Cordel do farinheiro

Tenho prazer de compartilhar com os leitores a poesia pura de um homem do povo, autor do blogue "Ventos que Sopram do Marajó". Para sobreviver o poeta Jetro Fagundes tornou-se vendedor de farinha de mandioca, carregada em bicicleta para feira ao cantar do galo. Ele depende do trabalho de seus companheiros da roça plantadores de mandioca em agricultura familiar e se distingue na comunidade pelo hábito adquirido da leitura e uma enorme sensibilidade poética com engajamento social que, certamente, Maiakovski reconheceria num piscar de olhos. O cordel fala do escritor marajoara-universal Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras-PA, 1909 – Rio de Janeiro-RJ, 1979), com certeza uma das melhores homenagens que ao autor de “Chove nos campos de Cachoeira” gostaria de receber:

“Dalcídio Jurandir
O Marajoara do Século Vinte”

Ah, Cachoeira do Arari predestinada
nos remansos das águas do teu sorrir
Pontas de muitas Pedras são lapidadas
pelos romances de Dalcídio Jurandir

Menino com uma incrível facilidade
de narrar vaqueiros, canoas, o rio
foi sem dúvida a maior personalidade
literária que o Marajó já produziu

Jornalista de alma revolucionária
simplesmente brilhante intelectual
de uma riquíssima produção literária
poética, romântica, concreta, social

Dalcídio utilizava sua literatura
num fantástico esclarecedor desafio
que denunciava a social estrutura
exploradora no Norte do nosso Brasil

Homem Romântico, realista, engajado
conhecimento de causa sobre seu país
um certo dia das mãos de Jorge Amado
recebeu o Prêmio Machado de Assis

Marajoara que tinha talento de sobra
ao retratar aspectos sociais, regionais
é premiado pelo conjunto da sua obra
recheado de tantos valores culturais

Intelectual ligado aos apelos populares
sabia facilmente se fazer compreender
enfrentando o ódio de fascistas olhares
que por anos foram os donos do poder

Antes ou mesmo depois de ser conhecido
o romancista Jurandir acalentando sai
imaginando Campos Marajoaras floridos
como os das fotos dos álbuns de seu pai

Sujeito de uma polidez impressionante
o escritor Dalcídio Jurandir era um ser
de origem humilde, e educação marcante
finos tratos, afetividades no conviver

Marajoara sumano de narrativa poética,
socialista na literatura e na ação,
viajou inclusive à União Soviética
onde sua obra teve vasta divulgação

Romancista, regionalista brasileiro
de Cachoeira da chuvarada, do toró
foi pros rumos do Rio de Janeiro
ah, mas nunca esqueceu o seu Marajó

Marajoara esclarecido, revolucionário
com espírito formador da imaginação,
foi o homem dos romances proletários
um lindo escritor de popular erudição

Dalcídio, "OS HABITANTES" das "RIBANCEIRAS"
na "PONTE DO GALO" em "BELÉM DO GRÃO PARÁ"
sabem que "CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA"
lá no "MARAJÓ" que sempre te reverenciará

PASSAGEM DOS INOCENTES, CHÃO DOS LOBOS
PRIMEIRA MANHÃ, TRÊS CASAS E UM RIO
todo mundo sabe, pois não somos bobos
és dos maiores escritores desse Brasil

Personalidade Marajoara do século vinte
que nas "Linhas dos Parques" culturais
escrevia com simplicidade e requinte
como uns tantos da galeria dos imortais

Grande Amazônida, Paraense, Parauara
o fantástico escritor Dalcídio Jurandir
é um imortal pro nosso povo Marajoara
por sua militância no escrever e no agir

Jetro Fagundes
Farinheiro Marajoara

  José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios "Novíssima Viagem Filosófica", "Amazônia Latina e a terra sem mal" e "Breve história da amazônia marajoara".

autor dos ensaios "Novíssima Viagem Filosófica" e "Amazônia latina e a terra sem mal", blog http://gentemarajoara.blogspot.com