Quem são os atuais comunistas?
Os governantes da Rússia e seus apadrinhados culpam a nós, os atuais comunistas, por todos os pecados. Afirmam incansavelmente que só pensamos em recuperar nossos “privilégios”. É uma mentira cínica.

Nós pertencemos ao mesmo Partido de Alexei Stakhanov e Iuri Gagarin, Mikhail Sholokhov, e Alexandr Tvardovski, Ivan Panfilov e Georgui Zukov, Musa Dzalil e Vassili Sukhomlinski, Pacha Angelina e Terenti Maltsev, Sérguéi Koroliov e Igor Kurchatov; e de milhões de comunistas e patriotas sem partido, da Pátria socialista, que nunca tiveram outro privilégio que não fosse o de serem os primeiros a atirar-se ao combate e trabalhar até a última gota de suor.

Nós não traímos os ideais de amizade, bondade e justiça, nem desencadeamos conflitos fratricidas. Acaso somos nós que procuramos a guerra e novas desgraças?
Nós não traímos o povo trabalhador, nem paramos as fábricas, nem geramos o desemprego. Acaso somo nós que arruinamos as reformas?
Nós não traímos nossas bandeiras e nem a Pátria, muito menos abandonamos nossos amigos ou aliados. Acaso fomos nós que levamos o país à ruína?

Aqueles que acreditam nessas mentiras que reflitam: quem as difunde, e com que intenção? São os mesmos chefes da “nomenclatura” e seus súditos jornalistas e “cientistas” que mantêm o poder e posição (mesmo anteriormente), governando o país descontrolada e mediocremente. (Ninguém fez sequer uma canção para essa gestão). Pesam sobre essas consciências sangue, holocausto, lágrimas de refugiados e desemprego.

Eles querem atribuir a nós, os atuais comunistas, os seus próprios pecados, os do partido da traição nacional, que considera a Rússia como o seu sapato, encobrindo-se, até pouco tempo, sob o rótulo de “comunista”. Hoje esse partido de Trotsky e Béria, de Vlasov e Iakovliev, de Gorbachev e Ieltsin, adotou hipocritamente um novo nome: “A Rússia é a Nossa Casa”.
Um homem que faz sua casa inicia a construção pelos alicerces, e não pelo telhado. Porém a casa deles, onde se bebe e rouba de tudo, gerando crianças sem lar e drogados, e onde os doentes não são tratados, o povo a chama com acerto guarida.

O Partido Comunista da República Socialista Federativa Soviética da Rússia surgiu do seio do PCUS, desde as bases e por iniciativa das massas, ainda no verão de 1990. Fundou-se para defender os que vivem de seu próprio trabalho. Em 1991, depois de intento frustrado do Comitê de Emergência (Guekachepé), que defendia a União Soviética e o Socialismo, a velha nomenclatura, em aliança com rufiões de toda espécie, deu um golpe de Estado, e o seu primeiro ato foi dissolver o Partido Comunista. Em que pesem todas as perseguições e proibições, renovamos o Partido e continuamos a luta.

Hoje em dia o PCFR já conta com mais de meio milhão de comunistas-patriotas; possui o seu programa e objetivos claros. Concorremos às eleições em 1993 e fizemos parte da Assembléia Federal para lutar pelo restabelecimento do poder do povo e pela legalidade.(…)

O que aconteceu na Rússia?

Hoje em dia, todos falam da crise: a queda da produção, a redução do nível de vida, a redução da população e a humilhante situação do país. Porém nem todos, em absoluto, compreendem com clareza qual é a essência da crise justamente nesse momento.

Apesar de estar atualmente de joelhos, a Rússia ainda possui forças suficientes para se levantar. Porém nossa desgraça e perigo principais estão precisamente no fato de que, sob pretexto de conversações de conciliação, os dirigentes estão esgotando e dissipando essas últimas forças.
É impossível restabelecer a Rússia sem uma paz civil sólida inter-étnica. Porém o rumo nefasto do regime atual em direção à divisão furtiva da propriedade e do poder e à submissão do país aos interesses estrangeiros tem levado a uma estratificação social e empobrecimento insólitos, e a discórdias que já ameaçam tornar-se guerra civil.

É impossível restabelecer a Rússia sem trabalhar intensa e criativamente. Porém, hoje em dia, as pessoas que sabem e que querem trabalhar bem simplesmente são impedidas de se dedicarem a seus afazeres. A geração intermediária está sendo embriagada com vodca barata, enquanto quase toda juventude é empurrada aos quiosques de vendas ou arrastada à delinquência, cultivando assim, em sua mente, o desprezo ao trabalho produtivo.

