Avô
Entrou na loja apoiando-se em si. Passos lentos, olhar úmido, punha, em cada gesto, uma concentração de tempo. Ajeitou o chapéu escuro, de massa, na cabeça calva. No rosto nordestino, beatífico, a calma de quem desistiu de todas as certezas.
– Quero cordas de aço Rouxinol.
– Rouxinol? – perguntou o rapaz
– Sim.
– Olha, vô, tenho aqui umas de náilom, muito boas. Ó só: cordas Cotovia. Por que não leva dessas?
– Primeiro, porque não sou seu avô. Segundo, porque essa corda não presta. Terceiro, porque quero a de aço e não pedi sugestão.
– O moço, atônito, não parava de piscar. O velho, ali diante dele, tinha o mesmo ar empoeirado de todos os velhos, mas uma determinação tão serena e uma cara de galhofa tão curirosa que não teve outro remédio senão sorrir.
– Perfeitamente, senhor, aqui estão: Rouxinol.
– De aço?
– Aço puro.
– Quanto?
Meteu a mão no bolso da calça larga. Tirou um maço de notas embrulhadas num lenço preso a um cordão. Abriu o pano, pagou. Recebeu o troco, conferiu e tornou tudo enrolado para o bolso. Pegou o pequeno pacote, saudou o jovem tocando a ponta do chapéu e saiu, carregando consigo o cheiro de madeira e silêncio que impregnava o ambiente.