A OTAN, Transformer final
A OTAN acaba de admitir que “provavelmente” foi responsável pela libertação humanitária das almas de nove civis líbios, mais 18 feridos, em ataque matinal contra um prédio de apartamentos em área densamente habitada em Trípoli.
A libertação de cidadãos norte-africanos que dormiam, e jazem hoje sob toneladas de ruínas, é evento que se soma à rotina de libertação, pela OTAN – e Pentágono – que já se viu em atividade em festas de casamentos pashtuns.
Esqueçam a conversa fiada das negativas ao estilo de Ministério da Verdade que nada nega nem afirma, envelopada em fórmulas de noticiário-mentira e duplifalar sobre “falha no sistema de armas”, ou a variedade “extremo cuidado nas ações”. Ou nada disso – já que a guerra contra a Líbia, que atende pelo codinome-duplifala de “Operação Protetor Unificado [ing. Operation Unified Protector], ruma para o quarto mês e mais de 4.300 ataques aéreos “humanitários”.
Afinal de contas, as guerras da OTAN – que já se espalham por todo o “arco de instabilidade” inventado pela OTAN, do Norte da África para o Oriente Médio, rumo à Ásia Central – são tão absolutamente contra regimes “pouco palatáveis” (filhos da puta, mas não os “nossos filhos da puta”) quanto são contra civis.
Exército-modelo
No nebuloso labirinto do Ministério da Verdade da OTAN – que inclui esquemas como Parceria pela Paz, Iniciativa de Cooperação de Istanbul, Diálogo Mediterrâneo, para citar alguns –, encontram-se virtualmente todos os membros já sócios-proprietários ou ainda sócios-aspirantes ao Clube Contrarrevolucionário do Golfo (também conhecido como Conselho de Cooperação do Golfo [ing. Gulf Cooperation Council (GCC)], além das monarquias servis da Jordânia e do Marrocos. Esses casos exemplares de democracia andam, todos, muito empenhados em libertar os pobres e oprimidos do mundo inteiro, por razões “humanitárias”.
Aquele repulsivo oportunista dinamarquês e secretário-geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen anda em viagem superturbinada pela Europa. Só faz se autopromover: “a OTAN é mais necessária e desejada do que nunca, do Afeganistão ao Kosovo, da costa da Somália à Líbia. Nunca antes trabalhamos tanto!”
Mas nem todo esse ímpeto desvairado pró-pensamento belicista atlanticista basta para o secretário de Defesa dos EUA Robert Gates – para o qual a OTAN não seria suficientemente letal nem estaria exorbitando suficientemente. Considerando que a OTAN não passa de braço europeu armado do Pentágono, tem-se aí um caso clássico de machos tipo EUA-é-de-Marte, que gostam de humilhar a Europa-é-de-Vênus.
Até ali, a fala mais sinistra do sinistro Rasmussen havia sido “nós podemos ajudar a Primavera Árabe e levá-la a verdadeiro desabrochar”. É a senha para bombardear a Líbia sem trégua; ativar o mais feroz lobby a favor de intervenção “humanitária” na Síria e, por que não?, também para iniciar a “libertação humanitária” à bomba, na Argélia e até no Líbano.
Quanto ao Egito e à Tunísia, Rasmussen já resolveu que a OTAN deseja re-treinar todos os exércitos que por lá existam – operação copiada do retreinamento que estão aplicando atualmente ao Iraque. Os tentáculos dos Transformers alcançam todos os cantos do mundo.
A guerra contra a Líbia começou como primeira guerra africana do Africom [Comando da África] do Pentágono – lembram a Operação Alvorada da Odisseia? – e depois virou primeira guerra mediterrânea, além de africana, da OTAN. A agenda visível da OTAN é reinar no Mediterrâneo. O antigo mare nostrum dos romanos, convertido em laguinho da OTAN.
Só isso explica que Pentágono/OTAN estejam hoje fazendo exercícios navais no Mar Negro (“Operação Brisa do Mar 2011” [orig. Sea Breeze 2011]), ao largo da Ucrânia e muito próximo de Sebastopol, onde está ancorada a frota russa do Mar Negro.
Além do Pentágono, estão lá o Reino Unido, Azerbaijão, Argélia, Bélgica, Dinamarca, Geórgia, Macedônia, Moldávia, Suécia, Turquia e Ucrânia. Todos esses – exceto Argélia e Moldávia – estão também em outro esquema da OTAN: todos fornecem soldados para a guerra da OTAN no Afeganistão.
“Brisa do Mar 2011” não é título de canção pop: é gesto de declarada provocação que envolve a Síria. A frota russa no Mar Negro tem base na Síria – quer dizer, no Mediterrâneo. O Pentágono/OTAN quer que se vão de lá. Portanto, a troca de regime da Síria é imperativo categórico.
Com o que se vê que a Líbia é só o começo. O embaixador russo na OTAN, Dmitri Rogozin, foi rápido: “A guerra na Líbia significa (…) o início da expansão [da OTAN] para o sul.”
A OTAN Transformer – o Robocop global – está em marcha, do sudeste da Europa ao leste do Mediterrâneo, do Golfo Persa ao sul e centro da Ásia. Glória ao exército-modelo! Civis que estejam no lugar errado, na hora errada, corram! Procurem abrigo!
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Fonte: Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MF21Ak01.html
Tradução: Vila Vudu