Lá vem ele, corpo esculpido nas melhores academias da cidade, sem camisa, de calção, cabeça raspada, a suástica tatuada no peito e na mão, uma corda que o prende a um pit bull. Passa pela piscina do seu condomínio fechado, todos os rapazes do condomínio o respeitam, alguns já apanharam dele, todos gostariam de ser como ele, campeão de jiu jitsu, adorado por todas as garotas da cidade, no condomínio já comeu todas, menos, claro, sua irmã, que nela ninguém toca. Vai andando como se desfilasse, sabe que todos o olham.

      Corajoso, não teme nem um batalhão da polícia, saí do condomínio, atravessa a rua e já está no calçadão de Copacabana, ali ele também é um rei. Foi ali mesmo que na semana passada comeu de porrada três nordestinos que bebiam num barzinho a beira mar. Prosseguia seu caminho, encarando todos que por ele passavam, um coitado trombou com aquele guarda-roupas de seis portas abertas, caiu como uma manga podre ao chão. Não olha pra onde anda paraíba, ficou louco!? O pit bull o puxou pelo braço. Rosnou para umas crianças que brincavam na areia da praia. É até um crime. Como podem deixar um animal destes sair pelas ruas, pulguento, raivoso, perigoso, ignorante, sem o devido adestramento? O pit bull deveria ser preso por levar um sujeito destes para passear.

      Mas continuaram, jogaram bola, lutaram os dois na praia, tomaram alguns red bulls, comeram açaí e ao sair, mais uma vez, bateram em algumas bichas que circulavam pela praia. Aliás, está aí a razão de sua existência, bater em homossexuais. Depois que ele descobriu que homossexual não é sabão em pó para lavar o sexo, é uma briga atrás da outra com os rapazes delicados da cidade. Passou a fazer disto a tarefa principal da sua vida – na realidade ele não tinha mesmo muita coisa pra fazer –. Seu lema era: bata em uma bicha e faça o dia mais feliz. Foi a coisa mais criativa que conseguiu pensar em toda sua vida.

      Com o cair do sol e o corpo untado de protetor sessenta para não pegar nenhuma cor, ele volta pra casa. Queria ficar, mas o pit bull não permitiu. Entrou no condomínio fechado, permaneceu mais algum tempo na garagem revigorando a musculatura em alguns aparelhos de musculação, tomou um banho, deu um beijo no papai e na mamãe, foi para seu quarto colocou uma tanguinha bem apertada, acendeu seu abajur de bichinhos que fica rodando, gritou, de lá mesmo, para a mãe não apagar a luz do seu quarto e sonhou mais uma vez com o Ric, seu eterno amigo de infância.