“As empresas brasileiras adoram ir para Paris, para Londres. Agora, com as cinzas do vulcão, estão parando em qualquer lugar, com medo”, disse, arrancando risos da plateia. “Mas nós estamos trabalhando para fazer com que nossas empresas comecem a parar em alguns países africanos, porque, se a gente não tiver voo pra garantir o direito de ir e vir dos ministros, dos empresários, dos cientistas, não vamos conseguir o desenvolvimento que queremos”.

Ao falar sobre o financiamento a países africanos, Lula aproveitou para ressaltar a mudança de papel do Brasil no cenário internacional. “O Brasil tem que ter coragem de entrar no rol dos países doadores e contribuir. Se a gente teve coragem de aprovar US$ 14 bilhões para emprestar pro FMI (Fundo Monetário Internacional), porque não pode ter, através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), uma política de financiamento aos países africanos? Essa é uma decisão política que já está tomada”.

O presidente disse que o Brasil pode criar para a África “as mesmas políticas de crédito que tem para agricultores brasileiros” e disse que o País planeja implantar dez projetos piloto para aquisição de alimentos da África.

“O Brasil não precisa de ajuda financeira pra fazer essas coisas. O Brasil tem tamanho, tem tecnologia, tem dinheiro e tem vergonha. Portanto, nós temos que fazer um esforço e não ficar competindo com países mais pobres do que nós”.

Bolsa Família

Lula também destacou em seu discurso que os programas sociais tiveram de superar “preconceitos” para mostrar a importância para os mais pobres e para a economia do País.

“Uma parte da elite política dizia que dar dinheiro na mão de pobre era proselitismo. Depois veio a incompreensão de alguns que diziam que se der alguns reais para um pobre, ele não vai querer mais trabalhar. Ele vai tomar cachaça, não vai querer mais trabalhar. Tivemos que enfrentar esse preconceito”.

O presidente lembrou que foram as classes D e E do Norte e do Nordeste que consumiram mais durante a crise econômica e classificou essa mudança como “um dos milagres que aconteceram neste país”.

“Muito dinheiro na mão de poucos é concentração de riqueza. O que fizemos foi garantir um pouquinho para muita gente. E os pobres que ficavam à margem viraram classe média. Começaram a frequentar shopping e comprar coisas que antes só uma parte da sociedade podia”.

Universidade Afro-Brasileira

O presidente disse também ter pronto um projeto de lei a ser encaminhado para o Congresso Nacional para oficializar a instalação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em território estrangeiro. E comemorou a aprovação, na Câmara dos Deputados, da criação da Universidade Afro-Brasileira, ressaltando a importância de se aprovar o projeto também no Senado Federal.

“Estamos pensando em dez mil alunos, metade africanos, metade brasileiros. (A universidade) Será na cidade de Redenção, no Ceará, onde começou a luta pelo fim da escravidão no nosso país. Estarão todos estudando olhando para o continente africano, que é pra não esquecer de onde veio”.

Lula defendeu ainda uma reforma do Comitê de Segurança Alimentar da Organização das Nações Unidas, para “torná-lo um pólo representativo de todos os atores relevantes para a construção de uma parceria global de agricultura e a segurança alimentar”.

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Com agências