(Olhe para todas as pessoas solitárias.)

      Os vizinhos, alertados pelo cheiro, abriram a porta com o pé-de-cabra. Para nós meninos, aquilo era um espetáculo para quem não tinha teatro, literatura, cinema ou televisão.

      O velho parecia estar caído dentro de um cenário. Uma estatua de São Jorge afundava a madeira podre de um móvel no canto da sala, na cozinha, havia arroz esparramado pelo chão como se houvera realizado um casamento. Quando os policiais chegaram, foram logo mandando todo-mundo pra suas casas, e sem atinar para o sentido das palavras, gritavam: “Vão cuidar de suas vidas!”