Começou a circular uma nova e promissora publicação na área de relações internacional, a Revista DEP (Diplomacia, Estratégia e Política), editada pelo Ministério das Relações Exteriores. Trata-se de uma importante iniciativa, que surge para se somar ao crescente número de vozes que, no mundo político, acadêmico e social, se somam na defesa da unidade e integração da América do Sul.

Em seu primeiro número, a DEP apresenta, como cartão de apresentações, artigos dos chanceleres dos doze países que compõem o subcontinente. Neles, fica nítida a crescente sinergia política que vai tomando conta dos países sul-americanos em torno do ideal integracionista. Mas ficam nítidos igualmente, os percalços políticos, todavia existentes para a consecução plena dessa integração.

O texto do chanceler brasileiro, Celso Amorim, “Conceitos e estratégias da diplomacia do governo Lula”, é uma importante peça no sentido de esclarecer qual o sentido estratégico dos avanços operados em nossa política exterior nesse governo, e quais suas conseqüências em termos de um projeto nacional, plenamente integrado a nosso entorno geopolítico. O chanceler parte da vinculação estreita entre a “fé cega” no modelo neoliberal e as “crises sócio-políticas” produzidas por estes na região. Adiante, talvez numa resposta aos céticos, apresenta nossa política externa de verniz avançado como “instrumento de apoio ao projeto de desenvolvimento social e econômico do país”, estando “profundamente enraizada nos interesses e esperanças do povo brasileiro”, pelo que “é nacional, sem deixar de ser internacionalista”. A seguir, o ministro explicita os avanços: a gestação da Comunidade Sul-americana de Nações; a aproximação com outros países em desenvolvimento; a criação do G-20 no âmbito das negociações comerciais multilaterais; a luta contra a fome e a pobreza; a defesa de um mundo multipolar; a participação brasileira no Haiti; a rejeição, pelo Brasil, da invasão e ocupação do Iraque, dentre outros.

Outros artigos que chamam a atenção, pela identidade de posições, são os dos chanceleres argentino e venezuelano. O primeiro, Rafael Bielsa, em texto cujo titulo já diz a que vem – “A política exterior da Argentina no quadro da integração regional” – apresenta a idéia de que “as rupturas experimentadas pela política externa argentina foram as mesmas sofridas pela própria vida do país” – quem acompanhou o período Menem, por exemplo, e sua sistemática sabotagem do Mercosul, dará razão ao argentino. O chanceler venezuelano Jesús Arnaldo Pérez, por sua vez, segue na mesma toada, defendendo posições similares e destacando inclusive “o relançamento comercial da Venezuela”, dando como exemplo o fato de o Brasil ter ampliado “seus investimentos na Venezuela, como exemplifica sua participação na construção da linha 4 do metrô de Caracas e em uma nova ponte sobre o Rio Orinoco” – aludindo aos créditos concedidos pelo BNDES.

Mas se a DEP dá mostra, pelos textos dos chanceleres, da crescente unidade em torno da integração sul-americana também é verdade que apresenta os “elos fracos da cadeia” no subcontinente. No texto da colombiana Carolina Barco, por exemplo, é explicitada a política de “governabilidade democrática”, isto é, a política fascistóide de Álvaro Uribe, aliado de primeira hora do imperialismo norte-americano no subcontinente com o “Plano Colômbia”. Já a chilena Maria Alvear pratica um contorcionismo retórico ao afirmar num só texto que “nossa prioridade é a América Latina” e ao mesmo tempo defender o tratado de livre comércio Chile-EUA e a Alca – ignorando a explícita contradição entre ambos os movimentos.

EDIÇÃO 79, JUN/JUL, 2005, PÁGINAS 80