Conta-se que o dramaturgo Jorge Andrade, por ocasião de uma visita ao dramaturgo norte-americano Arthur Miller, este o aconselhou: "Volte para o seu País e procure descobrir porque os homens são o que são e não o que gostariam de ser; e escreva sobre a diferença."

      Parece óbvio que no caminho deste objetivo proposto por Miller, necessariamente esbarra-se na Política: o que já fora identificado pelos gregos na raiz da história do teatro, para eles, a Política era considerada a arte regente de todas as outras artes.

      Parece óbvio. Claro que, dentro de um plano de lucidez, que é impossível contrapor ao fato de que a Política impõe limites às vontades individuais, e daí, por que os homens "são o que são e não o que gostariam de ser".

      Ainda assim, como no texto "Vida de Galileu" de Brecht, existem os que se negam a olhar pelo telescópio e descobrir que não estão no centro do universo. Estes, tentam impedir a qualquer custo, qualquer pequeno comentário de confluência entre o Teatro e a Política, como se o Teatro fosse um objeto isolado no tempo e no espaço.

      Apontam como "partidarização" a tudo o que julgam indiscriminadamente, ao tempo que se anunciam paladinos da "arte pura", portadores de um comportamento diferenciado e inovador.

      Estes seres, que "pairam acima" das relações sociais e de seus conflitos, não percebem, ou não querem perceber, que este medo fantasmagórico de "macular" o Teatro com a Política, como diz Augusto Boal: é mais velho que o Teatro ou, mais velho que a Política.