Em geral, os pesquisadores que buscam informações sobre esses fascinantes personagens encontram apenas fatos que emergem da memória dos que com eles conviveram. As normas de segurança — que a rigor eram regras de sobrevivência para quem passou a maior parte da vida em tarefas consideradas ilegais e duramente perseguidas pela repressão —, faziam com que qualquer registro escrito se transformasse em documentos comprometedores.

As informações sobre as atividades dos dirigentes do Partido eram passadas individualmente, e delas tinham conhecimento poucas pessoas empenhadas em determinados tipos de ações e tarefas. Daí o valor, para os comunistas e para o povo brasileiros, de um documento como esse. Esta entrevista, disposta em áudio límpido em quase sua totalidade, foi realizada na cidade de Roma, Itália, em junho de 1979, meses antes da morte de Arruda. Ela deveria ser publicada no Brasil, mas, incompleta, ficou guardada esse tempo todo por ter sido interrompida pela morte repentina de Diógenes Arruda no dia 25 de novembro de 1979. Os entrevistadores são os jornalistas Albino Castro e Iza Freaza, com a participação de Rosenthal Calmon Alves, então correspondente do Jornal do Brasil em Madrid.

Albino Castro era, na época, correspondente do jornal O Globo, em Roma, enquanto Iza Freaza, sua ex-mulher, colaborava com o Pasquim. A entrevista foi uma iniciativa de Albino Castro (que tinha e tem, como ele diz, grande admiração pela história do Diógenes Arruda), que pensava em publicá-la, quando completada, no Pasquim — um jornal que incomodava muito a ditadura militar com suas críticas em tom jocoso. Estava presente também a viúva de Arruda, a pintora pernambucana Teresa Costa Rego, que vive hoje em Olinda.

Albino Castro foi diretor de jornalismo da Rede Gazeta de Televisão, é ex-diretor de jornalismo do SBT (1988 a 1998) e ex-diretor dos serviços eletrônicos e televisivos da Gazeta Mercantil (1998-2001). Na Europa, além de ter sido correspondente de O Globo e da revista IstoÉ, sediado, primeiro em Madrid (1975 a 1977), e, depois, em Roma (1977 a 1988), foi chefe de redação da Telemontecarlo (1985-1988). Iza Freaza voltou ao Brasil em 1984.

Logo após conceder essa entrevista, Diógenes Arruda viajou para o Brasil e morreu no dia em que João Amazonas voltava do exílio. Nesse dia, Arruda, agitado por natureza, foi ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde houve uma calorosa recepção a João Amazonas. Outro evento de saudação ao dirigente comunista recém-chegado estava programado para o Sindicato dos Metalúrgicos, no centro da cidade. Quando o carro no qual estavam os dois históricos comunistas brasileiros trafegava pela Avenida 23 de Maio, Diógenes Arruda sentiu-se mal. O carro alterou o trajeto, em direção ao hospital mais próximo, mas quando chegaram ele já estava morto — atingido por um ataque cardíaco fulminante.

Aqui está, portanto, apenas a primeira parte da entrevista. De qualquer forma, o que foi relatado retrata um período importantíssimo da história do Partido Comunista do Brasil. Descontraído, rindo bastante e falando com bom humor, Diógenes Arruda discorre — dentro dos limites que uma entrevista de poucas horas e naquelas circunstâncias permitem — sobre a história dos comunistas no período que vai de 1934 a 1954. Ele falou por quase três horas ininterruptamente e, cansado — já estava com 67 anos de idade —, pediu para interromper a conversa, que lamentavelmente não pôde ser retomada. Aqui ele dá uma lição de vida, uma lição de militância comunista.

Ouça a entrevista aqui.

Se preferir, leia a entrevista, com notas explicativas, aqui