Um pouco dessa história está no texto a seguir escrito especialmente para Princípios pelo jornalista e escritor paranaense Luiz Manfredini, com fotos de Oswaldo Jansen que, na época, havia documentado a rebelião para o jornal O Estado do Paraná.

À casa do farrapo (1) João Saldanha chegaram, de surpresa, oito dos melhores jagunços da Companhia Comercial e Agrícola do Paraná, liderados por Lourenço José da Silva, o Maringá. O colono evitou o confronto, escapou pelos fundos, junto com um filho de oito anos, internou-se no mato. Os jagunços encontraram a mulher e duas crianças de cinco e dois anos. A mulher, seviciaram-na os oito. Depois cortaram um seio, em seguida outro e, por fim, decapitaram-na. As crianças choravam e gritavam em volta da mãe que se esvaía em sangue. Os homens pilharam a casa e incendiaram-na. Um deles atirou na cabeça do menino de cinco anos, enquanto outro lançou para o ar o menor, de dois anos, e Maringá o espetou com a adaga. O colono João Saldanha, metido no mato, a tudo assistiu. Perdeu a razão.

Eram os primeiros dias de outubro de 1957. A região – o Sudoeste do Paraná – estava virtualmente conflagrada. A violência contra o farrapo João Saldanha e sua família apenas coroava longo e truculento processo de atrocidades que vinham sendo cometidas por companhias de terras contra os colonos, em sua grande maioria pequenos agricultores gaúchos e catarinenses ali chegados há pouco tempo na expectativa quase desesperada de reconstruir suas vidas no novo Eldorado paranaense. Mas havia as companhias, instaladas na região a partir de 1951. Elas trouxeram uma violência endêmica que atingiu inusitado paroxismo entre março e outubro de 1957.

Poucos escaparam das garras dessa violência. O vereador Pedro José da Silva, o Pedrinho Barbeiro, de Pato Branco, preparava-se para ir ao Rio de Janeiro – então Capital da República – enviado pelos colonos do Distrito de Verê para indagar das autoridades federais sobre a legalidade das exigências das companhias. Era o mês de maio de 1957. Foi assassinado em sua casa pelo jagunço João Alves da Silva, o Pé de Chumbo, pouco antes de seguir viagem. Em agosto, um grupo de colonos também de Verê dirigia-se aos escritórios das companhias. Seguia pela avenida principal, tendo à frente um colono conhecido como Alemão. Não queriam confronto, apenas explicações a respeito de suas posses.

Alemão enrolou-se numa bandeira do Brasil, melhor assim para demonstrar propósitos pacíficos. Envolto na bandeira, marchando na avenida principal do Distrito de Verê à frente do grupo de posseiros, com a cabeça cheia de intentos ordeiros, foi trespassado pelas balas dos jagunços.
Vigia, de fato, a lei do mais forte, a "lei do cão", a lei das poderosas companhias imobiliárias.

Protegidas pelo governo Moisés Lupion, do PSD, beneficiadas pela cumplicidade da polícia estadual, armaram sanguinário exército privado e instalaram, no Sudoeste paranaense, terror jamais visto. A despeito das dificuldades impostas pela situação de beligerância, o então senador, Othon Mader (UDN), conseguiu documentar, entre março e outubro de 1957, 14 mortes, dois desaparecimentos e 47 outros casos de espancamentos, sevícias, mutilações, estupros, assaltos, saques, incêndios etc.
O povo, de sua parte, nunca se manteve passivo. À espiral de violência perpetrada pelas companhias, reagiu. Primeiro reclamando providências das autoridades, encaminhando cartas e abaixo-assinados. Depois, quando tais instrumentos se revelaram, afinal, inócuos, até porque autoridades e companhias se constituíam num único interesse espoliador, partiu para a luta aberta. Era o que restava fazer. O povo fez, então, a guerra pela posse da terra, eclodida poucos dias após a chacina da família de João Saldanha. Fez o que os atuais moradores do Sudoeste do Paraná ainda chamam, com indisfarçável orgulho, de "a revolução", e o que a imprensa da época, com estardalhaço compreensível, qualificou de "movimento revolucionário popular". Era o dia 10 de outubro de 1957.

TERRA DE GUERRAS E DISPUTAS

O Sudoeste paranaense sempre foi palco de exacerbadas disputas a começar pela chamada “Questão de Palmas", litígio territorial entre Brasil e Argentina envolvendo uma área que hoje corresponde a praticamente todo o Oeste catarinense e o Sudoeste do Paraná. Dissenções a respeito da interpretação dos tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), que demarcara as fronteiras entre as possessões portuguesas e espanholas na América do Sul, conduziram à exaustiva polêmica entre ambos os país: que se arrastou de 1881 a 1895 quando, finalmente, o presidente Grover Stephen Cleveland, dos Estados Unidos, árbitros da questões, deu ganho de causa ao Brasil.

