Foi inspirado em um projeto do professor Alberto Torres, do início do século, na época dos grandes diagnósticos do Brasil, e esboçado pelo Grupo Itatiaia, que reunia intelectuais do Estado do Rio de Janeiro e de São Paulo, defensores de um nacionalismo menos radical que o nele defendido. O Grupo Itatiaia era liderado pelo professor Hélio Jaguaribe que articulou uma instituição denominada Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP). Esta instituição foi responsável pela edição da Revista Cadernos de Nosso Tempo (1953 a 1956) e que viria a se constituir no núcleo do futuro ISEB.

O ISEB iniciou suas atividades quando Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República. Com plena liberdade de cátedra, caracterizou-se por promover o debate sobre os problemas nacionais.Constantes na pauta das discussões promovidas pelos intelectuais do Instituto estavam a filosofia, a história, a economia, a sociologia, a política e a cultura. O principal objetivo da instituição era servir de instrumento para o desenvolvimento de uma ação política na conjuntura econômica e social brasileira dos anos 50, formando quadros para o Estado e para a sociedade brasileira. Para tanto, apresentava-se como um órgão de vanguarda do pensamento desenvolvimentista , reunindo os mais conceituados intelectuais da esquerda, da direita ou do centro. Conviviam no ISEB liberais, socialistas, marxistas, democratas, nacionalistas e antinacionalistas, defensores do capital estrangeiro, como o economista Roberto Campos, enfim nomes como: Ignácio Rangel, Miguel Reale, Sérgio Buarque de Holanda, Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Cândido Mendes de Almeida, Cândido Motta Filho, Josué de Castro, Álvaro Vieira Pinto e Nelson Werneck Sodré, sob a direção do filósofo paulista Roland Cavalcanti de Albuquerque Corbisier.

Era o ISEB constituído de cinco departamentos: o de filosofia, chefiado pelo professor Álvaro Vieira Pinto; o de História, chefiado pelo professor Cândido Mendes, com coordenação no curso de História Brasileira do pensador marxista e militar Nelson Werneck Sodré; o de Sociologia, chefiado pelo sociólogo Alberto Guerreiro Ramos; o de Ciência Política, chefiado por Hélio Jaguaribe; o de Economia com Evaldo Correia Lima, cujo mais destacado colaborador foi Ignácio Rangel.

Apesar das diferentes convicções filosóficas, pode-se detectar que o nacionalismo e o desenvolvimentismo estavam no centro das metas isebianas. Esses pensadores acreditavam que poderiam formular um projeto ideológico comum para o País.

Afinados com a política desenvolvimentista de JK, os intelectuais do ISEB receberam apoio do presidente que, em declarações públicas, prestigiou a instituição, definindo-a, como um centro de estudos e pesquisas, que se diferenciava dos demais órgãos universitários por estar voltado para o estudo dos problemas brasileiros.. Entretanto, JK criou o Conselho de Desenvolvimento exatamente com essa tarefa e a ele não pertencia nenhum membro do ISEB.

O ISEB, além da publicação de livros e da realização de seminários de estudos e da promoção de pesquisas, oferecia cursos e outras atividades intelectuais.. Entre elas, empenho maior na organização dos debates políticos, cuja tônica era sempre o desenvolvimento nacional e a construção de uma ideologia do desenvolvimento, visando ao processo de transformação, à possibilidade de diminuir os abismos sociais, quando o estágio de uma sociedade industrialmente desenvolvida fosse atingido.

Ao longo de sua existência, podemos distinguir dois momentos na vida do Instituto. O primeiro (1955-1959) foi o da criação, que coincidiu com o período desenvolvimentista do governo JK. Nessa fase, o grupo de intelectuais aderiu à candidatura JK.

Vale lembrar que na década de 50, a ideologia do desenvolvimento nacional era o idioma político alavancado pelo presidente “bossa nova”, que deu a grande virada do capitalismo brasileiro, construindo a nova capital, favorecendo a entrada de tecnologia e capital estrangeiro, correndo à sombra do desejo da nação em superar o seu atraso.

O segundo e último momento do ISEB foi a fase que criticou as teses desenvolvimentistas. Decorridos cinco anos do governo, a realidade indicava que o país crescera economicamente, com a consolidação do capitalismo industrial, mas não tinha resolvido seus problemas sociais e as desigualdades tinham aumentado. Nessa fase houve uma maior politização e homogeinização ideológica do instituto norteado pelos filósofos Vieira Pinto e Roland Corbisier e pelo historiador Nelson Werneck Sodré, que privilegiavam as mudanças sociais, econômicas e as reformas de base defendidas pelo governo João Goulart, acompanhando a radicalização do país. Esses três intelectuais foram as referências dessa segunda fase..

O ISEB assumiu uma posição mais agressiva na crítica dos lucros das empresas estrangeiras, da remessa de lucros, da distribuição de renda e da transformação da estrutura agrária. A harmonia de idéias sofreu fissuras no ano de 1958, uma crise que provocou uma cisão, nas palavras de Nelson Werneck Sodré, “ inoportuna, inadequada, sectária”. De um lado, estavam os que defendiam maior participação do capital estrangeiro, isto é, apoio à plataforma do governo. De outro lado, ao contrário, os que desejavam radicalizar a posição nacionalista.

