Sinal fechado. Diante dos carros, um menino faz malabarismos com bolas de tênis. Descalço, pernas e braços sujos, rosto encardido, faz graça por uns trocados. Deixa a bola cair, faz uma micagem – a falha como parte do espetáculo.

      Encosta no vidro e me pede um trocado. Dou-lhe um passe de ônibus. Agradece e vai em demanda de outros colaboradores. Uns sequer o olham no rosto. Outros, nem balançar a cabeça balançam: impassíveis, estátuas agarradas ao volante, para eles o menino é invisível. Não porque lá não esteja ou de ar seja composto, mas porque não queremos olhá-lo, enxergá-lo; porque nos envergonha sua existência. E sentimos pena e raiva misturadas, de nós e do menino – que nos diz que sua miséria é nossa opulência e de que alguém precisa fazer algo, ainda que malabarismos.