Esta mesma área, na época, pertencia ao Paraná, cujas fronteiras meridionais se estendiam até o Uruguai, encontrando o Rio Grande do Sul. Era, no entanto, território judicialmente reivindicado por Santa Catarina a partir de 1901, que demandou prolongada pendência entre os dois estados, somente resolvida em 1916. O Paraná perdeu para o estado vizinho 28 mil quilômetros quadrados de seu território original.

A região contestada era, verdadeiramente, uma terra de ninguém À população mais antiga, nativa somavam-se os ex-integrantes das tropas federalistas de Gumercindo Saraiva, ali estabelecidos após a derrota da revolução de 1893-95, desertores das polícias estaduais, foragidos da Justiça dos estados meridionais, negros e mulatos descendentes de escravos. Praticamente ignorados pelas administrações de Paraná e Santa Catarina, trabalhavam em posses, ou então como peões de latifundiários, agregados nas fazendas, tropeiros.

A construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande, entregue multinacional Brazil Railway Co., de capital norte-americano e inglês, veio, a partir do início deste século, desencadear o que mais tarde ficou conhecido como a "Guerra do Contestado". O pagamento pela construção da estrada de ferro seria feito preferencialmente por terras devolutas. As situadas a oito quilômetros de cada lado da estrada seriam tituladas aos norte-americanos. Por esta razão, o trecho entre União da Vitória (PR) e Marcelino Ramos (SC) foi projetado e executado com profusos ziguezagues, aumentado a quilometragem e, por conseguinte, o volume de terras a ser entregue aos norte-americanos. Vale dizer: grande parte da região contestada entre Paraná e Santa Catarina passou para mãos estrangeiras. O Trust Farquahr de Portland, Maine (EUA), que controlava as ações da Brazil Railway Co., resolveu expulsar os posseiros das terras que lhes foram tituladas. Para tanto, chegou a organizar uma polícia privada, que se fardou e armou e passou a cometer violências.

Para construir a ferrovia, a empresa norte-americana contratou heterogênea força de trabalho composta por filhos de imigrantes poloneses, trabalhadores urbanos, presidiários retirados de penitenciárias brasileiras. Os atrasos nos pagamentos criaram, entre estes trabalhadores, um clima de tensão e revolta e fizeram-nos potencialmente aliados dos posseiros expulsos das suas terras. Estava formada a base social para a revolta afinal ocorrida entre 1912 e 1915 e que terminou com a derrota dos sertanejos somente após 13 cruentas expedições do Exército. Assentada na luta pela terra, a revolta teve, no entanto, forte conotação messiânica, através da ação de um lendário monge que agia na região e canalizou sobre si as esperanças e o desespero das populações espoliadas. Além disso, houve um ingrediente de apego à monarquia, identificada a República como força opressora. Daí ter surgido, em 1914, a idéia esdrúxula da chamada Monarquia Sul Brasileira, que abarcava os estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e incluía a anexação do Uruguai. Patrocinada por um tal Manoel Alves de Assunção Rocha, a despropositada idéia não teve outro destino senão o de ingressar no anedotário político regional.

OS IDEAIS SEPARATISTAS

Outra iniciativa separatista foi a pretendida criação do Estado das Missões, englobando parte do Sudoeste paranaense e mais de dois terços do território de Santa Catarina. A idéia foi acalentada por lideranças da região de litígio entre ambos os estados, depois que o Supremo Tribunal Federal havia dado ganho de causa aos catarinenses. Chegou-se a criar uma Junta Governativa Provisória e a fixar, como Capital do novo estado, a cidade paranaense de União da Vitória. Os patrocinadores da articulação organizaram uma sublevação marcada para o dia 30 de junho de 1916, que acabou abortada.

O abandono a que o Sudoeste paranaense e o Oeste de Santa Catarina continuaram relegados, manteve acesos os ideais separatistas. Eles tornariam a efervescer a partir da década de 1930, obtendo, desta vez, a vitória com a criação, em 1943, do Território Federal do Iguaçu. Foi, no entanto, experiência efêmera, extinta dois anos após. Nos anos 1950, com o boom migratório de gaúchos e catarinenses para o Sudoeste do Paraná, a idéia separatista retornou, agora encarnada na proposta da criação do estado do Iguaçu. Em 1962 chegou a ser criada uma Comissão Executiva Pró-Criação do Estado do Iguaçu. Em 1968 o movimento atingia seu apogeu, mas foi nocauteado pelo AI-5. Anos mais tarde, e ainda hoje, de quando em quando o tema volta à baila, mas o Sudoeste encontra-se definitivamente integrado ao conjunto do Paraná, de modo que o separatismo residual fica por conta da nostalgia de um ou de outro mais resistente à modernidade.

