Surgiu no vídeo dizendo-se apavorada. Acusou o candidato das oposições de ser um duas-caras, despreparado, capaz de levar o país à falência, à inflação, à antidemocracia, ao caos, ao reino de Hades.
Boa parte da intelligentzia pronunciou-se decepcionada com a atriz. Como uma profissional, que encarnara heroínas, que fora namorada do Brasil, que fizera Malu Mulher e por aí vai, se prestava a um papelão desses?

      Dramaturgos escreveram-lhe cartas louvando seu talento, mas lamentando sua atitude. Colegas de profissão postaram-se, diante da diva televisiva, indignados ou tristes. Como pode fazer isso? Não havia participado de montagens teatrais que questionaram o totalitarismo e a intolerância? Não havia feito a Compadecida em adaptação de Suassuna para o cinema?

      Eu, humilde cronista de meu tempo, juro que não me espantei. Até esperava que a cuja viesse exibir sua canastrice no horário eleitoral tucano. Porque, convenhamos, senhoras e senhores, essa cidadã é uma péssima atriz.

      O que, aliás, só posso lamentar nessa conversa toda, não é seu desserviço prestado ao país e aos artistas brasileiros, além de sua cara de pau na tv. É gente vir com discurso em cima do muro, chamando-a de ótima atriz, profissional competente e quejandos.

      Todos sabemos que a moça é fruto da mesma empresa fabricante de mitos. De Francisco Cuoco, passando por Xuxa e seus clones, e chegando a Gianechinni et caterva, a Globo tem se esmerado em impingir ao público seus canastrões arrivistas ou boas moças de ocasião.

      Quem viu o Auto da Compadecida no cinema, com Armando Bogus no papel de João Grilo e Antonio Fagundes na pele de Chicó, viu uma Nossa Senhora pra lá de sofrível. Quem testemunhou a citada desempenhando Malu Mulher e suas cópias requentadas em novelas posteriores, viu que a atriz conseguiu no máximo construir personagens histéricas no lugar de dramáticas. Sua Porcina, com seu histrionismo exacerbado, nem escatológica foi capaz de ser, quanto mais engraçada. E seus últimos papéis, de cidadãs probas, de boa alma e cheias de nobres intenções, pareceram o prenúncio de sua atuação na campanha do candidato chapa branca.

      Dona Regina talvez tenha razão em ter medo. Em um país de novo tipo que podemos começar a desenhar neste 27 de outubro, mitos e falsificações poderão sofrer razoável e gradativo desgaste, com conseqüente e progressiva perda de espaço. O que pode começar a valer, se vitoriosos formos, são as pessoas de carne e osso e os talentos genuínos que as representem com profundidade e dignidade.
Ficar sem emprego é mesmo uma coisa de atemorizar qualquer cristão.