O Camaleão é um tipo muito comum no mundo político, mesmo de esquerda. Ele se prolifera fazendo o discurso mais conveniente para cada público e para cada momento. Para o Camaleão, não há princípios: há conjunturas.

      Nestes tempos de grandes embates de classe, onde a dúvida teima em se meter no meio das polêmicas, o Camaleão faz o que não prega. Com isso, busca aparecer aos olhos do público como o lutador de primeira hora, defensor da grande unidade, guardião dos princípios e portador da verdade histórica.

      O Camaleão adora sofismas. Mistura alhos com bugalhos com uma tal maestria, que não há como não aplaudi-lo. Evoca a memória do proletariado revolucionário com a mesma facilidade com que comenta e confere status de fundamento teórico ao mais descarado oportunismo.

      O Camaleão é um oportunista. Aproveita todas as deixas para aparecer e louvar. Esmera-se em genuflexões, toma do microfone para ressaltar sempre o caráter estratégico de uma batalha, mesmo que seja a luta pela conquista do papel higiênico nos banheiros públicos.

      O Camaleão gosta da sombra. Por um lado, porque prefere sempre articular a debater; o diz-que-me-disse aos fóruns; o subentendido ao deliberado. Por outro, porque, entre fazer e mandar fazer, fica com a segunda alternativa. O Camaleão está sempre “cheio de tarefas”.

      Convocada uma greve, o Camaleão não a mobiliza, mas ocupa a tribuna e vai viver da memória do movimento, transmitindo aos incautos de que foi umas de suas mais destacadas lideranças.

      O Camaleão não gosta de nenhum comando do qual não seja figura proeminente. Diante dele, tem duas atitudes: ou tenta nele ingressar pela bajulação; ou, obstado esse caminho, faz futricas, aponta uma suposta falta de política e de democracia, desagrega e procura se impor como alternativa.

      Mas, temos que reconhecer, o Camaleão é simpático. Bebe com todos, fuma de tudo, oferece sua casa para pernoite, dá carona, é “super gente fina”. É uma “pessoa do bem”. Cultiva muitas amizades, sobretudo com dirigentes e lideranças. E tem sempre um assunto sério para tratar com cada um deles.

      O Camaleão é um duplo. E dispara sua língua insidiosa para todos os lados em busca de encher o próprio papo.