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    Comunicação

    O poeta-operário

    Grita-se ao poeta: “Queria te ver numa fábrica! O quê? versos? Pura bobagem! Para trabalhar não tens coragem”. Talvez ninguém como nós ponha tanto coração no trabalho. Eu sou numa fábrica. E se chaminés me faltam talvez sem chaminés seja preciso ainda mais coragem. Sei. Frases vazias não agradam Quando serrais madeira é para fazer […]

    POR: Redação

    2 min de leitura

    Grita-se ao poeta:
    “Queria te ver numa fábrica!
    O quê? versos? Pura bobagem!
    Para trabalhar não tens coragem”.
    Talvez
    ninguém como nós
    ponha tanto coração
    no trabalho.
    Eu sou numa fábrica.
    E se chaminés
    me faltam
    talvez
    sem chaminés
    seja preciso
    ainda mais coragem.
    Sei.
    Frases vazias não agradam
    Quando serrais madeira
    é para fazer lenha.
    E nós que somos
    senão entalhadores a esculpir
    a tora da cabeça humana?
    Certamente que a pesca
    é coisa respeitável.
    Atira-se a rede e quem sabe?
    Pega-se um esturjão!
    Mas o trabalho do poeta
    é muito mais difícil.
    Pescamos gente viva e não peixes.
    Penoso é trabalhar nos altos-fornos
    onde se tempera o ferro em brasa.
    Mas pode alguém
    acusar-nos de ociosos?
    Nós polimos as almas
    com a lixa do verso.
    Quem vale mais:
    o poeta ou o técnico
    que produz comodidades?
    Ambos!
    Os corações também são motores.
    A alma é poderosa força motriz.
    Somos iguais.
    Camaradas dentro da massa operária.
    Proletários do corpo e do espírito.
    Somente unidos,
    somente juntos recomeçaremos o mundo,
    fá-lo-emos marchar num ritmo célere.
    Diante da vaga de palavras.
    levantemos um dique!
    Mãos à obra!
    O trabalho é vivo e novo!
    Com os oradores vazios, fora!
    Moinho com eles!
    Com a água de seus discursos
    que façam mover-se a mó!

     

    Coleção a Obra – Prima de Cada Autor
    Maiakóvski – Vida e Poesia
    Tradução dos poemas – Emílio C. Guerra e Daniel Fresnot
    Editora Martin Claret, 2006