É impossível restabelecer a Rússia sem o apoio do potencial industrial intelectual altamente desenvolvido. Porém, hoje em dia, a destruição mais rápida se dá precisamente nas áreas em que estão concentradas as maiores conquistas da ciência e da técnica nacionais, e os especialistas mais habilitados e intelectualmente brilhantes. Cientistas, engenheiros, desenhistas e os melhores trabalhadores se vêem obrigados a fazer trabalho-extra em outras atividades, ou trabalhar fora do país.

É impossível restabelecer a Rússia sem o apoio das forças espirituais e físicas do povo e sem interiorizar a continuidade histórica e responsabilidade pelo futuro. Porém hoje em dia, estão sendo destruídas a grande cultura e a melhor educação e saúde públicas do mundo. O respeito pelos mais velhos, que tiveram uma vida difícil, mas gloriosa, está se desarrigando; o mesmo acontece com e respeito às profundas tradições de patriotismo e de amizade entre povos da Rússia, de conciliação, coletivismo e ajuda mútuas.

Sem dúvida, a Rússia é um país rico e poderá vegetar por mais tempo por conta das vendas generalizadas das suas riquezas materiais: petróleo, carvão, ouro, diamantes, e, daqui a pouco, até a terra em que se encontram essas riquezas. Porém é um caminho que priva o país do futuro, e um crime ante nossos descendentes.

Como corrigir a situação?

Hoje em dia, nós, os comunistas, consideramos a tarefa principal do país salvar, multiplicar e pôr a serviço da reconstrução da pátria seus recursos materiais espirituais: o melhor da história milenar da Rússia e da prática mundial. E, como disse Kosmu Prutkov: “Busca as raízes!”. ( Kosmu Prutkov é o pseudônimo literário que utilizavam os poetas A. Tolstói e os irmãos Zhenchuznikov nas revistas O contemporâneo, Iskra (A centelha) e outras, nos anos 50 e 60 do século XIX. A imagem satírica de Kosmu Prutkov parodiava a letargia intelectual, a “lealdade” política e o epigonismo na literatura.)

A raiz política das nossas calamidades está no caráter antipopular e explorador do poder, em seu descontrole e irresponsabilidade perante o povo. Tal poder não pode ser forte, e é inevitável que degenere em arbitrariedade, anarquia ditadura. Por conseguinte, é necessário reorganizar o sistema político. O país necessita da Constituição de um genuíno poder do povo, quer dizer, dos sovietes.

A raiz econômica de nossas calamidades está no fato de agora, na Rússia, estarem sendo destruídas todas as condições que inspiravam o homem e o trabalho honesto: “jogar por dinheiro, especular e intermediar é muito mais rentável do que produzir”. Por conseguinte, é necessário mudar a política econômica, de maneira a dar prioridade ao produtor nacional, independentemente das formas de propriedade, e estimulá-lo a aumentar a produção.

A razão social das nossas calamidades está no menosprezo pelos direitos dos cidadãos ao trabalho e ao descanso, a educação e a assistência médica gratuitas, a moradia barata e uma previdência social confiável. Por conseguinte para reconstruir as forças espirituais do povo, fortalecer a saúde da nação e deter sua extinção é necessário restabelecer a garantia dos direitos sócio-econômicos do homem e ajustar um sistema para colocá-los em prática, que exclua o igualitarismo e o parasitismo.

A raiz espiritual e moral de nossas calamidades está na ofensiva em larga escala contra os seculares valores e ideais de espiritualidade e o modo de vida nacionais, da “quinta coluna” tentando transformar a Rússia segundo modelos de além-mar, alheios a ela. Por conseguinte é necessário suspender a introdução do vandalismo, do culto ao lucro, da violência e da libertinagem e do egoísmo e individualismo; e preservar das influências estrangeiras as culturas nacionais, as línguas dos povos da Rússia e sua doutrinas tradicionais.

A raiz de nossas calamidades na política externa está na submissão de nosso país aos interesses ocidentais, na desintegração forçada e ilegal da União Soviética e na perda dos aliados estratégicos. Por conseguinte é necessária uma virada no rumo da política externa, para que passe a proteger os interesses nacionais e estatais da Rússia. Em primeiríssimo ligar, reconstruir o Estado Federal, proteger as nossas terras da entrada do lixo nuclear mercantil, de dinheiro “sujo”, enfermidades contagiosas e drogas.