AS COMPANHIAS EM CENA

Em novembro de 1950, a Clevelândia Industrial Territorial Limitada (Citla) recebeu da Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional (SEIPN) a titulação de duas grandes glebas que correspondiam a quase todo o território do Sudoeste paranaense, num total de 484.680 hectares de terras. Tratava-se de espaço inteiramente contestado, já que, em determinados períodos, para a mesma área chegaram a existir, concomitantemente, nada menos que cinco "proprietários": a Citla, a firma Pinho e Terras Limitadas, o governo do Paraná, a União e os posseiros. A área titulada à Citla englobava uma faixa de fronteira com a Argentina, a Colônia Agrícola Nacional General Osório (Cango), criada pelo governo federal em 1942, diversas propriedades particulares, as posses dos agricultores acolhidos pela Cango (cerca de três mil famílias) e ainda as sedes distritais dos municípios de Santo Antônio do Sudoeste, Capanema e Francisco Beltrão.

Além disso, a transação em si entre a Citla e a SEIPN abrigava numerosas irregularidades. A Constituição Federal proibia a venda de terras na faixa de fronteira sem a devida autorização do Conselho de Segurança Nacional e exigia, para a concessão de terras públicas com mais de 10 mil hectares, a indispensável autorização do Senado Federal. Um Decreto de 1946, por outro lado, obrigava a SEIPN a realizar a venda de terras situadas em Paraná e Santa Catarina através de concorrência pública. A transação entre a Citla e a SEIPN burlou todas essas disposições legais. Por isso, foi logo contestada e iniciou-se complicada e longa disputa judicial.

A companhia, no entanto, não esperou nenhuma definição da Justiça para instalar-se na região, em 1951. Afinal, o Sudoeste paranaense era região riquíssima. Abrigava, na época, a invejável quantidade de seis milhões de araucárias (2). Era a maior reserva mundial. A quantidade de pinheiros era, de fato, tão pródiga, que no inverno as pinhas se soltavam e o solo ficava inteiramente coberto por um tapete avermelhado de pinhões. Ademais, eram pinheiros enormes, de 80 centímetros de diâmetro aproveitável, o suficiente para 20 dúzias de tábuas.

Acontece que, logo após sua instalação na região, a Citla viu-se golpeada por ato do então governador Bento Munhoz da Rocha Neto, impedindo as transações da companhia até que houvesse a devida decisão judicial sobre a questão da propriedade daquelas terras. A Citla só veio a ter livre curso na área a partir de 1955, com a eleição, ao governo do Paraná, de Moisés Lupion, a ela ligado. Até esse momento, dedicou-se a fazer propaganda de seus direitos sobre a região e a promover encontros, reuniões, churrascadas, farto foguetório e muita festa para ampliar sua força política local. Já nesta época, a população procurava garantir os seus direitos. Cerca de 250 cidadãos do povoado de Marrecas (futura Francisco Beltrão) assinaram manifesto criando uma Comissão Permanente encarregada de articular a defesa dos seus interesses diante do litígio de terras.

A partir de 1955 a Citla começou a atuar além das suaves programações sociais e da mera propaganda. Liberada pelo governo Moisés Lupion, tendo a cobertura da polícia e demais autoridades estaduais, além de políticos do PSD, rapidamente contratou truculento exército de jagunços – ex-presidiários e assassinos profissionais que já haviam atuado nas disputas fundiárias ocorridas alguns anos antes no Norte do Paraná. Trouxe para a região duas subsidiárias: a Companhia Comercial e Agrícola do Paraná, ou simplesmente Comercial, e a Companhia Imobiliária Apucarana. A Citla passou a atuar basicamente na sede de Francisco Beltrão; a Comercial ficou com o Interior desse município e ainda Verê e Dois Vizinhos; a Apucarana ficou com Capanema e Santo Antônio. E, assim articuladas, instalaram o terror.

OS SONHOS DO NOVO ELDORADO

A ocupação intensiva do Sudoeste paranaense deu-se a partir dos anos 1940, em especial na década seguinte, quando ali aportaram os migrantes gaúchos e catarinenses descendentes de europeus. Até então a população era formada predominantemente por caboclos de origem paranaense. Nos anos de 1954-55 a corrente migratória avoluma-se ainda mais, com o elemento gaúcho – que o caboclo nativo chama de gringo – sendo o predominante.

