Mudança de posição em relação ao fortalecimento do papel do Banco Central Europeu (BCE) no enfrentamento da crise na Europa observa-se nos últimos dias, enquanto crescem as declarações de autoridades governamentais e comunitárias na União Européia (UE) a favor de um “enfrentamento diferenciado” do problema, em relação ao que tem sido adotado até hoje.

Nas indiretas referências do presidente do BCE, Mario Draghi, por maior intervenção do BCE (sob condições) nos mercados de títulos estatais, somam-se também as propostas do front “linha-dura” da Zona do Euro, como Áustria, Finlândia, assim como a não integrante da Zona do Euro Suécia.

Obviamente, ninguém do específico front referiu-se ao eurobônus como “presente” da Europa aos países com problemas de endividamento nos mercados. A exemplo da Alemanha, também os países da Europa Central e da Europa do Norte propõem uma solução assim, somente desde que a Zona do Euro seja transformada em um clube de economias com medidas fiscais “draconianas” e severo âmbito regulador que permitirá a supervisão dos membros indisciplinados e sua expulsão da União Monetária.

A ministra das Finanças da Áustria, Maria Fekter, declarou após encontro com seus 17 colegas da Zona do Euro que “poderia olhar a emissão do eurobônus de médio prazo e, até de longo prazo, como viável medida, porém, após a indispensável expressão de disciplina fiscal”.

A ministra acrescentou que, “meu país não apoia a emissão de debênture comum nesta fase, mas, posicionou-se a favor de aumento da pressão sobre os países “desordeiros” do ponto de vista fiscal”. Aliás, Fekter invocou o “clássico” argumento alemão de que, “o governo de Viena não pode convencer seus eleitores para a Áustria garantir as dívidas de outros países sem antes ter controle absoluto sobre as questões fiscais desses países”.

Com o mesmo tom ofereceu-se para ser entrevistada, Yiuta Urpilainen, colega da Fekter, ministra das Finanças da Finlândia, que declarou: “Se não existe outra solução sobre a mesa para ser enfrentada a crise, então, deveria, realmente, ser fortalecido o papel do BCE”, e deixou bem claro que “seria preferível fortalecer o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI)”.

Gendarme

Defensor empedernido da intervenção do Fundo em território europeu surgiu também o ministro das Finanças da Suécia, Anders Borg, declarando que “o FMI dispõe não só dos recursos necessários (para fortalecer as economias européias anêmicas) mas também da capacidade de supervisão (dos países indisciplinados)”.

Pelas declarações dos representantes dos países que cerram fileiras com as percepções alemãs sobre disciplina fiscal na Zona do Euro, é possível chegar a duas conclusões. Primeiro, que o eurobônus não é mais um tabu, mas discutido abertamente nos fechados encontros (binacionais ou não) das autoridades européias.

Mas a segunda conclusão é que uma proposta desta espécie examina-se somente como solução de último caso e, seguramente, sob a condição de que será antecipada a reforma (ampla, parcial, com aprovação dos parlamentos nacionais ou não) das condições européias em direção a um âmbito fiscal mais severo.

A Europa, como declarou, caracteristicamente, o ministro sueco, prefere a intervenção do FMI (por ordem e conta do BCE) não só porque dispõe de capitais, mas, também, porque é (ou parece ser) mais capaz do que os órgãos institucionais europeus para impor de qualquer forma as medidas mais severas.

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Fonte: Monitor Mercantil