Muito eu daria
para reencontrá-la.
Se pelo menos
o nome dela eu recordasse…
Um desses deuses malvados
castigou-me e o nome perdeu-se.
Por que,
se tenho gestos
dela
impregnados em mim,
se a poesia
recebeu seu suave sopro?

A sala repleta.
Era uma manhã
de sábado.
Embora patologicamente tímido,
via-me tomando de energias
para acompanhar cada movimento
dela.
Com coragem bastante
para, de pé,
ler em voz alta.
Mas naquele dia
não podia ser.
Ela solicitou
que eu lesse
o trabalho.

Avermelhei,
gaguejei,
me perdi
e agressivamente
disse que não havia
escrito nada….

Era impossível
ler o poema.
Na verdade,
era uma descrição de ti.
Falava do vestido
que naquela manhã trajavas,
falava
de duas âncoras vermelhas
bordadas à altura dos seios
.
Entendes, agora,
por que era impraticável
te entender?

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

 Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).