A partir de 1938, mediante uma política de ocupação de espaços vazios, Getúlio Vargas tentou viabilizar a estratégia da chamada "Marcha para o Oeste". Era política conjunta dos governos federal e estadual visando à integração de novas áreas no processo de alargamento da fronteira econômica. Dentro dessa estratégia é criada, em 1942, a Colônia Agrícola Nacional General Osório (Cango), de importância decisiva para a colonização do Sudoeste do Paraná. Foi ela a principal responsável pela vinda dos posseiros – verdadeiramente o elemento básico no povoamento e colonização desta região paranaense. Mas como a área encontrava-se sub-judice, a Cango não pôde fornecer aos agricultores o título da terra. Municiava-os tão somente com um protocolo, de modo que estes agricultores eram uma espécie de posseiros oficiais. Outros, não vinculados ao projeto da Cango, também chegaram aos montes à região, assentavam-se em algum pedaço de terra, erguiam ranchos e punham-se a produzir.

Em março de 1957 a Citla começou a realizar medições e a fazer ruidosa campanha pelas emissoras de rádio de Pato Branco e Francisco Beltrão no sentido de que os colonos se dirigissem aos seus escritórios para regularizarem suas situações. Isto é: para tratarem da compra das terras do "legítimo proprietário". Muitos desses colonos já haviam adquirido suas posses a posseiros anteriores. Políticos da UDN e PTB, de oposição ao governo Moisés Lupion, começaram a recomendar aos agricultores que nada assinassem. Esses políticos, e ainda os guardas florestais da Cango que circulavam muito pela região, advertiam os colonos para o fato de a legalidade do título de propriedade da Citla sobre aquelas terras estar sendo questionada judicialmente. Esta era a questão: os colonos queriam ser proprietários legítimos de suas posses e pagar por isso, mas julgavam conveniente aguardar que a Justiça decidisse sobre quem legalmente detinha a propriedade da terra.

Além disso, havia a questão dos preços. O preço normal da propriedade de 10 alqueires (chamada colônia) estava entre 10 a 15 mil cruzeiros (valores e moeda da época), enquanto as companhias cobravam de 60 a 80 mil cruzeiros, isto é, seis a oito vezes mais o preço de mercado.

Os primeiros emissários das companhias a entrar em contato com os colonos eram gente bem vestida e polida. Explicavam que parte do pagamento poderia ser feito em produtos agrícolas ou gado. A boa aparência e a polidez, no entanto, não impressionaram os colonos. Eles pareciam decididos mesmo a aguardar a palavra da Justiça e a defender seus interesses a qualquer preço. Tanto que alguns deles contrataram os serviços de Edu Potiguara Publitz uma espécie de advogado itinerante na região, o único a aceitar a causa dos agricultores (os demais ou estavam comprometidos com as companhias ou tinham medo de opor-se a elas), o que viria a lhe custar represálias posteriores, inclusive prisão.

POR BEM OU POR MAL: A VEZ DOS JAGUNÇOS

Sem obter sucesso junto aos colonos, as companhias substituíram os emissários engomados e gentis pelos jagunços. Eram verdadeiros corretores armados. Percorriam a região montados em jipes DKW amarelos, portando ostensivamente metralhadoras e pistolas 44 e 45 com as quais investiam contra os colonos. Comentava-se que entre eles havia presos retirados da Penitenciária do Ahú, em Curitiba, e postos a serviço das companhias. Somente em agosto de 1957 aportaram no Sudoeste cerca de 80 jagunços, pistoleiros truculentos vindos do Norte do Paraná onde, alguns anos antes, já haviam massacrado os camponeses rebelados na região de Porecatu.

O clima era de terror crescente. Em Santo Antônio, por exemplo, o administrador da Apucarana, Gaspar Kraemer, arrotava em bares, hotéis e ruas que bastaria matar uns 20, 30 colonos para os demais se intimidarem, pois tal experiência já havia sido feita no Norte e dera certo. Enquanto isso, no campo, famílias inteiras eram botadas para fora de suas casas. Os jagunços queimavam ranchos e galpões, matavam animais, destruíam plantações, espancavam crianças e mulheres. Quando o colono assinava, afinal, o compromisso de compra, era-lhe fornecido, como recibo, um pedaço de papel de embrulho, de carteira de cigarro, sem qualquer timbre ou carimbo, assinado apenas pelo jagunço que ali grafara a alcunha: Lapa, Maringá, Chapéu de Couro, Quarenta e Quatro. Chegavam a vender duas, três vezes a mesma terra e, cada pedaço vendido, lhes rendia porcentagem paga pelas companhias.
Ao recorrerem aos poderes constituídos, os colonos encontravam delegados submissos às ordens dos gerentes das companhias, ou então diretamente assalariados por elas. Todos os inspetores de quarteirão eram vinculados às empresas, ou então funcionários delas. Os agricultores estavam atormentados. As companhias dominavam, por completo, a região. A partir de determinado momento, elas se apossaram dos entroncamentos das poucas estradas existentes: só circulava colono que houvesse assinado o contrato e as promissórias. Era um processo de espoliação de grande envergadura: incluía ainda pedágio para quem transitasse pelo Sudoeste (até mesmo motoristas de táxi em serviço) e porcentagem sobre toda a produção local de madeira.

