PCdoB apresenta experiência brasileira no Peru, a convite da coalizão de Humala
Os comunistas brasileiros participam de ampla agenda em Lima, que inclui um encontro com o presidente Humala no dia de hoje, no Palácio do Governo.
Na terça-feira e quarta-feira, dias 26 e 27, a delegação do PCdoB participou do Seminário Internacional “Experiências de alianças políticas de governos de esquerda e progressistas da América Latina: os casos do Brasil, Chile e Uruguai”, promovido pelos quatro partidos peruanos do Foro de São Paulo. O sentido do Seminário, explicaram os organizadores, foi o de recorrer subsídios das experiências dos três países visando o governo que se inicia hoje.
O Seminário constituiu-se de três sessões, duas restritas às direções dos Partidos organizadores e uma pública. Na primeira sessão, na terça-feira, o senador Ernesto Agazzi, da Frente Ampla uruguaia expôs o curso da conquista do governo pela esquerda de seu país,enfatizando a rica experiência de unidade lograda por estas forças há mais de quatro décadas. Na mesma sessão, três partidos chilenos – Partido Socialista, Partido dos Socialistas Allendistas e Partido Progressista – apresentaram criticamente a experiência de 20 anos de governos da Concertacion, encerrados com a derrota para a direita em 2009. Os chilenos, em tom autocrítico, lamentaram a não execução de uma política de esquerda e apontaram para um processo de reconfiguração da unidade da esquerda chilena no próximo período.
Na noite de terça, num amplo teatro de Lima, com a presença de varias centenas de militantes dos quatro Partidos peruanos e de diversos Partidos latino-americanos que vieram ao país para a posse presidencial, ocorreu uma sessão pública do Seminário.
Em representação do PCdoB, Ronaldo Carmona (foto) expôs à esquerda peruana o longo caminho de unidade da esquerda brasileira que levou à vitória do presidente Lula em 2002; iniciada em 1989, com a aliança entre o PT, o PSB e o PCdoB, e após três reveses, as forças de esquerda somente lograram a vitória a partir de quando lograram, em 2002, constituir uma ampla aliança política e social, incorporando, na figura do saudoso José Alencar, setores produtivos descontentes com o curso neoliberal no Brasil.
O comunista brasileiro também ressaltou que para além da análise de experiências e traços comuns às experiências de esquerda na América Latina, é preciso mais que nunca considerar a atualidade do marxista peruano, fundador do Partido Comunista, José Carlos Mariategui, que em sua obra clássica 7 ensaios de interpretação da realidade peruana, adverte, que o socialismo é criação heróica, “sin calco ni copia”. Esta máxima, mais que nunca deve ser levada em conta pelas experiências progressistas latino-americanas, no sentido de que não há modelos a seguir, mas “criação heróica”.
No dia de ontem, foi a vez da dirigente do PCdoB, Jô Moraes, da Comissão Política Nacional do Partido, expor aos Partidos peruanos traços da experiência brasileira de oito anos de governo de Lula e dos primeiros seis meses do governo de Dilma.
Para a comunista brasileira, “a recente experiência brasileira, iniciada no ano de 2002, com a eleição do presidente Lula é parte do ciclo de mudanças que levou ao poder, em países latino-americanos partidos de esquerda, forças populares e nacionalistas, cujo gesto inaugural pode se dizer, deu-se simbolicamente com a eleição do Comandante Hugo Chaves, em 1998. A posse do presidente Olanta Humala, neste momento, após acirrada disputa com as elites locais é a comprovação de que este vendaval de mudanças está longe de ver concluído seus desafios”.
Jô ressaltou que, “para o PCdoB, a análise dessa experiência se faz levando-se em conta o que ela contribui para o avanço do caminho rumo ao projeto estratégico de construção socialista e o desenvolvimento da luta social em nosso país”
Em seguida, a deputada comunista mineira buscou extrair “alguns indicativos que podem ser tirados desse curto período de 8 anos e meio”.
Para ela, “por mais que o governo ceda, os tais “mercados” sempre atacam qualquer iniciativa de mudança; é necessário somar convicções, forças políticas e sociais para alcançar o momento de enfrentá-los”. Aludindo à experiência brasileira, Jô Moraes ressaltou que “alianças amplas são necessárias, mas é preciso que os partidos de esquerda e progressistas mantenham uma articulação especial para garantir a pressão política por mudanças. A grande dificuldade no Brasil é que isso não se dá. A principal aliança do partido hegemônico, o PT é com o PMDB, partido de centro, mantendo a dispersão das forcas mudancistas”. Para a comunista, “o debate sobre um Projeto Nacional de Desenvolvimento com distribuição de Renda ainda é limitado. Não há convicções na base do governo em torno de sua formulação” O principal desafio, diz Jô, é “elevar o nível médio de crescimento acima do alcançado nos governos Lula (em torno de 4% do PIB); e atingir uma taxa de investimento de 25% do PIB garantindo sua sustentabilidade”
Na mesma sessão, Ronaldo Carmona falou sobre a política externa brasileira, em especial da integração sul-americana. O brasileiro ressaltou o sentido geopolítico da vitoria das forças progressistas no Peru, no sentido de quebrar o chamado “arco do Pacifico”, aliança de países governados pela direita que buscavam reagir ao progresso da união sul-americana, em especial, à vértebra que vai da Patagônia ao Caribe, materializada no ingresso da Venezuela ao MERCOSUL. Carmona chamou atenção ao fato que “os quatro pontos cardeais” da geografia sul-americana – do Oceano Atlântico ao Pacifico, do Caribe ao Canal de Beagle – passam, com a vitória no Peru, a ser governado por forças que possuem convicções no caminho da constituição de um bloco sul-americano autônomo.
Encontro com Embaixador
A delegação do PCdoB realizou, no dia de ontem, visita à embaixada do Brasil e Lima, reunindo-se com o embaixador Carlos Alberto Lazary Teixeira. Recém chegado a Lima, o embaixador foi assessor internacional da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
O embaixador fez longa exposição sobre o estado das relações entre o Brasil e o Peru, ressaltando a decisão da presidente Dilma em ampliá-las e em apoiar o êxito do governo de Ollanta Humala.
Hoje a delegação do PCdoB participa das atividades de posse de Ollanta Humala.
Da Redação, com informações da Secretaria de Relações Internacionais