O aparecimento na cena mundial do revisionismo kruschovista forneceu uma ajuda muito grande e muito desejada à estratégia do imperialismo norte-americano e a toda a luta da burguesia internacional contra a revolução e o socialismo. A traição kruschovista significou para o socialismo e o movimento revolucionário e de libertação dos povos o golpe mais duro e perigoso que até então haviam conhecido. Converteu o primeiro país socialista e grande centro da revolução mundial num país imperialista e em foco da contra-revolução. As repercussões desta traição a nível nacional e internacional foram verdadeiramente trágicas.

Não apenas os movimentos revolucionários e de libertação dos povos têm sofrido e estão sofrendo as conseqüências desta traição, como também colocam em grande risco a paz e a segurança internacionais.

Como corrente ideológica e política, o kruschovismo não tem grande diferença das outras correntes do revisionismo contemporâneo. É resultado da mesma pressão externa e interna da burguesia, do mesmo distanciamento dos princípios do marxismo-leninismo, do mesmo objetivo de opor-se à revolução e ao socialismo e de salvaguardar e consolidar o sistema capitalista.

Sua diferença diz respeito unicamente ao perigo que representa. O revisionismo kruschovista continua sendo até agora o revisionismo mais perigoso, mais diabólico, mais ameaçador. Isto se deve a duas razões. Primeiro: porque se trata de um revisionismo mascarado, que conserva sua aparência socialista, e para enganar as pessoas e fazê-las cair em suas armadilhas, utiliza-se amplamente de terminologia marxista e, conforme o caso e a necessidade, também das palavras-de-ordem revolucionárias. Através desta demagogia trata de levantar uma cortina de fumaça para que não se veja a atual realidade capitalista da União Soviética e, acima de tudo, ocultar seus fins expansionistas, fazer com que os movimentos revolucionários e de libertação se convertam em instrumentos de sua política.
Segundo: e isto reveste-se de uma grande importância, o revisionismo kruschovista converteu-se na ideologia dominante num Estado que representa uma grande potência imperialista, o que lhe dá numerosos meios e possibilidades para manobrar em vastos terrenos e em grande proporções.

O kruschovismo e as outras correntes revisionistas identificam-se em seu objetivo de liquidar o partido comunista e transformá-lo numa força política a serviço da burguesia. Caso concreto é o da União Soviética, onde foi liquidado o partido comunista de Lênin e Stálin. É certo que não se mudou o nome do partido, como ocorreu na Iugoslávia, mas sem dúvida este partido foi despojado de sua essência e de seu espírito revolucionário. Mudou o papel do Partido Comunista da União Soviética e seu trabalho para fortalecer a ideologia marxista-leninista foi substituído pela deformação da teoria marxista-leninista, valendo-se de diversas máscaras, da fraseologia oca, da demagogia. O organismo político do Partido transformou-se assim, como o exército, a política e os demais órgãos da ditadura da nova burguesia, num organismo para reprimir as massas, sem mencionar sua transformação em veículo da ideologia e da política de opressão e exploração. O Partido Comunista da União Soviética degradou-se, perdeu sua força e converteu-se em "partido de todo o povo", ou seja, já não é o partido de vanguarda da classe operária que leva adiante a revolução e edifica o socialismo, mas sim o partido da nova burguesia revisionista, que degenera o socialismo e promove a restauração do capitalismo.

Assim como Browder, Tito, Togliatti e outros pregaram a transformação de seus partidos em "associações", "ligas", "partidos de massa", supostamente para ajustar-se às novas mudanças sociais que se haviam operado como conseqüência do desenvolvimento do capitalismo, do crescimento da classe operária e de sua influência política e ideológica etc, Kruschev justificou a mudança do caráter do partido para adaptar-se supostamente às condições criadas na União Soviética, onde, segundo ele, a edificação do socialismo havia sido concluída e havia-se iniciado a construção do comunismo. Segundo Kruschev, a composição do partido, sua estrutura, seu papel e seu lugar na sociedade e no Estado deveriam mudar em consonância com esta "nova época".

Quando Kruschev começou a preconizar estas teses, não só o comunismo não havia começado a ser edificado na União Soviética, bem como mesmo a construção do socialismo não havia terminado completamente. É certo que as classes exploradoras haviam desaparecido como classe, mas seus vestígios, inclusive físicos, e com maior motivo ideológico, ainda existiam. A Segunda Guerra Mundial havia obstaculizado a vasta emancipação das relações de produção; e as forças produtivas, que constituem a base necessária e indispensável para isto, haviam sido gravemente afetadas. A ideologia marxista-leninista era a ideologia dominante, mas não se pode dizer que as velhas ideologias haviam sido erradicadas inteiramente da consciência das massas. A União Soviética ganhara a guerra contra o fascismo, mas uma guerra por outros meios e não menos perigosa fora desencadeada contra ela. O imperialismo, com o norte-americano à frente, havia declarado a "guerra fria" ao comunismo e todos os dardos venenosos do capitalismo mundial estavam dirigidos acima de tudo contra a União Soviética. Sobre o Estado soviético e o povo deste país exercia-se uma grande pressão, a fim de infundir-lhes o terror à guerra, reprimir seu ímpeto revolucionário, conter seu espírito internacionalista e de oposição ao imperialismo.

EDIÇÃO 16, DEZEMBRO, 1988, PÁGINAS 17