Não tenhamos ilusões: enquanto se mantiver no país esse regime de autocracia presidencial, onde os órgãos legislativos e representativos carecem de direitos reais, será impossível cumprir plenamente o programa dos comunistas ou de outras forças de esquerda e patrióticas, mesmo que consigam a maioria parlamentar. O êxito das eleições parlamentares dará frutos reais somente se for consolidado com a vitória nas eleições presidenciais. Baseando-se nessa situação, cumpriremos o nosso programa em duas etapas.(…)

Após o triunfo de nosso candidato a Presidente

Em princípio, nós, os comunistas, nos opomos à instituição do poder incontrolável de um Presidente, incongruente com a composição multinacional e estrutura federativa da Rússia; e defendemos a sua supressão. A presidentomania ressuscitou o regime dos boiardos (governo dos sete boiardos na Rússia, 1610, que entregou de fato o poder aos interventores poloneses. Foi aniquilado pelas Milícias de Minim e Pozarski em 1612). Esse regime está levando o país à fúria pelo poder. Não obstante, as forças patrióticas usarão durante certo período de transição, as prerrogativas presidenciais para superar as sequelas do golpe de Estado; restabelecer no país a legalidade e o poder do povo; e solucionar rapidamente o rol de tarefas.

Em consonância com a maioria da Duma do Estado (Parlamento), o novo presidente formará um governo de confiança popular, chamado a aplicar as seguintes medidas prioritárias e inadiáveis:

– Pôr em prática uma nova política econômica reformando a política fiscal, de crédito e tarifária, adotando medidas emergentes de regulação estatal direta para estimular os produtores e as inversões na produção nacional, e suspender a saída de recursos financeiros e materiais para o exterior.
-Nivelar os salários-mínimos, aposentadorias e subsídios às condições mínimas de vida. Apoiar urgentemente a família, a maternidade e a infância, os aposentados e inválidos. Compensar a população por suas economias, que foram convertidas pelo poder atual em papeizinhos sem valor. Acabar com o desemprego.
– Esmagar implacavelmente o crime organizado e o banditismo, tornar mais severas as medidas punitivas contra todos que se dedicarem ao roubo, à corrupção e à dilapidação das riquezas naturais, materiais e espirituais do país.
– Devolver ao povo o controle sobre a gestão do aparato estatal, das empresas produtivas, independentemente da sua forma de propriedade, das estruturas comerciais, bancos e outras instituições financeiras e de crédito que utilizem as economias da população Eliminar todos os subterfúgios para obter rendas não provenientes do trabalho.
– Acabar com o saque da propriedade estatal e de todo o povo a pretexto de privatizar. Abolir as operações de privatização que fogem à legislação federal e aos interesses do país e dos direitos dos trabalhadores. No Programa do PCFR está dito que a tarefa dos comunistas não é eliminar os proprietários, mas sim converter todos os cidadãos em genuínos donos, co-proprietários do patrimônio de todo o povo. Isso é o que diferencia os comunistas dos pseudo-democratas que, sob pretexto de emitir ações e privatizar, tiram tudo dos trabalhadores. Introduzir o monopólio estatal do comércio exterior das riquezas naturais e outros produtos de importância estratégica. – Aplicar medidas urgentes para proteger a independência tecnológica e alimentar, e a segurança ecológica do país. Oferecer apoio estatal de emergência a produções de alta tecnologia e instituições científicas. Adotar um conjunto de medidas para proteger o meio ambiente e a principal riqueza natural, a terra, não admitindo a sua venda nem depredação.
– Apoiar todos os camponeses: kolkhosianos (cooperativados) e granjeiros. Garantir paridade de preços às produções industrial e agrícola. Pôr em prática o programa de revitalização das comunidades rurais, preparando pela União Agrícola da Rússia.

Tudo isso possibilitará superar os efeitos destrutivos das “reformas”, estabilizar a situação e reorientar o país ao desenvolvimento econômico, social espiritual sustentado.
Uma Rússia renascente se dirigirá aos governos e povos da União Soviética, ilegalmente desintegrada, propondo o restabelecimento voluntário do Estado Federal único.

O final desse período de transição se dará com a convocação da Assembléia Constituinte, que elaborará e submeterá à votação popular um projeto para uma nova Lei Fundamental da Rússia. De nossa parte, nós, os comunistas, nos comprometemos a preparar e defender um projeto de Constituição que garanta o poder aos trabalhadores através dos sovietes, de baixo para cima, desde o trabalho coletivo até o orgão legislativo supremo, que deve controlar o chefe do Estado e o Governo.
Dessa forma, surgirá a possibilidade de pôr fim a um dos períodos mais trágicos da nossa história, sem guerra civil nem destruição contínua. A Rússia voltará à legalidade e devolverá o poder ao povo. Somente o próprio povo terá direito de decidir seu destino.

O que pretendemos, então?

Hoje todos prometem muito, mas nem todos podem cumprir suas promessas. Nós, sim, podemos. Para tanto, contamos com uma forte organização, a maior do país e quadros qualificados. Possuímos uma enorme experiência política e a decisão de não permitir que se repitam as trágicas páginas da história: nem a transgressão da legalidade e nem a transgressão da legalidade e nem as repressões.

