem.
Então, aqui tem um problema que precisa ser resolvido, enfrentado, na nossa próxima disputa, em 2026, que impacta todas as áreas de governo, mas ciência, tecnologia e inovação exige investimento, o Brasil investe muito pouco perante o que os outros países mais desenvolvidos investem e a gente precisa recuperar terreno em muitas áreas.
Falar de reindustrialização, sem que isso esteja colado com novos padrões tecnológicos, científicos é impossível. Então isso é investimento público, investimento de Estado e a gente não sente que está à altura, para corresponder a todos os projetos que devem acontecer no país. Por isso que nós vamos lutar em 2026 também para uma nova política econômica no comando da gestão pública.
A gente falou do Executivo, mas sabemos que o parlamento enfrenta uma situação que inclusive reflete nessa questão da verba disponível para o governo executar as políticas. Nesse sentido, como o partido tem pensado em estratégias para aumentar seus quadros, conseguir uma força maior no Congresso Nacional para travar também essa disputa?
Uma parte das nossas possibilidades virá justamente do enfrentamento das duas questões que eu coloquei: enfrentamento da extrema-direita, dessa armada de forças conservadoras, de parlamentares que estão votando; e tendo atitudes no Congresso Nacional à vista de todo o povo brasileiro, contra a opinião pública.
Na maior parte das vezes, para se conseguir aprovar um projeto mais avançado, é uma luta grande que só se realiza quando se consegue mobilizar a opinião pública, fazer manifestações de rua, manifestações de vários setores, como o caso do PL da Blindagem, como a situação da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, tudo isso veio no bojo de um enfrentamento.
É preciso ter muita nitidez durante a campanha, para que a população veja que precisa de alterações no Congresso, que é preciso ter mais transparência na utilização dos recursos orçamentários. É impossível que o Congresso fique determinando aquelas emendas que não se sabe bem a que se destinam, que acaba manipulando uma grande parte do orçamento que seria importante que somasse com o projeto do Executivo que foi eleito.
Nós precisamos dar transparência a essas decisões que foram tomadas no parlamento brasileiro e apresentar as alternativas. Precisamos de muitas lideranças, quadros que na campanha demonstrem essa possibilidade de enfrentar o conservadorismo da extrema direita, mas também de levar novas bandeiras para o Congresso Nacional, como o fim da escala 6×1, uma bandeira que atraiu muitos setores e mostrou a importância da luta no parlamento e da luta social conjugada. É preciso ter mais lutas desse tipo, que conjuguem a ação parlamentar e a luta social, envolvendo a população para que as pessoas percebam o que está acontecendo na vida nacional.
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A campanha vai ter muito peso, muito impacto para isso. E o PCdoB vai lançar candidatos a deputado federal e estadual no país inteiro e vamos participar da melhor forma possível das disputas majoritárias. É importante eleger governadores do nosso campo, a gente está vendo essa articulação de governadores da extrema direita, que tem peso e a gente precisa ter um contraponto forte a isso. Precisaríamos ter uma maioria de governadores democráticos, pelo menos, para fazer esse enfrentamento. A bancada no Senado será muito importante também.
Então, acho que nós vamos ter aí uma disputa com o objetivo de alterar a correlação de forças que existe hoje no parlamento e nos governos estaduais, para dar melhores condições para uma nova vitória do presidente Lula e um governo mais avançado. A expectativa de que vamos virar completamente a composição do Congresso Nacional não está dada de antemão, porque a extrema direita no país se estruturou, tem sua força, tem base social, tem lideranças e tem um discurso muito agressivo, que explora situações de medo, de uma revolta que não tem um canal para se expressar, mas sobretudo do medo, com a desinformação, a mentira.
Mas eu acho que hoje a gente enfrenta melhores condições do que há quatro anos atrás. Hoje a gente tem um ambiente mais democrático, lutamos pela soberania, mostramos onde estão os problemas e acredito que nós temos boas condições de aumentar a presença do nosso campo no parlamento, em especial a presença dos comunistas.
Nós vamos partir da reeleição dos nossos atuais parlamentares, mas vamos procurar ampliar, apresentando candidaturas em todos os estado. Temos confiança de que a gente consegue avançar nessa luta pela democracia no país.
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