Entro na barbearia
e não o vejo.
O silêncio se faz.
Finalmente alguém diz:
-Você não sabia?
O da cadeira ao lado
como que o herdeiro da freguesia
me oferece os préstimos profissionais.
A esmo saio pela cidade.
Nesses sete ou oito anos
Algumas vezes
no centro da cidade
me achava completamente
só e acuado
e quando dava por mim
lá estava
asilado naquela cadeira.
Muitas vezes
não havia cabelo nenhum por fazer.
A conversa simples
sobre a vida e as coisas:
o pênalti que o atacante errou,
o político ladrão,
o preço das frutas.
O barulho amigo da tesoura,
a toalha escaldante,
a confiança dava permissão
à navalha percorrer
a face, o pescoço.
Por fim, a loção verde-menta
banhava meu rosto.
As mãos que massageavam
as faces
hoje estão postas,
podres.

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).