O teatro político da dívida pública distrai, enquanto a riqueza dos norte-americanos é assaltada
O furioso debate sobre a dívida oculta uma verdade fundamental da economia dos EUA – que ela é comandada por poucos, à custa dos muitos; que todo o governo dos EUA está convertido em máquina que assalta a riqueza dos norte-americanos e a empurra, aceleradamente, para as mãos dos poucos. Vejamos alguns exemplos.
Consideremos a guerra. A guerra assalta o dinheiro dos norte-americanos e o entrega aos fabricantes de armas, aos que lucram com a guerra e aos exércitos privados. A guerra no Iraque, baseada em mentiras: só essa guerra custará 3 biliões de dólares. A guerra no Afeganistão, baseada em leitura errada da história: meio bilião de dólares de gastos, só até aqui. A guerra contra a Líbia: em Setembro, já terá custado 1 bilião de dólares.
50% do orçamento aprovado dos EUA vai para o Pentágono. Uma massiva transferência de riqueza para as mãos de poucos, enquanto os norte-americanos padecem a falta de empregos suficientes, a falta de assistência pública à saúde, a falta de moradias, de segurança para os aposentados.
As nossas políticas de energia assaltam a riqueza dos norte-americanos e a põe nas mãos das empresas de petróleo. Estamos diante da possibilidade de só conseguirmos petróleo a 150 dólares o barril, em futuro próximo.
As nossas políticas para o meio-ambiente assaltam a riqueza dos norte-americanos e a põe nas mãos dos poluidores. É uma transferência de riqueza, não só das actuais gerações, mas também das futuras gerações, enquanto prossegue a ruína do nosso meio ambiente.
As empresas de seguros, o que fazem? Assaltam a riqueza do povo norte-americano quando o obrigam a pagar seguros-saúde e a entregam em mãos de poucos.
Os EUA têm de perceber em que a economia desse país foi transformada. A nossa política monetária, através da Lei que criou o Federal Reserve em 1913, privatizou o dinheiro social, assenhoreou-se da riqueza do país e a põe em mãos de poucos, porque a Reserva Federal sabe fabricar dinheiro do nada, para dá-lo aos bancos que vivem pendurados na Fed, enquanto os nossos pequenos negócios morrem por falta de capital.
Escrevam o que digo – Wall Streetnão se preocupa com os EUA darem calote nas suas dívidas, ou não. O pensamento que cria milhares de milhões em ‘resgates’ de bancos e empresas activas em Wall Street, com o Federal Reservedesperdiçando mais de 1 bilião, é o mesmo pensamento que criou, hoje, 26 milhões de norte-americanos desempregados. Nove, em cada dez norte-americanos com mais de 65 anos correm o risco de sofrer mais cortes na assistência social, para pagar uma dívida toda feita de baixos impostos para os mais ricos e de infindáveis guerras.
Há massiva transferência de riqueza do povo norte-americano para as mãos de poucos, e está a acontecer agora, neste instante, enquanto a atenção dos norte-americanos é desviada para o teatro político-mediático dessas ridículas negociações da dívida, ameaças de paralisar o governo e confesso desejo de obrigar muitos norte-americanos a pagarem dívidas que eles não criaram.
Todos esses são sintomas de governo sem rumo. E desafiam a legitimidade do sistema democrático bipartidário nos EUA.
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1 Membro da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, eleito por Ohio. Antigo candidato presidencial.
Artigo de Dennis Kucinich1publicado em commondreams.org traduzido pelo Colectivo da Vila Vudu e disponível em redecastorphoto.blogspot.com