A situação se agravava. Aterrorizados, muitos colonos começaram a assinar os contratos e as promissórias. Mas não tinham como pagar. Os que não assinavam, sofriam violências. Muitos fugiam para o mato e era frequente os jagunços se vestirem de mulher para mais facilmente poder abordar colonos evadidos. Outros asilavam-se na Argentina, vivendo na completa miséria na Província de Missiones. Outros ainda retomavam ao Rio Grande do Sul. Um colono trocou sua posse de 10 alqueires por uma sanfona e retornou ao Rio Grande.

Os colonos, de fato, não sabiam o que fazer. Os políticos diziam para não pagar. Mas, se não pagassem eram espancados junto com suas famílias. A polícia era omissa. Os colonos de Verê decidiram mandar o vereador Pedrinho Barbeiro ao Rio de Janeiro. Nem foi. Os jagunços o assassinaram em casa, em 21 de maio de 1957. Essa morte comoveu a região e fortaleceu a consciência de que, para se opor à ação das companhias, era necessário fazer algo mais contundente. As esperanças de una solução pacífica, institucional, terminaram quando um farrapo que reagiu à ameaça dos jagunços foi amarrado, castrado, tendo sua mulher e duas filhas de 9 e 11 anos estupradas. A polícia nem inquérito abriu. Foi a gota dágua.

Os agricultores, na verdade, estavam largados à própria sorte. Os políticos do PTB e UDN, os únicos partidos políticos na região, limitavam-se a aconselhar os posseiros e a encaminhar denúncias sobre a situação. Mas isto não bastava. Enfrentar as companhias, para resolver os problemas, implicava organização. E mais: organização para um confronto armado, já que esta era a única alternativa para acabar com a espoliação e a violência. Para resolver tal problema crucial, eles foram buscar, em Sierra do Mico, na província argentina de Missiones, o farrapo Pedro Santin. Tratava-se de um ex-posseiro que se refugiara na Argentina e que vivia do contrabando de carne argentina para os açougues do Sudoeste paranaense. Numa dessas viagens foi assaltado por 10 jagunços da Apucarana que queriam roubar suas reses. Santin matou dois deles e pôs o restante para correr. Era do que os colonos realmente precisavam. Também aderiram à luta os irmãos Bello, pistoleiros famosos do Rio Grande do Sul, agora agricultores no Sudoeste do Paraná, e Robertinho, valentão argentino muito conhecido na fronteira e que vivia refugiado numa das ilhas do rio Iguaçu.

Santin era pragmático. Numa de suas primeiras ações reuniu 11 colonos e atacou os escritórios da Apucarana em Lajedo Grande. Cercou os escritórios e ateou fogo. Os que iam pulando através de portas e janelas para safar-se do fogo iam sendo tiroteados. Agora era o tempo das escaramuças. Em fins de abril, na Esquina Gaúcha, 40 colonos entraram em conflito com agrimensores das companhias; em 11 de agosto, colonos tentaram queimar o escritório da Citla em Rio Claro, atual Pranchita; em 6 de setembro, o gerente da Apucarana em Lageado Grande, Arlindo da Silva, foi morto em emboscada.
Ainda em setembro, Santin reuniu cerca de 2 mil colonos para tomar Capanema, de onde expulsaram as companhias e seus jagunços. As estradas foram bloqueadas e o campo de aviação interditado com tambores e toras de pinheiro. Era, digamos, o ensaio da revolta final. Depois, entregaram a cidade às autoridades governamentais que, diante da correlação de forças visivelmente desfavorável às companhias, retiraram-nas definitivamente de lá e apaziguaram os ânimos.

Expulsos de Capanema, os jagunços foram transferidos para Santo Antônio – seu principal santuário –, Pato Branco e Francisco Beltrão, onde intensificaram a violência. A situação era insustentável. Os agricultores estavam sem condições de plantar, a produção foi duramente reduzida, do que se ressentiram também os comerciantes, quase todos dependentes da produção agrícola. Sobre a população urbana começava a pesar a violência até então exclusivamente dirigida contra os colonos. A forma de atuação das companhias já não colocava mais em jogo apenas o domínio sobre a terra, mas o direito à vida, à liberdade, à segurança. Francisco Beltrão era uma cidade morta. Ninguém circulava pelas ruas a partir do anoitecer, quando uma bruma densa e úmida encobria praticamente toda a cidade. Apossava-se de todos o medo de um súbito ataque dos jagunços que, nos bares, armados até os dentes, esparramavam ameaças e contavam valentias. Assim, o morador da cidade uniu-se ao colono na luta contra as companhias e seus pistoleiros. Dessa união surge a iniciativa de tomar as principais cidades do Sudoeste. Foi decisão tomada logo após a matança da família do farrapo João Saldanha. Faltava, no entanto, o momento oportuno. Ele chegou no dia 9 de outubro. Pela manhã foram trazidas da localidade de Águas do Verê três crianças surradas pelos jagunços com açoiteira (3). Tinham vergões pelo corpo inteiro. O delegado Alberto Geron, de Pato Branco, disse que nada poderia fazer. O povo, então, foi chamado a agir. No dia seguinte o Sudoeste do Paraná estava amotinado. Em Pato Branco, Francisco Beltrão e Santo Antônio foram constituídas juntas governativas provisórias que passaram a exercer o poder. Eram compostas por 26 pessoas e uma Executiva de cinco membros.

