São três horas.
Sonolento,
daqui
confundo vaga-lumes
e estrelas.
A arma
com a bala
na agulha.
Não me afobo,
sei que o cheiro
da fruta madura
a seduz.
De meu pai caçador
herdei a paciência da espera.

Já a vejo
salivante
dirigindo-se
à mira.
Lá vem, nédia
e reluzente.
Rara caça, carne nobre,
arisca, quase impossível.
Surge.
Diante de seu porte,
de sua grega estética,
sinto-me
um animal de dentes podres.
Minha bala, indigna de
seu sangue.
Por que cessar tão deslumbrante
vida?

Ah! alvo de minha mira,
teu dever é ser belo,
o meu é sangrar-te,
e com teu vermelho
tingir o papel.
Cruel papel me
designou Zeus:
datilografar,
digitar,
aprisionar
bichos
que nasceram
para ser livres.

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).