Leia a seguir a íntegra do discurso ou assista o vídeo abaixo.

Declaração à imprensa da Presidenta da República, Dilma Rousseff, após cerimônia de assinatura de atos – Ancara/Turquia

Ancara-Turquia, 07 de outubro de 2011

Senhor presidente Abdullah Gül, presidente da República da Turquia,

Senhoras e senhores integrantes das delegações turca e brasileira, presentes,

Senhoras e senhores profissionais da imprensa,

Senhoras e senhores,

Quero agradecer ao presidente Gül pela gentileza da sua hospitalidade. Minha visita oficial a este país belíssimo que é a Turquia reflete uma nova geopolítica do mundo.

A Turquia e o Brasil são Estados importantes em suas respectivas regiões. Ocupamos espaço crescente no cenário internacional e, juntos, nossas vozes ganham projeção.

Assim como ocorre na Turquia, buscamos em nossa região o crescimento, o aumento de oportunidades e a inclusão social. Defendemos o aprofundamento da democracia e a defesa e a promoção dos direitos humanos. Temos por meta a integração sul-americana com uma cooperação ativa e solidária.

Nós ampliamos os nossos contatos birregionais com a América do Sul, com o Mundo Árabe, com a Ásia, com a África e a Europa, todas elas grandes regiões do mundo, algumas na fronteira com a Turquia.

Ponto de articulação entre civilizações, a sociedade turca é um amálgama dessas múltiplas influências. A identidade nacional brasileira formou-se na confluência de etnias, nacionalidades e culturas, tanto as indígenas – originárias – quanto as que formaram o Brasil, levadas pelas correntes da história. Entre essas, está e destaca-se a contribuição dos povos turcos para o desenvolvimento do Brasil e de sua civilização.

O Brasil e a Turquia são países democráticos e plurais. Temos alcançado índices positivos de desenvolvimento. Coincidimos, na conversa com o Presidente, no estreitamento de relações com a África. Ampliamos redes diplomáticas, aumentamos o nosso comércio, nossa ajuda humanitária e nossa cooperação com outros países do mundo.

O momento de crise aguda, por que passa a União Europeia, nos preocupa. Desejamos para a Europa uma saída rápida da crise, por meio da busca de maior estabilidade macroeconômica, mas também, e, sobretudo, assegurando a retomada do crescimento, da proteção ao emprego e dos segmentos mais vulneráveis das diferentes populações.

Tenho certeza de que no G20 o Brasil e a Turquia – como conversamos eu e o Presidente – serão países que estarão em sintonia na defesa de uma visão mais harmoniosa, democrática e pacífica do mundo. O perfil econômico da Turquia e do Brasil oferece ampla base para uma pauta substantiva no intercâmbio comercial. Nós devemos chegar a US$ 2 bilhões em 2011, e pretendemos realizar mais os nossos potenciais. Hoje, nós nos encontramos em uma conferência empresarial, onde autoridades do governo turco e do Brasil se encontraram junto a uma plateia, uma plenária, de empresários brasileiros e turcos muito qualificada.

Consideramos que isso é um marco no campo das nossas relações, que não são só relações que devem ser comerciais, mas também relações importantes no que se refere à participação de investimentos privados no Brasil, de empresários turcos; e investimentos na Turquia, de empresários brasileiros.

Somos firmes em apoiar aliança de civilizações. Juntos, trabalharemos para garantir que prevaleça a visão construtiva do futuro, contribuindo para atitudes agregadoras, atitudes de tolerância e rejeição à xenofobia. Esse é o nosso propósito de termos aderido à Aliança das Civilizações, que o Brasil teve a honra de sediar em maio de 2010.

Possuímos visão própria de como melhor reduzir as tensões do mundo. É possível, para nós, construir, portanto, uma agenda de crescimento econômico, de desenvolvimento de nossos povos, de paz e segurança eficaz, na qual o isolamento, a punição e o uso da força serão, verdadeiramente, os últimos recursos.

Hoje poucos assuntos são mais importantes do que uma solução para o conflito entre a Palestina e Israel. Sem uma solução para o povo da Palestina também não haverá solução de segurança para o povo de Israel. Essa é uma questão que nós consideramos crucial.

Coincidimos também na visão da importância da Primavera Árabe. O Brasil coincide com a visão expressa pela Turquia na ONU… aliás, sobre a ONU, em que ela precisa se reformar, ela precisa se expandir para se tornar mais representativa e contemplar os diferentes países que passaram a ser atores no cenário internacional.

A distância física entre a Turquia e o Brasil foi reduzida por um voo direto, que vai de Istambul a São Paulo. Esse voo direto permite que essas duas civilizações estreitem não só a troca de pessoas, turistas e empresários, mas também assegura uma forma rápida de relacionamento entre dois povos importantes no cenário internacional.

A visita do primeiro-ministro Erdoğan ao Brasil, em maio de 2010, resultou num plano de ação para a parceria estratégica: ações conjuntas na área de tecnologia, agricultura, energia e comércio exterior. Como países, que somos, ao mesmo tempo, membros da América Latina e da Europa e da Ásia, acreditamos que a Turquia e o Brasil têm muito a ganhar com essa parceria recíproca.

Temos acordo na área de defesa em vigor desde 2007 e queremos aprofundá-lo. Nosso acordo no campo científico também abre grandes oportunidades para os nossos países e, especificamente, na área da saúde, como é o caso do rastreamento de medicamentos.

Gostaríamos também de destacar a importante parceria que podemos ter, e estamos desenvolvendo, na área científica e tecnológica entre o CNPq, brasileiro, e o Conselho de Pesquisa Científico-Tecnológico da Turquia, Tübitak.

Vamos aprofundar nosso diálogo e nossa cooperação. Expressei ao presidente Gül a importância da participação, tanto dos times, mas também do povo e do governo turco, nos eventos da Copa do Mundo de [20]14 e das Olimpíadas de 2016.

Considero que essa aproximação entre o Brasil e a Turquia pelo futebol é um momento importante das nossas relações, pois significa um estreitamento na área do esporte, e nós queremos também destacar, como simbólico, o fato de que o curador da que está ocorrendo hoje, Bienal, lá em Istambul, é um brasileiro. Nós achamos isso simbólico, por isso estamos destacando.

Queríamos dizer também que o paralelismo das nossas visões, o fato de uma parte expressiva do Brasil ter sido formada por pessoas vindas desta região torna a nossa parceria, além de uma parceria econômica, de ciência e tecnologia e cultural, também uma parceria que, como eu disse para o Presidente, estreita laços de parentesco, porque são povos que desfrutam de uma contribuição.

Nós, uma nação nova, temos nas nossas veias correndo muito do sangue aqui da Turquia, e acreditamos que esse fato pode também ser um fator decisivo no nosso relacionamento. Não só nos tempos modernos, mas lembrando as nossas raízes e as nossas origens.

Agradeço imensamente ao Presidente. E, finalmente, queria estender aqui os votos de pesar do povo brasileiro e os meus votos ao primeiro-ministro Erdoğan pela passagem da senhora sua mãe. Manifestamos o nosso extremo pesar por esse fato.

Muito obrigada.