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    Comunicação

    Canção Russiana

    Renato, lá na sala, com aquela voz russiana dele, é uma lua ardendo, intumescendo tudo o que tem vida tudo o que habita ou visita a casa, exceto quem teve os ouvidos arruinados por ruídos… Os tímpanos roídos por besouros carnívoros, terríveis bichos antigos. A voz dele ata-se à voz da guitarra, do piano e […]

    POR: Adalberto Monteiro

    Renato,
    lá na sala,
    com aquela voz russiana
    dele,
    é uma lua
    ardendo,
    intumescendo
    tudo o que tem vida
    tudo o que habita
    ou visita
    a casa,
    exceto quem teve
    os ouvidos
    arruinados por ruídos…
    Os tímpanos
    roídos
    por besouros
    carnívoros,
    terríveis
    bichos antigos.

    A voz dele
    ata-se
    à voz da guitarra,
    do piano
    e de mãos dadas
    vão passeando
    em cada âmago
    do corpo,
    em cada cômodo
    da casa
    vão mergulhando
    no poço da alma.
    E cantam e cantam
    e fremem e fremem
    e meus mamilos
    ficam enrijecidos
    e você não está
    aqui
    para sugá-los
    mordicá-los.

    Cantam, cantam,
    e o inglês
    caiu bem
    na voz dele,
    mas você não está aqui
    para traduzir;
    então me ponho
    a intuir
    se as histórias
    que ele canta
    são alegres
    ou triste;
    se dizem
    de mel
    ou de fel.

    Ele canta, canta
    e tudo que tem sexo
    passa a marejar
    e a enrijecer,
    a enrijecer
    e marejar,
    a expandir-se,
    alargar-se,
    canta, canta
    e tudo que tem sexo
    passa a inundar,
    a alagar.

    Ele canta, canta
    e parece
    que é um hino.
    Então em mim
    ergue-se uma clava forte
    – zás –
    para atravessar-te.
    Torno-me um sertanejo
    de braços fortes,
    determinados
    a ficar socando, socando
    o teu pilão fundo;
    resvalando, resvalando,
    mesmo que se esfole,
    mesmo que se afogue,
    até que a amêndoa
    se descasque
    até que
    o azeite do gozo
    se derrame.
    Mas você não está aqui.
    fico
    uma folha seca
    girando
    no redemoinho
    das canções dele,
    fico à deriva
    da saudade
    de
    tuas carícias
    e vem o sono
    e
    um sonho
    unta-me
    de mel.

     

    Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
    Goiânia – 1997

    Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).

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