Em Pato Branco a Junta formou piquetes nas entradas e saídas da cidade e constituiu pelotões de 25 a 30 homens encarregados de guarnecer instituições públicas, o banco do estado, a emissora de rádio etc. Casas comerciais cederam, mediante recibos e compromissos de posterior devolução, armas para os rebelados. Também o armamento depositado no Fórum foi requisitado. Comércio e indústria cerraram suas portas e a venda de bebidas alcoólicas foi rigorosamente proibida. A Junta expediu telegramas às autoridades estaduais e federais. Com a chegada da imprensa, a opinião pública nacional passou a ser copiosamente informada a respeito. As manchetes eram incisivas: "revolução rural no Sudoeste do Paraná", "guerra dos camponeses contra os grileiros", "revolta agrária", "guerrilha no Paraná", "levante de colonos", e daí por diante. O ministro da Guerra, general Teixeira Lott, ameaçava o governador Moisés Lupion de intervenção federal no estado. Este, então, resolveu recuar. Enviou para a região um militar, o major Reinaldo Machado, encarregado de entender-se com os colonos e retirar as companhias e seus jagunços da área. O major cumpriu à risca a determinação e ainda prometeu instalar inquérito para apurar as responsabilidades das empresas imobiliárias. Assim, recebeu o comando da cidade das mãos da Junta, que se dissolveu. Os colonos retornaram para suas posses. "Nós tínhamos atingido os nossos objetivos. Tínhamos fechado os escritórios, prendido os jagunços. Nós não tínhamos mais adversários, não tínhamos mais contra quem brigar. Nossa missão estava cumprida", reconheceu, mais tarde, Jácomo Trento, o Porto Alegre, um dos líderes da revolta, então com 25 anos. Em Francisco Beltrão a rebelião começou tão logo chegou a notícia do espancamento das crianças de Águas do Verê e das primeiras movimentações em Pato Branco. Walter Pecoits (4) era um dos líderes. Despachou estafetas ao Interior para chamar as lideranças. A emissora de rádio conclamava intermitentemente os colonos para se reunirem na sede do município. Era uma espécie de senha. Era uma tarde de garoa, a de 10 de outubro de 1957, e antes dos agricultores começaram a chegar os jagunços. Vinham montados nos temidos jipes DKW amarelos, armados, fazendo correrias pelas ruas, esbanjando força, esparrame de intimidação. No final da tarde aportaram os primeiros caminhões atopetados de colonos. Muitos outros vieram a pé, a cavalo, de carroça, percorrendo 20, 30 quilômetros, armados com paus, foices, enxadas, espingardas de caça. Ao anoitecer, já eram mais de cinco mil homens vindos de Rio do Mato, Verê, Nova Concórdia, Jacaré, Sessão Progresso, reunidos na praça central de Francisco Beltrão. Não parava de chegar caminhão. A Junta mandou bloquear as estradas e interditar o aeroporto. O prefeito e o delegado fugiram. O juiz foi mantido em prisão domiciliar e sua mulher e filho conduzidos ao hospital que se tornou espécie de campo de refugiados. O gerente da Citla, Júlio Assis Cavalheiro, fechou rapidamente o escritório e escondeu-se numa chácara das cercanias. A cadeia foi ocupada e os 12 presos comuns foram soltos, avisados de que, após o movimento, deveriam voltar. Voltaram. No escritório da Comercial encontravam-se aquartelados cerca de 40 jagunços. Os posseiros, reunidos na praça, queriam linchá-los. Pecoits negociou a retirada dos jagunços, a rendição incondicional. "Dêem uma olhadinha pela janela", disse, acrescentando: "Vejam o que tem de povo aqui na rua. Esse povo quer matar vocês a dentadas, tem ódio de vocês. Hoje é o dia deles. Vocês tiveram dois anos. Agora começou o outro lado. Vocês não têm escolha”. Desarmados, os jagunços foram, afinal, retirados da região.