Somos realistas. O PCFR não prometeu nenhum milagre, nem o país das mil maravilhas nas eleições anteriores, tampouco nas atuais. Hoje em dia, a economia está tão destruída que, em qualquer governo, teremos que “apertar os cintos” para restabelecê-la. A questão está somente em saber quem é que teria de apertá-lo: o povo assolado ou os rufiões e ladrões? (…)
Estamos a favor de que progridam os que realmente proporcionam proveito e utilidade ao país. Nós vemos como nossa tarefa não “beneficiar” todo o mundo, mas sim ajudar o povo a sair desse lodaçal por seu próprio esforço, garantindo as condições necessárias para isso. São claras e simples:

– O poder será devolvido ao povo;
– será lucrativo produzir;
– o operário e o camponês terão possibilidade de trabalhar honestamente, sendo remunerados conforme a quantidade e qualidade de seu trabalho;
– o professor, o médico, o engenheiro, o cientista, o artista, o escritor, e os desportistas voltarão a sentir-se necessários à sociedade;
– a mulher criará tranquilamente seus filhos, certa de seu futuro;
– os estudantes de todos os graus terão ensino gratuito e descanso pleno;
– os talentos não ficarão sem o apoio do Estado;
– o policial, o fiscal e o juiz defenderão o homem honesto, e a lei os protegerá;
– o soldado receberá todo o necessário e se dedicará aos seus afazeres de direito;
– o aposentado, o inválido e o doente terão previdência social;
– a previdência da sociedade, da família e do indivíduo e a liberdade de expressão e de atividade social serão garantidas;
– os refugiados terão casa e pátria;
– o depositante enganado recuperará sua economias;
– o delinquente será encarcerado;
– a Rússia não será o “sexto” dos “Sete Grandes”.

Nosso objetivo é a liberdade e a justiça. Ou seja, liberdade de receber pelo próprio trabalho tanto quanto se mereça realmente, sem o velho igualitarismo, e também sem a nova extorsão capitalista.
Se o poder estatal garante isso, as pessoas livres de um país livre farão todo o resto por si mesmas, sem sermões nem amarras.

E quem não trabalha não come (…).
As próximas eleições parlamentares e presidenciais nos dão, talvez, a última oportunidade de mudar pacificamente e por vias democráticas o atual rumo político e sócio-econômico que tem levado nossa pátria a uma terrível tragédia.

Convocamos todos a apoiarem a Plataforma Eleitoral do Partido Comunista da Federação Russa!
Ao apoiá-la, estaremos junto advogando:
– Pela paz e contra a guerra civil!
– Pelo trabalho honesto e contra os parasitas!
– Pelo poder ao povo, contra a máfia!
– Pela lei e pela ordem, contra a arbitrariedade e a violência!
– Pela amizade e fraternidade entre os povos, contra o ódio e a maldade!
– Pela verdade e a pureza, contra o engano e a libertinagem!
– Pela honra e a dignidade do Estado russo!

Os líderes de nossa agremiação eleitoral são Guennadi Ziuganov, Svietlana Goriacheva e Aman Tulieiev.
Os nossos objetivos imediatos são o triunfo do poder ao povo, a unidade estatal da Rússia numa união renovada dos povos, a paz civil na sociedade, tranquilidade e segurança em cada lar e bem-estar para cada família.
O nosso apelo é dirigido, acima de tudo, aos trabalhadores, que levam uma vida muito dura e amarga, atualmente.
A nossa mensagem vai também para aqueles que ingressam no PCUS não por arrivismo e nem por privilégios, e que, como nós, foram traídos pelos líderes.
Em nosso Programa vocês acharão muitas razões por que sofrem em noites de inquietação, e sem as quais não pode haver sossego nas mansões mais luxuosas.
A nossa extorsão é de pessoa para pessoa, de casa em casa, de cara a cara. É explicar, transmitir, chamar, escrever, convencer o familiar, o companheiro, o vizinho.
Os nossos aliados são todos aqueles que amam a Grande Rússia, os que vivem o orgulho por sua história e cultura e a quem o coração se oprime de dor ao ver os sofrimentos e a zombaria insólitos contra a memória de muitas gerações de russos e soviéticos.
A nossa esperança está na sensatez e na consciência do osso grande povo, na união dos trabalhadores, na firmeza do combate e na honra do patriota.
A nossa causa é justa!
A nossa palavra de ordem é: Rússia, Trabalho, Poder ao povo, Socialismo!

* Terceira Conferência Pan-Russa do Partido Comunista da Federação Russa, realizada em Moscou em 26 de agosto de 1995.

EDIÇÃO 40, FEV/MAR/ABR, 1996, PÁGINAS 32, 33, 34