A polícia política brasileira, por sua atuação implacável no controle e vigilância dos cidadãos, de 1930 a 1983, algoz, acabou sendo, também, guardiã de vasta documentação ainda pouco conhecida de um período relativamente recente da história do Brasil.

O material de Ruy Santos apreendido pela polícia política por ocasião de sua prisão em 1948, resulta de sua participação ativa como militante, fotógrafo e cineasta do Partido Comunista do Brasil durante os anos 40, que registrou em película muitas personalidades, entre elas, Samuel Wainer, Luiz Carlos Prestes, Graciliano Ramos, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Clóvis Graciano, dos quais exibiremos portraits fotográficos.

A exposição também contemplará cópias fotográficas produzidas por Ruy a partir de fotogramas do filme Comício: São Paulo a Luiz Carlos Prestes, com 9min e 14seg de duração que retratam o comício de Luiz Carlos Prestes no estádio do Pacaembu, em 15 de julho de 1945, em São Paulo. O curta, com direção, roteiro e fotografia de Ruy Santos, foi produzido pela Cinédia em 1945, com realização do Comitê Nacional do Partido Comunista, e será exibido durante todo o período da exposição. Com tom heróico, o filme e as imagens realçam o aspecto grandioso, de grande espetáculo político-partidário que o PCB estava inaugurando naquele momento, em que o povo é mostrado como grande protagonista do evento.

Também serão expostos outros materiais de arquivo de Ruy apreendidos pela Polícia Política e mantidos sob a guarda do Aperj, como cartas, documentos pessoais e o roteiro do primeiro longa-metragem por ele dirigido – o documentário Vinte e quatro anos de lutas: como se formou o partido comunista do Brasil. O filme, rodado em 1945, que traz imagens de Luiz Carlos Prestes ainda na cadeia, foi exibido no Rio, na ABI, em 1946, mas está desaparecido desde 1947, quando foi apresentado ao Serviço de Censura de Diversões Públicas, visando à licença de exibição, jamais obtida. O que restou dele foi somente o roteiro.

Ruy trabalhou no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo Getúlio Vargas, e atribuía a sua veia documental a essa passagem pelo órgão. Se no DIP Ruy aprendeu e experimentou muito, foi no Partido Comunista que obteve projeção internacional, graças ao documentário Vinte e quatro anos de lutas, chegando a representar o Brasil como membro efetivo da diretoria da União Mundial dos Documentaristas, instituição situada em Praga, Tchecoslovaquia, em 1948. Ruy era comunista, comungava, como muitos artistas e intelectuais da época, dos ideais e da perspectiva do PCB, mas fica evidente em seu trabalho que era mais um artista a favor do partido do que um panfletário.

Em sua incursão pelo cinema, Ruy Santos além do documentário, também dirigiu, produziu, escreveu roteiro e fez a fotografia de filmes de ficção, com uma paixão especial pela literatura. Adaptou para o cinema os contos, Onde a terra começa (1945), do escritor russo Máximo Gorki e O desconhecido (1978), a partir do conto homônimo de Lúcio Cardoso, com o qual trabalhou no filme A mulher de longe (1949) com roteiro e direção do próprio Lúcio. Participou ainda na parte brasileira do filme "Uma criança vem ao mundo" (1952), do holandês Joris Ivens que dirigiu ainda Le chant des fleuves (1954), um documentário comparativo entre os grandes rios do mundo e as multidões de trabalhadores.

Ruy Santos fotografou e dirigiu mais de 30 documentários, dos quais alguns foram premiados no Brasil e exterior. De sua estréia, ainda jovem, como assistente de fotografia do lendário filme Limite (1930), de Mário Peixoto, até sua morte em 1989, foram mais de 47 anos de cinema e fotografia.

Serviço

Título: Ruy Santos:imagens apreendidas

Sala: Gabinete Fotográfico

Data : 27 de abril (abertura com coquetel)

Visitação : de 28 de abril a 13 de junho 2010

Terça a domingo, das 12 às 19 hs

Curadoria: Teresa Bastos

Quantidade de imagens: 21

Imagens: Fotografias em preto e branco, tamanho 50X70 cm em moldura 70 X 80 cm.

Realização: Centro cultural Justiça Federal e Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro

Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, Cinemateca do MAM, Centro Técnico Audiovisual (CTAV) e Gráfica e Editora Minister.

Exibição de filmes e debates: Teatro CCJF

Datas: 15 e 23 de maio de 2010

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Com informação de Malu Ravagnani e da assessoria de Imprensa CCJF