No dia seguinte, os colonos invadiram o escritório, quebraram e queimaram tudo. Contratos e promissórias assinados sob a pressão de armas foram rasgados e lançados à rua. A avenida principal de Francisco Beltrão ficou coberta por um tapete de papéis picados. Já eram cerca de seis mil colonos reunidos na cidade, começaram a surgir problemas de alimentação e a rádio passou a pedir que não viessem mais posseiros.

Acuado, o governador Moisés Lupion mandou para Francisco Beltrão seu secretário de Segurança (então chamado de Chefe de Polícia) Alfredo Pinheiro Júnior. Chegou arrogante. No aeroporto, especialmente aberto para a aterrissagem do táxi aéreo que o conduzia, mandou o piloto aguardar, pois em meia hora terminaria com aquela bagunça. A caminho da cidade viu o pequeno aparelho decolar e desaparecer na rota de Curitiba. Pecoits havia mandado o piloto embora sob a ameaça de explodir o avião. Depois, já na sede da emissora de rádio, onde se desenrolariam as conversações com Pinheiro Júnior, deu voz de prisão ao Chefe de Polícia e começou a negociar. Exigia, em nome dos posseiros, a substituição do delegado, a exoneração do promotor, a transferência do juiz, a saída da polícia estadual da cidade, a não reabertura dos escritórios das companhias e a não punição de nenhum dos revoltosos. O Chefe de Polícia, obviamente, aceitou. Pecoits foi nomeado delegado, anunciou o teor das negociações ao povo, da sacada da rádio. Todos ficaram satisfeitos e o movimento, aquela furiosa rebelião que pôs o povo do Sudoeste do Paraná em armas, acabou. Aliviados, os posseiros retornaram para suas terras.

Em Santo Antônio os colonos marcharam sobre a cidade na noite do dia 12 de outubro, quando em Francisco Beltrão e Pato Branco os ânimos já estavam serenados. A cidade ficou, durante três dias, em poder de uma Junta Governativa Provisória. Entendimentos entre a Junta e o governo do Estado conduziram à retirada das companhias, à expulsão dos jagunços e à desmobilização dos agricultores.
O movimento, a despeito da forma radicalizada que assumiu, concentrou suas reivindicações no fechamento dos escritórios das companhias, na expulsão dos jagunços e no fim da violência. Terminado o levante, nenhum colono projetou-se no plano político estadual ou regional. Nesse aspecto, os beneficiários do movimento foram as lideranças urbanas. Ivo Thomazoni, de Pato Branco, e Walter Pecoits, de Francisco Beltrão, por exemplo, tornaram-se deputados estaduais, o primeiro pela UDN, o segundo pelo PTB.

Os colonos continuaram posseiros. Em 1960 Jânio Quadros e Ney Braga, candidatos, respectivamente, à presidência da República e ao governo do Paraná, fizeram campanha na região prometendo resolver o problema e foram muito bem votados. Foram eleitos, não resolveram. João Goulart, em março de 1962, criou o Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do Paraná (GETSOP). Três meses depois União e estado abriram-mão de suas pretensões de serem proprietários das terras. O GETSOP distribuiu ao colonos mais de 40 mil títulos de propriedade, respeitando as áreas ditadas pelos interessados. Cumprida sua missão, foi extinto em janeiro de 1974.

O número de proprietários rurais no Sudoeste do Paraná cresceu de 6.342 em 1960 para 41.374 em 1970. De posse de seus títulos de propriedade, os antigos posseiros foram incluídos no processo de desenvolvimento agrícola nacional, obtendo financiamentos para aquisição de máquinas, adubos, inseticidas. A agricultura modernizou-se, a produção cresceu. Em 1970 havia 380 tratores na região; em 1975 tal número saltou para 2.960, num aumento de 679%. Junto com a modernização, no entanto, veio a concentração da renda e da propriedade, a expulsão do homem do campo. Em meados de 1985, à margem das rodovias que cortam o Sudoeste do Paraná, mais de cinco mil famílias acampavam reivindicando terras. Ex-proprietários, vítimas da concentração fundiária, trabalhavam nas grandes fazendas da região. Despedidos, lutavam por um pedaço de terra, ameaçavam tornar-se posseiros em pedaços dos latifúndios. Mas esta já é outra história.

Notas:
1) "Farrapos" eram foragidos da polícia que viviam asilados na fronteira. Corajosos, perspicazes, experientes, muitos deles ajudaram os colonos naquilo que, a partir de certo momento, mais lhes fazia falta: organização, particularmente organização com vistas a um confronto armado.
2) Araucária é pinheiro nativo das florestas e campos do Sul brasileiro, particularmente do Paraná, daí chamar-se também pinheiro do Paraná. Suas sementes, os pinhões, são muito consumidas durante o inverno. A expansão agrícola vem provocando a extinção da espécie no Paraná.
3) Açoiteira é um chicote curto usado para açoitar o cavalo.
4) Walter Alberto Pecoits, médico, chegado em Francisco Beltrão no início dos anos 1950. Foi um dos principais líderes da revolta dos posseiros na cidade. No PTB, foi vereador, prefeito e deputado estadual, sendo cassado logo nos primeiros dias após o golpe militar de 1964. Na prisão, teve um olho vazado e, em 1977, o Estado foi obrigado a indenizá-lo. No governo José Richa foi Chefe da Casa Civil e, no período de João Elísio Ferraz de Campos (maio de 1986 a março de 1987), foi secretário extraordinário para Reforma Agrária no Paraná.

