A Copa e os riscos das importações descontroladas
O futebol é uma economia. Não só naquele sentido óbvio dos recursos que a atividade gera e põe em circulação fora das quatro linhas. A economia também está presente dentro de campo.
Há hoje um mercado global de jogadores. É um mercado com todas as características de um mercado de especialidades, típico das manufaturas, em que o valor unitário é o que determina o preço do contrato – e não a tonelagem, como no caso das commodities.
São muitos, no futebol, os países exportadores e poucos os importadores. Os importadores são aqueles que têm mercado para o futebol, mas entendem que as vantagens de trazer produtos do exterior superam os custos da produção interna. Os grandes importadores são Itália, Inglaterra e Espanha. Os grandes mercados exportadores são a América Latina, especialmente o sub-continente sul-americano, e a África.
Na Copa da África, das oito seleções que começam nesta sexta-feira a fase de quartas-de-final, cinco times – quatro sul-americanos e um africano – são exportadores. Dos titulares das quatro seleções sul-americanas, apenas cinco jogadores – um no Brasil, um na Argentina e três no Paraguai – atuam em seus países. Dos três restantes, todos europeus, um é importador – a Espanha -, outro – a Holanda – meio a meio e o terceiro – a Alemanha – pode ser considerado local. Dá o que pensar.
Itália e Inglaterra, aquelas que mais abriram seus mercados a importações de jogadores, mostraram que não dispõem de tecnologia própria para montar uma seleção vencedora. Podem ter sido prejudicadas por movimentos imprevistos da conjuntura, como o gol inglês legítimo que o árbitro uruguaio Jorge Larrionda não deu, mas, claramente, não exibiam competitividade para ir muito mais longe.
Faltou-lhes o que falta às economias que abrem seus mercados a importações com maior valor agregado, eficientes e inovadores: capacidade de competir. Acabam, como já anunciam os ingleses, tendo de adotar reservas de mercado, impondo cotas de importados aos times, na esperança de poder voltar a competir com chances nos mercados, quer dizer, nos campeonatos em que é obrigatório se apresentar com produtos/jogadores nacionais.
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Fonte: jornal O Estado de S. Paulo