“Numa época como a nossa, os governos que conduzem as massas humanas à miséria têm de evitar que nessa miséria se pense no governo, e por isso estão sempre a falar em fatalidade”. (Bertolt Brecht)
Bertolt Brecht nos apresentou em 1934 – também nos tempos difíceis de gestação de crise internacional – suas cinco dificuldades (ou maneiras) para escrever a verdade. E, com isso, estabeleceu parâmetros que referenciam a clareza e a profundidade das obras escritas no campo do marxismo.

Quase setenta anos depois, o mundo enfrenta desdobramentos de uma crise histórica do capitalismo que, com novas características – cumulativas – são apresentados de modo irrepreensível nesta vertente em “Conflitos internacionais num mundo globalizado”, de José Reinaldo Carvalho e Lejeune Mato Grosso.

Os autores não hesitam em percorrer as máximas de Brecht, que afirmou, até preventivamente: “É necessário coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza”.

Apresentam a inteligência indispensável à identificação da verdade, acerca da qual disse Brecht: “Hoje, por exemplo, as grandes nações vão soçobrando uma após outra na pior das barbáries diante dos olhos pasmados do universo”.

Examinam o mundo atual com a percuciência de quem mencionava a possibilidade de expansão das guerras internas, transformando-se em guerras exteriores, somente legando “um montão de escombros no sítio onde outrora havia o nosso continente” (para Brecht, enquanto europeu).
Compartilham a arte de tornar a verdade manejável como uma arma, atualizando a reflexão de Brecht sobre o fascismo enquanto fase histórica do capitalismo (“algo de novo e ao mesmo tempo de velho”): “Nos países fascistas, a existência do capitalismo assume a forma do fascismo, e não é possível combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto sua forma mais nua, mais cínica, mais opressora e mais mentirosa do capitalismo”.

Do mesmo modo, tratam a produção do conhecimento, levando em conta que “uma vez reconhecidas as causas evitáveis, o mau estado de coisas pode ser combatido”; ou, que “o conhecimento da verdade é um processo comum aos que lêem e aos que escrevem”, exigindo de quem escreve saber encontrar o tom da verdade; ou, ainda, que “não há dúvida de que um alto nível literário pode servir de salvo-conduto à expressão de uma idéia”.

Em sua obra, José Reinaldo e Matogrosso consagram essa máxima: “Numa época como a nossa, os governos que conduzem as massas humanas à miséria têm de evitar que nessa miséria se pense no governo, e por isso estão sempre a falar em fatalidade”.

Trata-se, sobretudo, de um livro escrito em cima dos fatos com um instrumental gnosiológico marxista, imprescindível aos que pretendem compreender as graves circunstâncias que o mundo atravessa. E, com uma vantagem ímpar: trata-se de uma obra contínua, que pode ser lida semanalmente (às quintas-feiras) nas colunas dos autores (www.vermelho.org.br).