Após a crise, o ISEB reformulou suas atividades, ampliando os seus cursos, até então dirigido a alunos indicados pelo serviço público, a exemplo do que já fizera a Fundação Getúlio Vargas. A meta agora era atingir um público maior.Nesse sentido, passou a oferecer cursos regulares a militares, estudantes, sindicalistas, empresários, parlamentares, artistas, profissionais liberais, etc. Produziu, também, pequenos livros, de linguagem accessível e didaticamente elaborados, dirigidos às camadas menos privilegiadas e às classes trabalhadoras, denominados Cadernos do Povo.

Por intermédio do sociólogo do ISEB, Carlos Estevão Martins, o Instituto construiu um canal com a UNE, atuando junto ao CPC – Centro Popular de Cultura, criado em 1961, que reuniu artistas de diversas áreas, objetivando a construção de uma cultura popular e democrática. Segundo o seu criador e primeiro diretor, Carlos Estevão, o CPC nasceu inspirado no grupo paulista do Teatro de Arena que também atuou no Rio de Janeiro. Seguiu-se uma temporada de apresentações de peças políticas, elaboradas com humor e que fizeram muito sucesso: Eles não usam black tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que mais tarde virou filme com Fernanda Montenegro; Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho; A mais-valia vai acabar, seu Edgard, de Oduvaldo Vianna Filho e Francisco de Assis, musicado por Carlos Lyra, que analisava didaticamente o conceito ideológico da teoria marxista. Durante um ano, de 1961 a 1962, o CPC, juntamente com o ISEB, produziu dezenas de peças, com a colaboração de muitos artistas, poetas, escritores, atrizes e atores, encenadas nos diversos teatros cariocas e também nos locais de trabalho, além da organização de feiras de livros com shows musicais. Selando a parceria ISEB e UNE, as edições dos Cadernos Brasileiros e a História Nova de um dos artífices do ISEB, Nelson Werneck Sodré.

A lembrança que guardo dos meus professores no ISEB são todas muito ricas. O convívio com aquelas inteligências era muito gratificante. Entretanto, recordo que as mais marcantes foram as presenças dos professores Cândido Mendes de Almeida e Nelson Werneck Sodré. O primeiro pela impressão avassaladora que causavam a sua exuberância e a sua erudição, expressas nas aulas ininteligíveis para nós, ainda graduandos. Ficávamos ali como a massa ficava em Roma ouvindo Cícero: não entendia nada, mas permanecia siderada, embalada pela musicalidade do discurso.

O segundo era uma figura simples de um general aparentemente tímido que lecionava História do Brasil, plenamente identificado com o materialismo histórico. Estatura mediana, cabelos, olhos e farto bigode escuros, ministrava suas aulas, de pé, cuja característica era a seriedade. Passava tanta verdade e seriedade, que no auditório o silêncio era profundo. Impossível negar a importância que as sínteses interpretativas da história brasileira apresentadas por ele causavam nos corações e nas mentes de seus alunos. A popularidade do professor Nelson Werneck Sodré entre os estudantes de História e de Ciências Sociais foi típica dos meados dos anos 50 e 60. Seus livros eram leituras obrigatórias. Fiel às suas ideias e ao socialismo, defendeu sempre as suas posições, o marxismo, o ISEB, suas obras, até a sua morte em 1999.

Em entrevista que deu, em maio de 1988, Nelson Werneck Sodré, talvez último historiador marxista ortodoxo, analisou, dentre outras coisas, a atuação do ISEB, afirmando que, no ano de 1964, o Instituto já não desfrutava do prestígio dos anos anteriores. Para ele, a esquerdização tinha levado a instituição ao isolamento

Nos primeiros dias de abril de 1964, o ISEB e a UNE foram destruídos pelo golpe militar que depôs o presidente João Goulart no dia 31 de março. A biblioteca e o arquivo do ISEB foram queimados. A sua sede na Rua das Palmeiras 55, foi abandonada, para tempos depois, sediar o Museu do Indio que veio transferido do Maracanã.

Repetindo as palavras do professor Caio Navarro de Toledo, da UNICAMP, que, em artigo publicado na Folha de São Paulo, analisou as metas isebianas: “ O ISEB foi, no Brasil contemporâneo, a instituição cultural que melhor simbolizou ou que melhor concretizou o ideal do engajamento do intelectual na vida pública e social do país”.

Se a produção dos intelectuais que compuseram o ISEB é vasta, a produção teórica, os estudos monográficos sobre o ISEB ainda são relativamente pequenos. E os estudos produzidos no exterior não foram traduzidos e publicados no Brasil.

No entanto, conseguimos levantar uma bibliografia geral sobre o assunto que disponibilizamos e se encontra na secretaria do IHGRJ.

Desejei passar impressões muito pessoais sobre a instituição e o professor general que ajudaram a me formar.

___________

Pós-doutora, historiadora e museóloga

Artigo publicado no livro História e Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: IHGRJ, 2008, p. 457-462.