Fontes de consulta
1) WACHOWICZ, Ruy Christovan, Paraná, Sudoeste: Ocupação e Colonização, edição do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, Curitiba, 1985.
2) GOMES, I. Zanoni. 1957, a revolta dos posseiros, Edições Criar, Curitiba, 1986.
3) LAZIER, Hermógenes. Análise Histórica da Posse da Terra no Sudoeste Paranaense, edição da Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba, 1986.
4) Anotações do autor sobre conversas mantidas com Walter Alberto Pecoits e Francisco Beltrão, em Curitiba, entre 1976 1985.

A revolta dos posseiros do Sudoeste do Paraná constitui-se em momento antológico de luta e heroísmo capaz de confirmar – neste caso de forma dramaticamente peremptória – antiquíssima e límpida verdade que certos interesses na luta de classe umas vezes subestimam, outras omitem: unido e decidido, um povo transforma-se, inevitavelmente, em força imbatível, repleta de fervor e vigor, que não se abate e pode vencer obstáculos aparentemente intransponíveis. No Sudoeste paranaense o problema que tanto martirizava a vida dos camponeses só foi resolvido a partir do exato momento em que, pelas várias condições dadas, o conjunto do povo – os do campo e os da cidade – uniu-se e, como um só homem, marchou para conquistar seus objetivos.
A experiência dos colonos paranaenses é também significativamente reveladora em outros aspectos. Um deles: no processo de luta, o povo é capaz de forjar suas lideranças. Os posseiros encontravam, nos partidos políticos atuantes na região, apoio moral e algumas orientações. Mas necessitavam de alguém que organizasse a ação e foram encontrá-lo na figura do valentão Pedro Santin. E Santin respondeu exatamente o que os posseiros desejavam. As lideranças urbanas predominaram na direção do movimento apenas no seu momento final, quando o teatro da luta concentrou-se nas cidades.

É igualmente interessante notar que se essa direção, por um lado, soube comportar-se de forma a conduzir o movimento ao sucesso, por outro, restringiu a ação e a compreensão dos camponeses aos estreitos limites dos métodos empregados pelas companhias imobiliárias. A verdade é que, a rigor, a sanha de uma empresa ou outra, a violência maior ou menor dos jagunços eram apenas a expressão de um problema maior e de fundo, isto é, o processo da fantástica concentração fundiária que vem permeando o processo de penetração do capitalismo no campo brasileiro.

A consciência dessas raízes da situação em que viviam provavelmente não faria os camponeses do Sudoeste do Paraná procederem de forma diversa da que empregaram no desenvolvimento de sua luta. Foram, de fato, procedimentos corajosos, sagazes. Mas, ao retornarem para casa teriam testemunhado algo mais que a reivindicação conquistada. Teriam vislumbrado um mundo maior que a truculência dos jagunços, um mundo cujas fronteiras se expandem para muito além da ação das companhias de terras. A luta teria resultado numa vitória dupla: a conquista do maior anseio (a expulsão das companhias de terras e seus jagunços da região) e um salto de qualidade na consciência de mundo dos posseiros.

E exatamente porque o mundo não terminava nos limites da ação das empresas imobiliárias, o problema fundamental, não resolvido, evoluiu.

Trinta anos após o conflito o Sudoeste paranaense vê-se novamente às voltas com camponeses sem terras, acampados à beira de estradas. E o Brasil apresenta uma concentração fundiária quase sem equivalente no restante do mundo, onde 2% dos proprietários possuem quase 60% das áreas dos imóveis rurais (41% da área desses latifúndios não são explorados). Enquanto isso, há dois milhões de pobres e desassistidos minifundiários (de dois a cinco hectares) e a fabulosa soma de mais de 12 milhões de sem-terras. Antes, companhias imobiliárias, hoje grandes latifúndios, companhias estrangeiras proprietárias de imensas fatias do território nacional: fisionomias diferentes de um mesmo problema a causar, além da miséria, a violência endêmica no campo. Quer dizer: o problema de fundo que motivou a luta dos colonos do Sudoeste do Paraná ainda está por resolver (L. M.).

EDIÇÃO 14, OUT/NOV, 1987, PÁGINAS 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52