A fome é a mais antiga
governante desta terra.

Pela fome o bicho morre,
pela fome o bicho come.

Se a fome é a raiva dor de não comer,
a fome é o buraco no estômago
na raiva sem nome de não ser homem.

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Onde tem mais larguezas
a geografia da fome
torna trágica e hereditária
a viagem da miséria.

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“Não há nada mais terrível
do que morrer de fome
vivendo na bagaceira”.

(José Américo de Almeida)

                          *

Se há uma água da palavra
nos interstícios do inaudito
haveria uma palavra inefável
capaz de nomear
o enigma da água?

                          *

Ser nordestino é antes destino
ou sina de ter no sertão
o sonho, pátria e caminho
mesmo em chão esturricado
e solidão de mau destino.

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Mais que vazio geográfico,
o sertão nordestinado
é a pátria da coragem. 

 Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.