Ha urna convicção de que a governabilidade alcançada nestes quatros meses iniciais foi importante. Não se cumpriu o prognóstico sinistro da direita de que, sob Lula, o Brasil despencaria num abismo. Muito pelo contrário: mesmo tendo herdado um país à beira da insolvência, o novo governo conseguiu impedir que a catástrofe preparada pelo governo neoliberal de FHC se concretizasse, embora sob o preço da continuidade de fundamentos macroeconômicos conservadores.

Se ha uma convergência de que, nestes primeiros meses, isso tenha sido inevitável, dado que a correlação de forças não permitia uma mudança abrupta, agora vai se formando urna outra convergência, envolvendo trabalhadores, empresários, intelectuais e lideranças políticas: o processo da mudança da política macroeconômica, mesmo que gradativo, deve começar.

Ante uma taxa de juros — das mais altas do mundo —, os especuladores nacionais e estrangeiros festejam seus fabulosos lucros e pressionam para que essa lógica neoliberal persista por tempo prolongado e indeterminado. Noutro pólo, o setor produtivo da economia, asfixiado por essa política, explicita que se ela perdurar tornar-se-á impossível incrementar a produção; alerta, também, que as exportações se encontram prejudicadas pela instabilidade do câmbio. No âmbito do trabalho, em conseqüência da semiestagnação econômica, o desemprego não pára de crescer e segue o aviltamento dos salários. Na vida do povo, outro impacto destrutivo derivado dessa situação é o recrudescimento da violência que ceifa milhares de vidas.

Esse cenário pressiona o governo a cumprir o mandato da mudança que recebeu nas urnas. Vai se formando a convicção de que se chegou a um extremo que impõe o inIcio das medidas para impulsionar o desenvolvimento. 0 próprio presidente Lula reconheceu, em público, que o país precisa voltar a crescer. E o vice-presidente José Alencar quase diariamente critica duramente a política de juros do Banco Central que, segundo ele, impede essa retornada.

0 governo, progressivamente, procura dar resposta a esse anseio de mudança. No âmbito da política externa, resiste-se ao projeto da Alca e busca-se fortalecer o Mercosul e construir a integração da América do Sul. Nesse sentido, o BNDES abre linhas de crédito para incrementar as relações comerciais do Brasil com seus vizinhos.

Em várias esferas do governo — como o Ministério do Planejamento, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o BNDES e grupos de trabalho vinculados diretamente ao Palácio do Planalto — avança a discussão para definir um projeito estratégico de desenvolvimento que propicie o aumento da produção, a oferta de emprego e a redistribuição de renda.

Sem isso não ha como cumprir os compromissos maiores que assumiu com a nação. Nesta edição, Princípios prossegue seu esforço para contribuir com a elaboração desse projeto nacional de desenvolvimento.

João Amazonas permanece no fértil legado que deixou

Em 27 de maio completa-se o primeiro ano que vivemos sem João Amazonas, que foi o principal dirigente do Partido Comunista do Brasil e nome respeitado pelo povo e pelos políticos brasileiros, e pelo movimento revolucionário internacional, Amazonas foi o criador de Princípios, tendo sido seu diretor durante quase duas décadas. Ele permanece no legado que sua longa e frutifera vida produziu. A expressão maior desse legado é o Partido Comunista do Brasil, legenda que se expande e que eleva seu papel na vida política brasileira. Princípios também é fruto desse labor intelectual, decorrente de sua arraigada convicção de que “sem teoria revolucionária, não há rnovirnento revolucionário.”

* Comissão Editorial

EDIÇÃO 69, MAI/JUN/JUL, 2003, PÁGINAS 3