Por quê?
– Porque você vai pra Florianópolis?
– É separado.
– O que é separado?
– O porque que você acabou de falar. É separado.
– Porque? Eh! Digo: por que?
– Agora vai um acento no “e”.
– Arrrh! Você me deixa irritada.
– Você me deixa envergonhado diante dos leitores.
– Leitores? Que leitores? E como você sabe se está junto ou separado?
– Eu sei porque (e este porque é junto, pois se trata de uma resposta) alguém está escrevendo tudo enquanto nós falamos.
– Ah! É mesmo, estou vendo. Bom, mas isto não vem ao caso, não mude de assunto. Você vai para Florianópolis porque?
– Agora é separado e com acento circunflexo no final.
– Unrg! Que raiva, você quer falar direito comigo?
– Você que não está falando direito comigo. Tenho que ficar lhe corrigindo o tempo todo.
– Não me interessam os porquês. Eu quero saber é sobre você.
– Parabéns, até que enfim.
– O que houve? O que aconteceu?
– Você acertou um porquê. Agora está dois a um para os porquês.
– Que ódio! Você não cança!? Vai me matar deste jeito. Você não tem dó?
– Cansa. O certo é cansa. E, deste jeito, quem vai morrer é nossa língua portuguesa. Você que deveria ter dó.
– É por isso que a gente brigamos. Desde o primeiro dia em que nos conhecemos que você me corrige.
– Que a gente briga. Também. Eu perguntei se você aceitava uma pipoca e você me disse que preferia um saquinho cheio. E você não estava brincando. Eu não pretendia lhe dar só um grão. Ia lhe dar um saquinho cheio mesmo.
– Depois foi quando te levei para conhecer meus pai.
– Meus pais. O que você queria? Você disse pra eles que minha fruta preferida era gengibre.
– Tudo bem, tudo bem. Sua fruta preferida não é o gengibre, mas seu problema é que além de querer ser mais esperto que os outro, ainda tem este aí que fica escrevendo tudo que a gente fala.
– Vem aqui. Não precisa chorar.
– Não estou chorando. Vou pra casa da minha mãe.
– Sua mãe mora conosco. Esqueceu?
– Então por que você não vai mesmo embora com os seus por quês? Acertei agora? Está com acento circunflex.
– É circunflexo. E não acertou, pelo menos no último que é um substantivo e como tal, deve estar junto.
– Junta você com eles e nunca mais me procura, tá!?
– É sempre assim, a gente começa a conversar e você começa a chorar.
– É você que não me entende, é sempre estes porquês entre nós. Por que isto, por que aquilo, por que aquilo outro. E nós? Onde ficamos nós? E nossa vida? E agora você vai embora.
– Não!
– Não o quê?
– Eu não estou indo embora.
– Não? Porque?
– Por quê.
– O quê?
– Por quê.
– Por que, o que?