A pornografia e a indústria do sexo
É fato conhecido que a prostituição existia durante a época greco-romana e também na antiga Mesopotâmia. No entanto, em muitos aspectos, estas mulheres eram mais liberadas sexualmente, pois não sofriam a estigmatização social por ter filhos com vários homens, e também podiam buscar um companheiro, como por exemplo as mulheres astecas. O que deu início à mudança foi a introdução da propriedade privada e da ideia da família nuclear, como definiu muito bem o marxista Friedrich Engels. Ele explicou que nossas relações com o mercado definem as relações pessoais e sexuais.
Assim, a família nuclear e a necessidade de filhos legítimos eram motivadas pelo acúmulo da riqueza e pela competição que dominava o mercado. Isso não só confinava a mulher aos limites do lar, como também lhe atribuía papéis de dona de casa ou cuidadora, encarregada do trabalho reprodutivo.
Dessa forma, o prazer sexual era negado ao casal, e o sexo se firmava como função reprodutiva. Isso reforçou em grande medida a ideia de gozar do sexo fora do lar, habitualmente com prostitutas.
Alienação das emoções
Esse processo histórico tem muito a ver com o boom atual da indústria do sexo. De novo, as mudanças econômicas criaram uma indústria que oferece um acesso fácil à satisfação sexual. O desenvolvimento da tecnologia e o ritmo de vida que levamos nos transformaram em máquinas, completamente alienados de nossas próprias emoções, e a indústria do sexo respondeu a isso. Transformou o sexo e os desejos humanos em produtos vendáveis e apelos econômicos.
Não devemos esquecer que uma característica fundamental dos mercados é a de transformar as relações sociais. Estima-se que as receitas anuais da pornografia sejam maiores que as das indústrias do futebol americano, beisebol e basquete somadas. É tão rentável que, a cada ano, movimenta até sete bilhões de dólares, uma cifra que nem sequer inclui a prostituição.
A indústria do sexo não existe em sua própria bolha, e sim na rede do capitalismo global. No Estado espanhol, só duas em cada 100 trabalhadoras do sexo são autóctones, o que mostra claramente a influência das reestruturações econômicas encabeçadas pelo FMI, as quais agravaram a polarização e a pobreza mundial. Para muitas das imigrantes presas na indústria do sexo devido à falta de trabalho e de documentos, simplesmente não resta outra opção. Nesse aspecto, são fundamentais sindicatos e organizações que defendam os direitos das trabalhadoras do sexo, para evitar condições de trabalho ainda mais precárias.
Ao contrário do que dizem as pós-feministas, a indústria do sexo não é um exemplo da liberdade sexual da mulher, pois fortalece a superioridade masculina como parte do sistema capitalista que tenta dividir a classe trabalhadora sob falsos preceitos, como o das "raças" ou o do gênero.
O exemplo que ilustra isso mais claramente é o fato de que os clubes de baile erótico e striptease são freqüentados majoritariamente por banqueiros e homens de negócios do setor financeiro. Não surpreende que este setor continue sendo um dos mais sexistas, onde as mulheres ainda precisam enfrentar muita pressão na questão sexual.
Não se trata de entrar na discussão sobre a liberdade das mulheres de escolher se querem ingressar ou não nessa indústria, já que as próprias forças do mercado e a maneira como se forma a cultura põem em dúvida essas ideias de suposta liberdade. A maioria das mulheres sofre uma pressão diária para ter uma imagem coisificada que domina nossa cultura e apoia-se no mercado capitalista.
A única maneira de combater essa opressão é, além de uma luta feminista, uma luta anticapitalista. O sexismo não poderá ser erradicado enquanto o sistema que o produz continuar em vigor.
Fonte: Opera Mundi