Maria chegou a Xambioá (TO) por volta das 11h da manhã e foi logo ao cemitério municipal onde ocorrem as escavações.No cemitério, acompanhou o trabalho das equipes de peritos e conversou com os médicos legistas (da Polícia Federal e do IML do DF), que estão trabalhando em uma ossada em uma área chamada “Cimento”.

Tal ossada pode ser do médico-guerrilheiro João Carlos Haas (“Juca”), morto pelo Exército em Setembro de 1972. Ele era um dos combatentes mais reconhecidos pela população por ter fundado os primeiros hospitais públicos na Região do Araguaia (Porto Nacional-MA, Tocantinópolis-TO e Porto Franco-TO). “É grande nossa expectativa sobre a ossada do “Juca”, declarou Paulo Fonteles Filho, que integra o GTA como representante do PCdoB, partido que protagonizou a Guerrilha.

Pelo final da manhã, a ministra recebeu uma “Carta dos camponeses do Araguaia à Ministra Maria do Rosário”, da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia. “No documento, os camponeses pedem o empenho da ministra à causa das reparações econômicas dos camponeses atingidos pela brutal repressão política”, destaca Fonteles.

Maria do Rosário se comprometeu em intermediar, junto à Justiça Federal do RJ, a derrubada da liminar do juiz federal José Carlos Zebulum. A ministra ainda marcou para tarde nova reunião com os camponeses para ouvi-los sobre a localização de ossadas.

Depois de reunir-se com a coordenação do GTA (SDH, MJ e MD) e com o general Madeira, Rosário participou de um almoço com autoridades locais e estaduais do Tocantins.

No Memorial da Guerrilha do Araguaia, em Xambioá (TO), obra do arquiteto Oscar Niemayer, a ministra reuniu-se com Ministério da Justiça e com o PCdoB para ouvir os camponeses.

Nesse encontro, ouviu relatos de torturas e execuções dos desaparecidos políticos na Base de Xambioá. Além disso, recebeu novas informações de sepultamentos (Oito Barracas, em São Domingos do Araguaia e Base de Xambioá) e o compromisso dos camponeses de fazer o levantamento das áreas.

Ainda nessa reunião, Paulo Fonteles apresentou, em nome do PCdoB, uma lista de agentes da repressão que participaram das Operações-Limpeza, entre os anos de 1976 até 2001 (todos ainda estão vivos).

Esforços

Tão importante quanto encontrar e fazer a identificação dos corpos de mortos e desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia é fazer com que a nação brasileira conheça parte de sua história, até hoje desconhecida. A declaração é da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário.

De acordo com a ministra, é dever do Estado brasileiro enfrentar suas contradições do passado e dar uma resposta à sociedade, especialmente aos familiares dos guerrilheiros desaparecidos que, segundo a ministra, foram os mais penalizados com as atrocidades cometidas durante a Ditadura Militar.

“Aquilo que ocorreu antes é responsabilidade das autoridades de hoje. O que nos move nesta importante missão é o sentimento de pertencimento. Se queremos um Estado mais democrático e igualitário, temos que desvendar todos os mistérios deste período. Para virarmos essa página, primeiro temos que lê-la”, afirmou Rosário. (Com informações da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República)

Buscas

Iniciadas na segunda-feira (25), as escavações estão concentradas em duas áreas do Cemitério de Xambioá, Axixá e Cimento. os locais são alvos de pesquisas que remontam à Primeira Caravana de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos na Guerrilha do Araguaia, em 1980, liderada pelo advogado Paulo Fonteles, morto pelo latifúndio em 1987. Acredita-se que a grande maioria de guerrilheiros mortos na primeira Operação de Cerco e Aniquilamento, das forças repressivas da ditadura militar ainda estejam sepultadas ali.

Fonte: Diário do Pará (Marabá)