A introdução de robôs e computadores na produção e a adoção de novas tecnologias gerenciais que aprimoram a exploração do trabalho têm consequências práticas e teóricas importantes. Entre as consequências práticas estão o aumento do desemprego, as mudanças (para pior) nas condições de trabalho, a reestruturação do mercado de trabalho. Entre as consequências teóricas, há o intenso debate, envolvendo sindicalistas, militantes operários e intelectuais, sejam social democratas, sejam das diversas correntes de pensamento progressista ou dos comunistas, para compreender as mudanças em curso e avaliar suas consequências políticas, econômicas, sociais, culturais, etc.

Estas transformações constituem o tema principal desta edição de Princípios. Ele é abordado em três artigos. José Carlos Ruy faz uma apresentação das idéias de Marx e Engels sobre a questão. John Bellamy Foster discute a influência e a atualidade das idéias de Harry Braverman, cujo livro Trabalho e Capital Monopolista, publicado em 1974, é um dos marcos do debate sobre o tema. Finalmente, Nilton Vasconcelos e Milton B. de Almeida investigam o impacto que as novas formas de gerenciamento têm sobre os trabalhadores e sobre a própria luta de classes. Estes três artigos constituem uma aproximação inicial do tema, sabidamente complexo; esperamos, com isso, fomentar a pesquisa e contribuir para o debate.

Ainda nesta área, a área das “novidades” deste fim de século, Luís Fernandes questiona os mitos da globalização e argumenta que o novo, hoje, é a expansão política das nações dominantes, que impõem seus interesses sobre todo o planeta. Sob a forma do receituário neoliberal, esta expansão coloca os povos sob o domínio do grande capital financeiro, que demole os direitos sociais básicos e coloca todos à mercê das forças selvagens do mercado. Este é o tema do artigo de Luiz Marcos Gomes que polemiza com a tese do presidente FHC de que a exclusão social é um “mal necessário” à modernização.

Fernando Henrique Cardoso e os setores dominantes do PSDB não estão sozinhos na defesa dessa modernidade perversa. Tarso Genro, dirigente do Partido dos Trabalhadores e prefeito de Porto Alegre, alinha-se com estes setores ao defender a reinvenção do socialismo. Edson Silva polemiza com ele e denuncia a sedução da modernidade que desfigura a doutrina do socialismo.
A tentativa de implantação do projeto neoliberal prossegue agora com a bandeira da reeleição do presidente da República, uma medida que visa a perpetuação da estrutura de poder que controla o Estado brasileiro, mostra Aldo Arantes.

Se no Brasil os ataques neoliberais são desenvoltos, em outros rincões a defesa do progresso social articula-se para garantir conquistas duramente alcançadas. O 8° Congresso do Partido Comunista do Vietnã consagrou a defesa do rumo socialista. Aldo Rebelo assistiu ao Congresso como representante oficial do PCdoB e conta o que viu lá.

Publicamos também, nesta edição, uma contribuição importante para a filosofia marxista: o artigo de Erwin Marquit, que discute as diferentes maneiras como a lógica formal e a dialética compreendem a contradição.

Registramos, também, nossos agradecimentos a Wladimir Sachetta e sua Iconographia, pelas fotos cedidas para esta edição.

EDIÇÃO 43, NOV/DEZ/JAN, 1996-1997, PÁGINAS 3